Motoristas da STCP recusam trabalho extraordinário por uma semana

Entre a próxima segunda-feira e domingo, cerca de 200 serviços poderão não se realizar, calculam os sindicatos. Empresa assegura que o impacto será menor

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A falta de motoristas já tem deixado muitos autocarros da STCP parados nas estações de recolha JOÃO GUILHERME

Os motoristas da STCP não deverão realizar horas extraordinárias a partir da próxima segunda-feira, e até domingo. Esta foi a forma de protesto encontrada pelas organizações de trabalhadores da transportadora que vêm há quase dois anos denunciando a falta de motoristas – admitida pela administração – e a sobrecarga de trabalho que esse problema acarreta. Quase duas centenas de serviços diários poderão ser afectados, segundo as contas da CT, que não batem certo com a expectativa da administração.

Fonte da empresa não precisou o número de serviços que poderão ser afectados por esta posição dos motoristas, até porque a transportadora espera que nem todos adiram ao protesto. Mas garante desde já que serão menos do que os indicados pela CT.

Segundo os representantes dos trabalhadores, a STCP já recorreu este ano a 70 mil horas de trabalho extraordinário para colmatar a falta de cerca de uma centena de motoristas no quadro. O Governo, através do Ministério das finanças tem recusado a contratação de novos profissionais, e, depois de não terem tido resposta a um pedido de reunião com a tutela, o Ministério da Economia, os trabalhadores decidiram protestar desta forma, dando assim ainda mais visibilidade ao problema, explicou ao PÚBLICO o seu porta-voz, Pedro Silva. Que não põe de parte o recurso à greve, caso a situação não se altere.

Mesmo com o expediente das horas extra, a STCP tem falhado milhares de serviços. Pedro Silva refere que, só em Setembro, foram 1300 viagens canceladas, o que redundou num aumento dos tempos de espera, e das reclamações, que subiram 500%. Os motoristas estão extenuados, “os clientes discutem com eles quase todos os dias, e percebe-se porquê, se estão às vezes uma hora à espera de autocarros cuja frequência seria de dez minutos” refere, lamentando que uma empresa certificada, que tinha taxas de cumprimento de serviço na ordem dos 98, 99%, esteja agora a cumprir “cerca de 90%” do programado.

Acusados pelo Governo de prejudicarem as contas da empresa e afastarem clientes com o excessivo recurso à greve, os trabalhadores acusam o executivo de, ao impedir a empresa de cumprir os serviços programados, ter sido responsável pelo equivalente a cinco dias de paralisação, só este ano. E denunciam uma estratégia que passa, na sua perspectiva, pela deterioração da imagem do Estado como entidade capaz de gerir bem esta empresa para, desta forma, justificar a concessão do serviço a privados.

O concurso para a subconcessão da STCP, que está a decorrer, prevê que o sub-concessionário mantenha a rede actual, o que para os trabalhadores significa que terá mesmo de ser feita a contratação de mais motoristas, a menos que o Estado admita a sub-contratação desse serviço a outras empresas, o que não está previsto no caderno de encargos, que está a ser reformulado. Em todo o caso, mesmo que sejam contratados mais profissionais, a questão que se coloca é as condições de remuneração deles. “Serão precários, com certeza”, antecipa Pedro Silva.

Actualmente, o problema é outro. “Diariamente, a STCP socorre-se de dezenas de motoristas para a realização de trabalho extraordinário no sentido de atenuar o incumprimento generalizado dos horários previstos, sobrecarregando os motoristas com horas excessivas de condução e de duração absolutamente ilegal. Com efeito, os motoristas da STCP realizam, não raras vezes, 14 a 16 horas diárias, pondo em causa não só a sua saúde, as suas relações familiares, mas também a segurança dos passageiros que transportam”, denuncia a CT.

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