Moradores do Parque das Nações preocupados com a manutenção do espaço público

Estudo que faz o Diagnóstico Social desta freguesia de Lisboa revela algumas surpresas: poucos são os moradores preocupados com a falta de escolas e de um centro de saúde, embora estas sejam grandes preocupações do executivo autárquico..

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Freguesia do Parque das Nações foi oficialmente constituída a 13 de Novembro de 2012 Filipe Arruda/arquivo

A manutenção do espaço público no Parque das Nações, em Lisboa, é a principal preocupação apontada por quem lá mora. Esta é uma das conclusões do Diagnóstico Social encomendado pela junta de freguesia, mas há outras mais surpreendentes. Afinal, a falta de estabelecimentos de ensino e de um centro de saúde, pelos quais o executivo se bate desde que tomou posse, é o que menos preocupa os residentes.

O estudo, realizado por investigadores da Universidade Lusófona, tinha como objectivo traçar uma espécie de "bilhete de identidade" daquela que é a freguesia mais jovem do país. Apesar de ter nascido com a Expo 98, o Parque das Nações só se tornou freguesia a 13 de Novembro de 2012, agregando parte da antiga freguesia de Santa Maria dos Olivais, do concelho de Lisboa, e parte das freguesias de Moscavide e Sacavém, ambas de Loures. 

Da junção destes territórios heterogéneos resultou uma freguesia com "algumas assimetrias" e com "duas realidades sociais distintas", conclui o documento, que será apresentado publicamente nesta quinta-feira às 17h30, no Pavilhão do Conhecimento.

A zona poente (que engloba o Bairro Casal dos Machados, Bairro do Oriente, Quinta das Laranjeiras, Estrada de Moscavide e Bairro da Centieira) é a que apresenta mais fragilidades, até porque algumas dessas áreas são ocupadas por habitação social. Por exemplo, é ali que "mais frequentemente se ouve ou presencia actos de violência". A taxa de desemprego – que numa visão geral da freguesia se fica pelos 6,6% - chega aos 13,1% (valor muito próximo da média nacional) na zona poente, onde o rendimento médio mensal é "bastante mais baixo" do que nas zonas norte e sul.

A referência à manutenção do espaço público como principal preocupação dos residentes era “expectável”, diz o presidente da junta, José Moreno. Com a extinção da Parque Expo, empresa que geria parte da actual freguesia, os espaços verdes e o mobiliário urbano foram-se degradando, obrigando a Câmara de Lisboa (numa primeira fase) e a própria junta a intervirem. “O nosso espaço público tem um padrão de qualidade superio, em relação à generalidade da cidade, que importa preservar, senão as pessoas vão sentir a desvalorização do seu património”, defende o autarca eleito numa lista independente, entretanto aliado ao PS.

No que diz respeito à saúde, o Diagnóstico Social revela que 52,9% dos inquiridos usam sistemas privados, enquanto 43,2% recorrem ao público. Cerca de 40% dos moradores estão inscritos no centro de saúde dos Olivais, 18,5% frequentam o centro de Moscavide e 17,6% não estão inscritos em nenhum centro. Na freguesia não existe qualquer centro de saúde, apesar de ele estar previsto há vários anos e já haver terreno e projecto para o construir. Esta é, de resto, uma das principais lutas do executivo que tomou posse nas últimas autárquicas. No entanto, apenas 2,9% dos inquiridos se mostraram preocupados com a situação.

“De algum modo foi uma surpresa”, admite José Moreno, comentando também o facto de apenas 3% dos inquiridos considerar preocupante a falta de estabelecimentos de ensino. Há vários anos, mesmo antes da criação da freguesia, que Moreno (um dos primeiros residentes do Parque das Nações) e outros moradores exigem a construção da segunda fase da Escola Básica do Parque das Nações, já prevista no Governo de Sócrates.

Perante estes resultados, os autores do estudo alertam para a "necessidade de gerir percepções nos residentes que, por vezes, não correspondem à realidade", sobretudo nas áreas da educação, saúde e segurança.

Lembrando que os inquéritos “têm sempre uma margem de erro” e que “há problemas que as pessoas não gostam de expor”, Moreno sublinha que o diagnóstico “mais importante” é feito pelas equipas de acção social da junta. “São elas que mais se apercebem dos problemas”, afirma, apontando o elevado número de crianças que não têm lugar nas escolas existentes e garantindo que vai continuar a lutar por aqueles equipamentos.

O autarca sublinha que o estudo agora apresentado vai ajudar a junta a “definir prioridades”. “Até aqui trabalhávamos mais com base em suposições, agora ficamos mais habilitados a definir a nossa estratégia e o nosso trabalho”, remata.

Mais novos e mais qualificados

Os autores do estudo entrevistaram 2229 moradores com mais de 18 anos, entre Maio e Junho deste ano. A freguesia tem cerca de 18.700 habitantes, pelo que a amostra corresponde a 12% da população ali residente. O inquérito focava 12 dimensões: caracterização sociodemográfica, educação, formação, emprego, rendimento, equipamentos domésticos, associativismo ou voluntariado, segurança, mobilidade, e saúde.

O estudo permite concluir que os residentes são, em termos gerais, mais jovens e mais qualificados do que a média do país. A percentagem de habitantes com mais de 65 anos é de 16,5% (inferior à media nacional, que ronda os 20%). No que diz respeito à escolaridade, 38% dos habitantes da freguesia têm uma licenciatura e apenas 2,5% não concluíram a escolaridade obrigatória (a média nacional é de 8,9%). Mais de 50% da população trabalha a tempo inteiro e a grande maioria trabalha por conta de outrem (80%), em profissões intelectuais e científicas, ou nos quadros superiores dos sectores público ou privado.

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