Autarca de Matosinhos quer contratar urbanista “de renome” para pensar futuro do Parque de Real

Depósitos de combustíveis da Galp já começaram a ser desmantelados, mas o autarca Guilherme Pinto admite que o futuro do espaço seja decido pelo próximo executivo.

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A Galp vai desmantelar em Real cerca 1200 toneladas de aço carbono e dez toneladas de cablagem eléctrica. Fernando Veludo/Nfactos

O presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, garante que sabe o que quer para os 17 hectares do Parque de Real. Mas no dia em que visitou os trabalhos de desmantelamento dos depósitos de combustíveis da Galp Energia, o autarca assumiu que as decisões sobre o que vai acontecer nesta enorme área de Matosinhos-Sul vão ser tomadas pelo próximo executivo, depois de retiradas as estruturas da BP e da Repsol. Em todo o caso, pretende contratar um “urbanista de renome” que pense uma solução para este território.

O que Guilherme Pinto gostaria de ver ali descreve-se em poucas palavras, mas demorará anos a concretizar-se. O autarca gostaria de ter no local uma grande praça, habitação e escritórios e, principalmente, espaço para a instalação de empresas de tecnologias limpas, e inovadoras, cercadas por um parque verde que fizesse a ligação entre o já existente parque de Real, a norte, e o Parque da Cidade do Porto, localizado a sul e separado de toda esta área pela movimentada Estrada da Circunvalação.  

Ciente de que, daqui a dois anos, terminado o processo de desmantelamento dos depósitos e de limpeza dos terrenos, nada poderá decidir, em fim de mandato, o presidente da Câmara de Matosinhos promete pôr à discussão das entidades envolvidas – a câmara e as petrolíferas que ali têm direitos de construção – e dos cidadãos, um projecto para toda a área. E esta segunda-feira, numa visita aos trabalhos nas instalações da Galp, convidou o vice-presidente da empresa, Luís Palha da Silva, a sentar-se para escolher um “urbanista” capaz de apresentar uma solução que “valorize” o espaço.

O Plano de Urbanização de Matosinhos-Sul prevê para ali a construção de 160 mil metros quadrados numa área de quase três dos 17 hectares. No âmbito de um acordo entre a câmara e as petrolíferas, que ainda terá de ser ratificado pela assembleia municipal, a autarquia admite ficar com cerca de metade dessa área urbanizável como pagamento de parte de uma dívida destas empresas que vinha reclamando em tribunal. Fruto do acordo, os processos foram extintos e deu-se início ao desmantelamento dos depósitos de armazenamento dos combustíveis, operação obrigatória, tendo em conta que em 2015 termina a licença estatal que permitia o uso do espaço com esta finalidade.

O vice-presidente da Galp por seu turno, garantiu que o grupo não sai de Real “empurrado”. Palha da Silva admitiu até que gostaria de ter começado mais cedo a operação de retirada dos depósitos, tarefa que demorará mais três ou quatro meses e que a empresa só conseguiu iniciar depois de ter passado para outras instalações – a maioria delas na refinaria de Leça da Palmeira – as actividades que ali desenvolvia. A Galp ocupa esta área há 50 anos, mas o Plano Director Municipal de Matosinhos apontava, desde 1992, para uma incompatibilidade entre este uso do espaço – onde nunca houve um acidente, assinalaram ambos – e as habitações que foram sendo aprovadas e construídas à volta.

Segundo a Galp, a obra que está em curso no Parque do Real visa "o desmantelamento das instalações mecânicas e eléctricas dos tanques, tubagens, serviço incêndios, equipamento mecânico e rede de distribuição de electricidade e dados. Está prevista a remoção de cerca de 1200 toneladas de aço carbono e dez toneladas de cablagem eléctrica. Os resíduos resultantes são encaminhados para reciclagem em siderurgia", explica a empresa garantindo que “os equipamentos a desmantelar que contiveram hidrocarbonetos, tais como tanques e tubagem, depois de removido o produto, são lavados para remoção de todos os resíduos; as águas de lavagem são tratadas e encaminhadas para destino autorizado”.

No fim-de-semana, a concelhia local do PSD pediu aos ministérios do Ambiente e da Saúde que acompanhem de perto este processo, denunciando uma “fraqueza” da autarquia perante os interesses das petrolíferas. Para além dos aspectos do negócio, que denunciaram à Procuradoria-Geral da República, os sociais-democratas temem que os terrenos sejam entregues sem a obrigatória descontaminação e querem que os pipelines que ligam as instalações do parque ao porto de Leixões sejam retirados agora. A Câmara de Matosinhos contratou uma empresa, a EQS, para definir o destino a dar às tubagens e, como solução preliminar, admite que estas sejam inertizadas, retirando-as, a expensas das empresas, quando houver obras nas ruas.  

Oposição quer parque verde
O PSD de Matosinhos pretende que o espaço onde hoje estão os depósitos de combustível de Real seja transformado num contínuo do Parque da Cidade do Porto, sem construção de mais habitação. O vereador da CDU na autarquia, a quem Guilherme Pinto entregou o pelouro da mobilidade, continua a criticar o acordo feito entre a câmara e as gasolineiras mas considera que “no momento em que se prepara uma intervenção urbanística desta importância, é fundamental tirar as ilações do que correu mal em Matosinhos-Sul, nomeadamente com a 'monocultura da habitação', evitando a repetição de erros do passado”.

Tal como Guilherme Pinto, a CDU espera que parte da área de construção seja reservada para investimentos estratégicos nas áreas de investigação e desenvolvimento tecnológico, criando em volta do Centro de Engenharia Aeronáutica que o CEIIA ali construiu, um parque empresarial de última geração. Algo que, para José Pedro Rodrigues, não impede o projecto de ligação entre ium novo parque verde e o Parque da Cidade desenhado por Sidónio Pardal a sul da Circunvalação.   

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