Limpeza de ficheiros dá médico de família a 300 mil utentes só em Lisboa

Ministério da Saúde enviou milhares de cartas a utentes de todo o país que estiveram três anos sem ir ao centro de saúde. Já há resultados para a região de Lisboa.

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No final de 2011, cerca de 1,2 milhões de inscritos em Lisboa e Vale do Tejo não tinham médico de família Enric Vives-Rubio

Cerca de 300 mil utentes dos centros de saúde da região de Lisboa e Vale do Tejo vão passar a dispor de médico de família já nas próximas semanas. A garantia foi dada ontem ao PÚBLICO pelo presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), à margem da cerimónia de inauguração das novas instalações da Unidade de Saúde de Alhandra.

Luís Cunha Ribeiro observou que o processo de actualização de ficheiros nos serviços de saúde da região entra, agora, na recta final e revelou que poderá implicar a mudança de alguns médicos de unidades com um número inferior de utentes inscritos para reforçarem centros de saúde mais desfalcados. O mesmo processo está em curso a nível nacional, embora ainda não haja resultados finais para as restantes administrações regionais de Saúde do país.    

De acordo com o responsável da ARSLVT, para que o processo fique concluído na região de Lisboa falta apenas reenviar cartas para casa de cerca de 40 mil inscritos que não frequentam o respectivo centro de saúde há mais de três anos e que tinham moradas erradas nos serviços. Essas pessoas terão mais 90 dias para responderem se ainda residem na área em causa e pretendem manter a inscrição.

“Não vamos conseguir dar médico de família a todos, a 100%, mas vai ser um avanço brutal. Dentro de três semanas teremos os números finais e dentro de um mês, aproximadamente, estaremos aptos para dar médico de família a mais de 300 mil pessoas”, sublinhou, em declarações ao PÚBLICO.

No final de 2011, cerca de 1,2 milhões de pessoas inscritas na área da ARSLVT não tinham médico de família. Esse número tem vindo a ser progressivamente reduzido desde então e mais ainda ficará com o processo de limpeza de ficheiros que visou, fundamentalmente, retirar nomes de pessoas que já faleceram, de pessoas que estão emigradas noutros países, de pessoas que estavam inscritas em dois ou três centros de saúde ao mesmo tempo ou de pessoas que, “voluntariamente, decidiram que não querem estar inscritas”, porque recorrem a serviços privados ou por qualquer outro motivo.

Mas Cunha Ribeiro garante que não serão levantados “obstáculos” ao atendimento de pessoas que, por qualquer razão, não fiquem agora oficialmente inscritas. “Se alguém dos que não estiverem registados quiser ir a um centro de saúde, automaticamente é activada a sua inscrição. Não se está a tirar nada a ninguém”, assegura.

O objectivo principal deste processo, iniciado há cerca de três meses a nível nacional, é adequar mais os ficheiros de utentes de cada médico à realidade actual, permitindo fazer, agora, uma reorganização que reduzirá o número de utentes sem médico. A ARSLVT já tem listagens destas pessoas e do número actual de utentes por cada médico e vai proceder aos ajustes necessários para que cada clínico fique com cerca de 1550 utentes efectivamente inscritos.

Essa operação poderá, nalguns casos, obrigar à mudança de médicos para outras unidades de saúde. “Nós, médicos, só existimos para tratar doentes. Se não houver doentes, os médicos têm que ir para sítios onde haja doentes — parece-me que isso é de senso comum. É óbvio que isso pode acontecer. Nós, contribuintes, não podemos estar a pagar, nem os médicos quereriam, porque os meus colegas sentir-se-iam mal, se estivessem num sítio onde não tivessem doentes”, sustenta Cunha Ribeiro.

Quanto à possibilidade de virem a ser encerradas extensões de saúde com um número baixo de utentes inscritos, o presidente da ARSLVT garante que, a acontecer, essas desactivações ocorrerão sempre em grandes núcleos urbanos, onde a população tem alternativas de cuidados de saúde primários mais próximas.

 

 
 
 

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