Libório, o porco preto, é a figura do momento em Braga

Recuperação de corrida medieval das festas de S. João está a motivar debate na cidade, com uma petição online a exigir o seu cancelamento. Organização garante que o animal não será maltratado.

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Autarquia estima que existam actualmente dois mil animais nas suiniculturas do concelho Daniel Rocha

Libório é um porco preto. Nos últimos dias, são raras as pessoas que não falam dele em Braga. No próximo dia 20 de Junho, o bicho vai correr 500 metros numa rua da cidade, recriando uma tradição medieval que a organização do S. João bracarense quis agora recuperar. Os defensores dos direitos dos animais não aceitam a sua utilização num espetáculo de entretenimento. A organização garante que o animal não será maltratado durante o evento.

De sexta-feira a duas semanas, o porco Libório vai correr entre o largo Paulo Orósio, junto ao quartel dos Bombeiros Voluntários, e o sopé da colina da Cividade, próximo do Museu D. Diogo de Sousa. No final do percurso, haverá uma bifurcação, onde estarão dois grupos de estudantes da Universidade do Minho a tentar “convencer” o animal a seguir o caminho indicado. Ninguém está autorizado a tocar-lhe e o percurso será curto e estará vedado. No entanto, a corrida será feita numa rua íngreme e com piso empedrado, motivo pelo qual um grupo de cidadãos de Braga teme que possa “haver algum tipo de acidente” com o animal.

“Toda e qualquer utilização de animais para entretenimento humano é condenável”, defende também Rui Barbosa, porta-voz do grupo que, na semana passada, poucas horas depois da apresentação do programa das festas de S. João deste ano, lançou uma petição online, contestando a realização do evento.

O texto reuniu 3000 assinaturas nos primeiros três dias em que esteve online e neste momento já ultrapassou os 3500 subscritores. No Facebook, o grupo Contra a Corrida do Porco Preto tem quase 3000 seguidores e tornou-se o fórum onde são expostos os argumentos de um e outro lado desta contenda. Defensores dos direitos dos animais contestam a recuperação de uma tradição da Idade Média. Quem apoia a corrida, garante que o porco Libório não sofrerá qualquer tipo de dano durante o evento.

É isso também que assegura Rui Ferreira, que este ano preside pela primeira vez à comissão de festas do S. João de Braga. “Nunca validaria o que quer que fosse que pusesse em causa os animais”, afirma, assegurando que é contrário, por exemplo, à realização de touradas.

O organização quer recuperar a força da mais antiga festa popular nacional e por isso decidiu recuperar alguns números históricos como o cortejo medieval, que recuperará alguns quadros da época, e que vai anteceder a corrida. Os dois momentos estavam intimamente ligados na história das festas bracarenses e eram o elemento central do S. João nos séculos XVI e XVII. Na altura, a corrida opunha moleiros e sapateiros que perseguiam o animal entre o monte Picoto e a ponte sobre o Rio Este. De resto, a sua realização terá estado associada à construção da capela de S. João, no Parque da Ponte, um dos epicentros da festa actualmente. É esse legado histórico que a organização quer sublinhar com esta recuperação.

Apesar da contestação, o movimento que critica a recuperação desta tradição garante que não se vai manifestar no dia da realização da corrida, caso esta venha a acontecer. “Se o fizéssemos, mancharíamos o S. João e as festas são demasiado valiosas para que isso aconteça”, defende Rui Barbosa.

Já o porco Libório, enquanto não é colocado dentro de uma carrinha de transporte a caminho do local da largada, continua a sua vida sossegada numa quinta do concelho vizinho de Vila Verde, onde, desde o Outono passado, está a ser preparado para a corrida em Braga.

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