Jantares-surpresa para uma sociedade secreta de “ocupas”

Empresa dinamarquesa organiza na próxima semana quatro "jantares-guerrilha" em Lisboa e no Porto, com um tema que remete para os prédios devolutos nas cidades. A surpresa é o ingrediente principal.

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Jantares acontecem em locais improváveis, como parques de estacionamento subterrâneos DR

Jantar fora sem saber onde, nem com quem, nem o que se vai comer. A surpresa é o principal ingrediente dos “jantares-guerrilha” organizados pela Silver Spoon, uma empresa dinamarquesa que se define como uma “agência de experiências gastronómicas”, porque mais do que fazer refeições quer contar histórias à mesa. E as próximas são sobre os prédios devolutos de Lisboa e do Porto.

O projecto nasceu há cinco anos quando a norte-americana Tiffany Ng foi estudar para Copenhaga, capital da Dinamarca, e sentiu falta dos jantares fora de casa. “Em Copenhaga é tudo muito caro e comer fora não é excepção”, observa. Começou por organizar jantares com diferentes temas, chefs e menus, a um preço acessível para jovens trabalhadores ou estudantes. Foi assim que nasceram os guerrilla dinning. Mas o conceito foi-se tornando cada vez mais elaborado e ambicioso.

Hoje, cada jantar é como uma instalação artística. “Queremos mudar a percepção das pessoas sobre o que deve ser uma refeição”, diz Tiffany Ng. O objectivo é pôr as pessoas a discutir um assunto – é esse assunto que dita o espaço onde decorrem os jantares, que por sua vez limita o número de “clientes” admitidos. Na Dinamarca e nos Estados Unidos, a iniciativa já ocupou uma igreja, um antigo bunker de guerra, uma garagem subterrânea, uma rua, um café, um museu e até uma livraria.

Em Portugal, a estreia aconteceu em Janeiro, depois de uma passagem de Tiffany Ng por Lisboa, onde deu uma formação sobre empreendedorismo na Universidade Nova. A Silver Spoon foi o caso de estudo nas aulas. Após um contacto com Miguel Júdice, dono do restaurante Eleven (que se tornou parceiro do projecto), foram organizados dois jantares experimentais sob o tema Under the deep sea, cujo palco foi a estação de metro do Terreiro do Paço, em Lisboa. Desta vez, todos os comensais foram convidados. "Seleccionámos os membros para criar a comunidade", diz a responsável.

Os próximos jantares estão marcados para a próxima terça e quarta-feira na capital e para sexta e sábado no Porto. A participação continua a ser por convite mas há um número limitado de lugares para novos membros desta "sociedade secreta", que podem inscrever-se até segunda-feira na página de Internet da empresa e esperar para ver se foram seleccionados. "Fazemos uma espécie de lotaria", explica Tiffany Ng. O local do repasto só é revelado 24 horas antes, mas o tema – Squatting (Ocupas, em inglês) – e o menu já dão pistas. O nome dos pratos é sugestivo: urban fishing for snacks, missing payments, out of gas, no electricity, broken e stolen sweets. Cada refeição custa 80 euros por pessoa, com bebidas incluídas.

"De todas as vezes que estive em Portugal, em Lisboa e no Porto, reparei que há muitos edifícios fantásticos nestas cidades, mas muitos estão devolutos, abandonados", afirma Tiffany Ng. "Os portugueses esqueceram alguns destes prédios, não se fala nisto, e nós queremos que o tema regresse às conversas", continua. Toda a experiência está baseada no conceito dos "ocupas", pessoas que se introduzem em edifícios abandonados, à revelia dos respectivos donos. Só que na iniciativa da Silver Spoon, os proprietários dos locais escolhidos foram informados e até estão convidados para jantar.

A empresa pondera também alargar os eventos ao Algarve e juntar aos guerrilla dining os jantares wine&grub. "São eventos mais simples e num ambiente mais relaxado, uma espécie de jantar caseiro, mais íntimo e relacionado com o vinho", explica Tiffany Ng. A Silver Spoon também organiza eventos pedidos clientes particulares, como empresas, desde que sirvam para contar histórias. "Oferecemos uma experiência em torno da comida e não só. Temos uma equipa que produz música para cada evento e artistas que criam experiências visuais e interactivas à medida de cada jantar", conclui a directora da empresa.

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