Assaltantes levaram cilindros e torneiras antes de incendiarem armazéns em Gaia

Primeiras perícias da PJ confirmam origem criminosa. Industriais reclamam mais policiamento. Autarquia convoca conselho municipal de segurança.

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Incêndio teve início num armazém que estava vazio Ricardo Castelo/NFACTOS
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Pelo menos quatro armazéns ficaram destruidos Ricardo Castelo/NFACTOS

Antes de desencadearem o incêndio que no domingo à noite destruiu quatro armazéns, na zona Industrial de Serzedo, Gaia, os assaltantes levaram as torneiras, os cilindros e os chuveiros das casas de banho do pavilhão onde o fogo começou. “Ontem [anteontem] nem consegui ver com o fumo, mas hoje [ontem] de voltei lá e percebi. Levaram dois cilindros, que têm cobre, dez torneiras e os telefones dos chuveiros. Só depois é que incendiaram a carrinha que lá estava. Foi um assalto”, disse ao PÚBLICO, José Carvalho, administrador da Biseladora do Norte, que já ali funcionou.

O armazém, na rua do Caminho do Senhor, estava vazio desde 2005. “Não tinha electricidade, por isso não poderia ter sido um curto-circuito”, insiste José. Fonte da PJ confirmou ao PÚBLICO que as primeiras peritagens indicam que a origem do incêndio terá sido criminosa, embora ainda faltem algumas diligências para que se confirme a tese sem que restem dúvidas. Os inspectores estiveram ontem de manhã no local e voltarão hoje para mais perícias.

No local, o presidente da Câmara de Gaia (CMG), Eduardo Vítor Rodrigues, lamentou os contornos semelhantes ao incêndio que destruiu a Conforama no mesmo município. Os três suspeitos desse fogo foram entretanto detidos e estão em prisão preventiva, não havendo ligação, segundo a PJ, com este incêndio em Serzedo. “Neste caso estamos a falar em mais de 60 postos de trabalho, mas que garantiram que irão ser mantidos. A CMG irá ajudar também com as isenções de taxas de licenciamento”, disse Vítor Rodrigues.

Os assaltantes terão entrado pelas traseiras através da quebra de um vidro e do corte de uma barra de protecção de uma das janelas. Terão, porém, ficado surpreendidos quando perceberam que o armazém estava vazio. Para além do material roubado, restava apenas uma carrinha funerária que incendiaram perto das 19h. As chamas passaram depois para o telhado dos outros armazéns contíguos, alastrando o fogo. 

“A carrinha tinha acabado de ser transformada. Era para entregar ao cliente. Não tinha bateria. São 35 mil euros de prejuízo”, disse ao PÚBLICO o proprietário da empresa de transformação de carrocerias, António Salgueiro. Já José Carvalho estima o prejuízo em mais de 300 mil euros. “Já accionamos o seguro”, lamentou.

O incêndio consumiu os armazéns de rolos de papel e material têxtil durante várias horas. Pelas 01h00 já estava dominado, mas alguns focos de incêndio nas traseiras impediam a sua extinção total.

“Quando cá chegámos tratámos logo de extinguir o incêndio que estava a lavrar no primeiro armazém onde estava a tal carrinha. Pensámos, nessa altura, que estava tudo bem até que nos apercebemos que as chamas já tinham passado para os outros complexos através da cobertura que ficou toda tomada”, explicou o comandante da Companhia de Sapadores Bombeiros de Gaia (CSB), Salvador Almeida. Mais de 50 bombeiros e 16 viaturas de combate a incêndios fizeram parte do dispositivo.

Na zona, populares e proprietários de armazéns avançaram, ainda o fogo lavrava, com a suspeita de teria sido resultante de um assalto. “Há assaltos aqui todas as semanas. À noite e ao fim-de-semana isto parece um deserto. Ninguém cá está e não há patrulhamento. A polícia não passa aqui”, lamentou ao PÚBLICO, Carlos Silva, sócio da empresa Cosmoflow cujo armazém também já fui assaltado.

Vítor Rodrigues adiantou que vai reunir o conselho municipal de segurança – onde tem assento a PSP e a GNR - em Abril para debater soluções para um problema “que já começa a causar pânico social” e que “deriva da dinâmica social que está a ser imposta no país”.
 

 


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