Igreja e Torre dos Clérigos preparados para incremento de visitantes

Templo, que foi ontem reinaugurado, teve um aumento de visitas superior a 20% no Verão passado.

Fotogaleria
Ricardo Castelo/NFactos
Fotogaleria
Ricardo Castelo/NFactos
Fotogaleria
Ricardo Castelo/NFactos

Às quatro da magrugada de sexta-feira, o padre Américo Aguiar rezava a todos os santos para que as dezenas de trabalhadores que ainda permaneciam na Igreja dos Clérigos conseguissem terminar a obra de reabilitação do templo a tempo da missa solene de reinauguração, prevista para o meio-dia. O cheiro intenso a tinta e pormenores por acabar, aqui e ali, não impediram que o prazo se cumprisse e, como anunciado há dez meses, a irmandade a que preside “devolveu à cidade o seu ex-libris” e um dos motores da atracção turística do Porto.

A igreja fora consagrada à mesma hora, há 235 anos, na presença do seu arquitecto, o italiano Nicolau Nasoni, mas, segundo Américo Aguiar, rezam os livros que os organeiros enganaram a irmandade, que acabou por ter de alugar uma sanfona para a festa. Desta vez a equipa espanhola que tratou dos órgãos foi bem mais competente e, com o apoio da Associação Comercial do Porto, durante algum tempo a igreja será palco de concertos diários de órgãos de tubos, ao meio-dia, tornando-se casa de culto e de cultura, como pretende o juiz-presidente da irmandade. Que revelou dados do Verão, dando conta de um aumento de mais de 20% no número de visitantes, em relação ao ano anterior.

Américo Aguiar, que esta sexta-feira completava 41 anos, emocionou-se em vários momentos, ao longo de um dia intenso. Desde logo na missa solene, quando evocou o ex-presidente da Comissão de Coordenação da Região Norte, Duarte Nuno Vieira, que aprovou o apoio dos fundos regionais para esta empreitada de 2,6 milhões de euros e que foi entronizado membro adoptivo da Irmandade dos Clérigos, a título póstumo. O arquitecto João Carlos dos Santos, um “Nicolau Nasoni do século XXI”, passou a ser também irmão, como o italiano e autor do projecto do mais famoso monumento portuense. “Só não lhe prometo que lhe arranjo cá sepultura”, assinalou Américo Aguiar, que nesta obra teve a felicidade de ver descobertos restos mortais numa cripta, entre os quais estarão, presume-se, os de Nasoni. A ciência o dirá.

Outros envolvidos no processo, como o actual presidente da CCDR, Emídio Gomes, o actual e anterior directores regionais de Cultura (Paula Silva e António Ponte), os secretários de Estado da Cultura e do Desenvolvimento Regional (Barreto Xavier e Castro Almeida), e o primeiro-ministro, em nome do Governo Português, foram agraciados da mesma forma como agradecimento pela colaboração para um projecto que, do ponto de vista burocrático, Américo Aguiar descreveu como um “simplex” de boas vontades. Que foram também elogiadas  pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que destacou o cumprimento de prazos e orçamentos na empreitada.

Depois de uma visita rápida às várias dependências museológicas agora instaladas no templo, o primeiro-ministro teve na Igreja um momento mais calmo, num dia que começou com o debate quinzenal, na Assembleia da República, e incluiu, à chegada aos Clérigos, a habitual manifestação anti-governamental, com um novo slogan, neste pós-detenção de José Sócrates: “Vai p’ra Évora, vai p’ra Évora, que não ficas sozinho”. Lá dentro, o melómano e barítono Pedro Passos Coelho pode escutar o primeiro concerto de órgãos de tubos desta igreja, após anos de silenciamento destes instrumentos, e o coro da Irmandadade da Lapa, a interpretar, entre outros temas, o Aleluia do norte-americano Eric Whitacre, composição que demonstrou a excelente acústica da abóbada desenhada por Nasoni no século XVIII.

Sugerir correcção
Comentar