Ideia de coimas para quem catar lixo não é consensual entre empresas de resíduos

Director-geral da Braval, que opera no distrito de Braga, causou indignação nas redes sociais ao pedir a punição de quem rouba lixo.

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Quantidade de lixo reciclável recolhido pelas empresas multimunicipais tem vindo a diminuir Pedro Cunha

A introdução de coimas para punir quem retira resíduos dos contentores de lixo sem estar licenciado para tal, proposta anteontem pelo director-geral da Braval, não merece o apoio de outras empresas multimunicipais contactadas pelo PÚBLICO que asseguram a recolha e tratamento de resíduos no Grande Porto e Região Centro.

Na quarta-feira, Pedro Machado defendeu que o roubo de lixo "é crime" e está a prejudicar a Braval, empresa que serve Braga e outros concelhos do distrito, e que as coimas teriam um efeito dissuasor. Mas os administradores da Lipor (Grande Porto), Fernando Leite, e da Empresa de Resíduos Sólidos Urbanos do Centro (ERSUC), sediada em Coimbra, Alberto Machado, discordam da medida proposta, defendendo que a fiscalização deve ser direccionada para os operadores.

"Este mercado está devida e suficientemente regulamentado", defende Alberto Santos, para quem seria preferível que a actuação fosse feita "junto dos operadores de transformação de papel". Também Fernando Leite não crê que as coimas resolvam a situação, recordando que a prática de retirar vários tipos de resíduos dos contentores ressurgiu nos últimos anos devido à crise económica. "O que importa é garantir que estas actividades não estejam a alimentar uma economia paralela", afirma, defendendo também maior fiscalização junto dos operadores.

Os dois responsáveis não negam, porém, que existe um problema no mercado dos resíduos, sobretudo no do papel e cartão. Na Lipor, a recolha no ecoponto azul caiu 10% e nos 36 municípios servidos pela ERSUC, em três anos, os resultados desceram de 12.900 para pouco menos de 10 mil toneladas. "Temos conhecimento de que há catadores de papel, sobretudo nas zonas urbanas, e já demos conta disso à Câmara do Porto", conta o responsável da Lipor.

Há um ano, o PÚBLICO noticiava (ver notícia aqui) que a Polícia Municipal de Lisboa já tinha autuado oito catadores por exercerem uma actividade proibida pelo regulamento municipal de gestão de resíduos sólidos urbanos. Em 2011, os serviços municipais da capital recolheram menos 12% de papel e cartão do que no ano anterior.

Ontem não foi possível contactar com o director da empresa intermunicipal que serve os concelhos de Amares, Braga, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho e Vila Verde. A posição de Pedro Machado causou indignação nas redes sociais, com muitos internautas a acusarem-no de insensibilidade social.

Pedro Machado dirige a Braval há cerca de 15 anos, tendo estado envolvido numa das polémicas que marcaram a última campanha eleitoral autárquica. Em 2009, demitiu-se do cargo de administrador delegado, um lugar de nomeação política, tendo sido escolhido, semanas depois, para o novo cargo de director-geral, com vínculo à empresa. Na altura, o presidente da Câmara de Braga, Mesquita Machado, não se pronunciou sobre o tema, atendendo a que Pedro Machado é seu genro.

A autarquia bracarense foi uma das que preferiram manter o silêncio durante o dia de ontem, na sequência das declarações do director-geral da Braval. Fonte do gabinete de comunicação da Póvoa de Lanhoso avança que, no seu território, "a questão do roubo de resíduos não tem expressão". Já o presidente da Câmara de Vieira do Minho, Jorge Dantas, sugere a Machado que "esclareça melhor" as suas palavras, atendendo a que os "catadores de lixo" só o fazem "por absoluta necessidade".
 
 

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