Grupo chinês investe na castanha transmontana e compra fábrica em Vinhais

Só dos concelhos de Bragança e Vinhais sai, todos os anos, cerca de 75% da produção de castanha em Portugal.

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Agroaguiar começou por se dedicar à produção de castanha Mário Marques/Arquivo

O maior grupo produtor mundial de castanha, o American Lorain, de capitais chineses mas cotado na bolsa de Nova Iorque, vai apostar no Nordeste Transmontano para abastecer sobretudo o mercado francês, mas também o alemão e o holandês. O grupo adquiriu, recentemente, uma participação maioritária (51 por cento) da luso-francesa Conserverie Minerve, que já detinha uma unidade de produção em Vinhais, a Cacovin, que será agora recuperada depois de encerrada há dois anos após ter sido vendida pela autarquia.

“Até hoje, a Minerve adquiria castanha portuguesa mas através de outros concorrentes locais. Na altura, quando se pensou em adquirir uma unidade aqui, seria para servir, numa primeira fase, os interesses e as necessidades da Minerve e, numa segunda fase, para tentarmos colocar o produto de Vinhais no território português e noutros países como Espanha, Alemanha, Holanda e no mercado do fresco em França, através do mercado de Paris”, explicou ao PÚBLICO Filipe Pessanha, representante do accionista português, o Grupo Branco.

A unidade está a ultimar os preparativos para retomar a laboração nos próximos dias, a tempo da nova época de apanha de castanha, que começa agora a estar disponível nos soutos. De acordo com Filipe Pessanha, serão criados, numa primeira fase, 14 postos de trabalho, mas o objetivo é fazer “um investimento interessante para a região” de forma a que não seja apenas um trabalho sazonal. “Quem tem uma unidade destas não pode ter o investimento parado nos restantes seis meses do ano. Estamos à procura de alternativas, que provavelmente passarão pelo aproveitamento de produtos locais, como os frutos vermelhos”, acrescentou.

Depois dos problemas sentidos em Itália com a vespa da galha, que dizimou grande parte da produção de castanha sativa (europeia) nos últimos três anos, Portugal passou a abastecer grande parte do mercado europeu e o preço pago ao produtor tem subido para perto dos dois euros por quilo.

Só dos concelhos de Bragança e Vinhais sai, todos os anos, cerca de 75% da produção de castanha em Portugal. Na região produzem-se, actualmente, cerca de 15 mil toneladas mas o número de soutos plantados cresceu bastante nos últimos anos pelo que a autarquia de Vinhais estima que o valor bruto possa chegar brevemente aos 26 milhões de euros.

Apesar de ser conhecido essencialmente pelo fumeiro, o concelho de Vinhais tem na castanha uma das principais actividades económicas, que anima a região nesta altura do ano. De tal forma que, em 2006, foi mesmo criada propositadamente uma feira para a promoção e venda da castanha, a Rural Castanea (24 a 26 de Outubro), que a autarquia pretende vir a tornar num evento semelhante à Feira do Fumeiro (que se realiza em Fevereiro).

Mas, apesar de concentrar grande parte da produção nacional, o Nordeste Transmontano carece de unidades transformadoras. A Cacovin, que agora será revitalizada pelo grupo chinês, era detida pela autarquia mas foi vendida há três anos ao grupo francês Minerve.

Filipe Pessanha espera agora que esta unidade industrial seja capaz de, “pelo menos, assegurar as necessidades anuais da empresa”, que se cifram nas mil toneladas.

Sobre o interesse chinês nesta área, o representante do grupo explica que não é diferente do interesse na EDP ou na Fidelidade. “São negócios obviamente rentáveis mas a American Lorain tem mais facilidade em escoar os seus produtos no mercado europeu. Por outro lado, os produtos europeus são muitíssimo valorizados no Oriente, incluindo a China. Entre um produto europeu e um produto chinês, a maioria dos chinesas que tem possibilidade de pagar vai sempre preferir o produto europeu. Essa é, também, a razão que os leva a investir noutros países da Europa”, conclui.

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