Gestão da junta leva a cisão na lista de Rui Moreira em Lordelo/Massarelos

Presidente da assembleia de freguesia denunciou alegados problemas na gestão da presidente da junta. CDU enviou queixa ao Ministério Público.

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Sofia Maia presidiu à junta de Massarelos pelo PSD e em 2013 foi eleita na lista de Rui Moreira Diogo Baptista

Os dois principais elementos da lista de Rui Moreira à Freguesia de Lordelo do Ouro e Massarelos estão de costas voltadas. O presidente da assembleia de freguesia assumiu que deixou de confiar na presidente da Junta, Sofia Maia, depois de lhe terem sido relatados problemas “graves” na gestão do executivo, que denunciou publicamente. A autarca nega, e respaldada na confiança política do líder do movimento independente "O Porto é o Nosso partido" desvaloriza as acusações. O que não impediu a CDU de as enviar para o Ministério Público.

A fina camada de verniz que há meses unia Eduardo Vasques de Carvalho a Sofia Maia estalou numa assembleia de freguesia, a 16 de Setembro, que foi interrompida e teve continuidade no passado dia 23. Na verdade, as denúncias que o presidente da Assembleia tornou públicas nestas reuniões turbulentas já tinham sido enviadas, em Março, para a entourage politica do líder do grupo independente, tendo em conta, diz Vasques de Carvalho, que os actos denunciados configuravam um “desvirtuar” do programa de Rui Moreira.

Em causa estão, entre outras, acusações graves de alegada utilização indevida de dinheiros públicos, abuso de poder (com suposta tomada de decisões fora das reuniões de executivo e sem conhecimento dos vogais que detêm os respectivos pelouros), utilização do pessoal em proveito próprio e permissão de utilização de recursos da junta em favor de um dos elementos do executivo. Ao PÚBLICO o presidente da Assembleia garante que as situações lhe foram relatadas por membros do próprio executivo, o que o levou, em Abril, a comunica-las, por mail, a um elemento do círculo mais próximo de Rui Moreira.

Vasques de Carvalho alega que foi a falta de explicações cabais da presidente da Junta, Sofia Maia, sobre estas supostas ilegalidades, o que o levou a assumir, a 16 de Setembro, que deixava de confiar na autarca. Como número dois da lista em que ambos concorreram, o presidente da Assembleia seria o sucessor natural da primeira, caso a junta caísse, mas o independente garante que não pretende o cargo. “Sou um indivíduo de verdades. Se os princípios são calcados, chamo a atenção”, insiste, acrescentando: “Sou um acérrimo defensor do movimento de Rui Moreira. Não sou um dissidente.”

Confrontado com esta situação, o movimento fez saber que “Rui moreira mantém toda a confiança política em Sofia Maia”, não comentando as acusações feitas pelo outro elemento das suas listas. Que aliás, nem é o único a pôr em causa o trabalho da presidente de Junta. António Cardoso, membro da assembleia de freguesia, também deixou de confiar, pelos mesmos motivos, pessoal e politicamente, na advogada que presidia à Junta de Massarelos e passou, em 2013, a presidir à união desta freguesia com a de Lordelo do Ouro.

Respaldada nesta declaração do líder do movimento, Sofia Maia desvalorizou as acusações de que está a ser alvo, reduzindo-as a meras questões de “política”. A autarca garante estar a cumprir a lei na gestão do executivo, quer em relação à utilização de dinheiro e recursos, quer também em aspectos ligados ao funcionamento do órgão, que supostamente teve apenas uma reunião pública em 2014. “Não é verdade. As reuniões eram todas públicas, só não estava era isso escrito em acta, respondeu a autarca.

Sofia Maia nega também que esteja a desrespeitar o órgão presidido por Vasques de Carvalho, pois garante que o executivo responde nos prazos estipulados às questões levantadas pelos membros da Assembleia. No entanto, a CDU, que está representada neste órgão, garante que anda há meses a tentar obter, sem sucesso, esclarecimento da presidente de Junta sobre um conjunto de questões, relacionadas com o que agora foi denunciado. “O Executivo da Junta respondeu como quis e quando quis, mas sempre sem rigor”, queixam-se.

Esta situação, diz a CDU, “ganha ainda mais relevância quando se sabe que a actual Presidente da Junta foi, anteriormente, Tesoureira e Presidente da Junta de Freguesia de Massarelos pelo PSD, e decorre uma auditoria por parte da IGF a essa autarquia (devido a um conjunto de ilegalidades ali detectadas) cujo relatório ainda não foi tornado público, não obstante as diversas insistências dos eleitos da CDU na Assembleia de Freguesia e na Assembleia da República”.

Num comunicado emitido esta segunda-feira, a Concelhia do Porto da CDU esclarece que, depois de uma nova tentativa falhada de esclarecer a situação, na “turbulenta” assembleia de 23 de Setembro, “vai remeter para o Ministério Público uma certidão da intervenção do Presidente da Assembleia de Freguesia, solicitando que as acusações explicitadas na mesma sejam objecto de urgente análise”. E lamentou que Rui Moreira se mantenha em silêncio, “cúmplice”, perante a gravidade de acusações que, a comprovarem-se, põe em causa a honestidade de membros da junta, bem como o interesse público”.

A CDU considera que este caso demonstra “a falta de coesão dos eleitos da coligação Rui Moreira/CDS. Os comunistas recordam que Rui Moreira já retirou a confiança política ao presidente da União das Freguesias do Centro Histórico, e referem-se ainda a demissões de dois elementos no executivo da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Neste caso, contudo, o presidente da Junta, Nuno Ortigão, assegurou ao PÚBLICO que os elementos que saíram fizeram-no por motivos profissionais e mantêm os respectivos lugares na assembleia de freguesia, em representação do grupo independente pelo qual foram eleitos.

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