Fernando Pessoa, Amália, Eusébio e Zé Povinho presentes na estação de Metro do Aeroporto

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O cartoonista com Fernando Pessoa e Amadeo de Souza-Cardoso Carla Rosado

Ainda não havia projecto de arquitectura quando em 2006 o cartoonista António Antunes imaginou uma nova estação de metro no Aeroporto de Lisboa com grandes personalidades portuguesas a dar as boas-vindas nas paredes. A nova estação é inaugurada com 53 retratados por este artista de 59 anos.

Os desenhos a preto e branco brilham e destacam-se nas paredes beges ainda imaculadas. Os visitantes, que estreiam a estação numa visita na véspera da inauguração oficial,não resistem e passam as mãos pelos desenhos, tentando adivinhar o material. E António Antunes já conseguia antecipar algumas das possíveis reacções aos seus cartoons.

“Os desenhos são em pedra cortada a laser, com mármores preto e branco incrustados em pedra lioz. Mas brilham tanto que as pessoas até pensam que são de plástico. Pedi à empresa que o mármore fosse o mais liso possível para interferir menos no desenho”, explica António Antunes em entrevista ao PÚBLICO. “Deixei de lado a crítica e estas são caricaturas simpáticas, sobretudo de homenagem a gente que nos marcou”, diz.

Entre os convidados nesta "visita de véspera", o presidente da Câmara de Loures, Carlos Teixeira, comenta para o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, que Raul Solnado está “bonacheirão” na sua caricatura.

António Antunes admite que seleccionar figuras que retratem a cidade nem sempre “gera consenso”, mas garante que “as pessoas que estão aqui foram o resultado de escolhas, de equilíbrios e de limitação de espaço”.

Ao todo são 53 figuras em 52 imagens (Gago Coutinho e Sacadura Cabral que fizeram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul aparecem juntos). Fernando Pessoa, Amália Rodrigues, Eusébio, Carlos Lopes, Amadeo de Souza-Cardoso, Sá Carneiro, Paula Rego, Mário Cesariny, Duarte Pacheco, Carlos Paredes, Raul Solnado, David Mourão-Ferreira, Sophia de Mello Breyner, Maria João Pires, Zé Povinho e Vergílio Ferreira são alguns dos exemplos.

“Foi um grande desafio largar o centímetro e passar para o metro”, brinca o cartoonista enquanto aponta para vários personagens do seu “jornal de pedra”. “Estou convencido de que esta exposição vai abrir o caminho a outras coisas. Prova-se aqui que a caricatura pode animar condignamente um espaço público”, defende António Antunes, adiantando que já tem tido alguns contactos estrangeiros para eventual replicação da ideia.

Sobre os cartoons preferidos diz que Carlos Paredes, Viera da Silva, Amália e Fernando Pessoa foram mais exigentes “por ser necessário encontrar um caminho não tão idêntico” a outros já existentes.

Sobre o valor do trabalho, diz que foi tratado “como um artista de primeira” nas tabelas de pagamento do Metropolitano de Lisboa, mas que ainda assim considera ter sido “mal pago”, apesar de afirmar que o trabalho lhe traz outras mais-valias além das financeiras. Já o presidente do Metropolitano de Lisboa, Cardoso dos Reis, adiantou que o orçamento destinado foi de 0,1% dos 218 milhões de euros, ou seja, cerca 200 mil euros, mas que já incluíram todo o material e montagem.

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