Faro investe meio milhão na recuperação da zona histórica da cidade

O posto de turismo passou a dispor um Centro Interpretativo para mostrar a história de uma cidade virada para a ria Formosa.

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Câmara Municipal de Faro

Os turistas entram na zona histórica da cidade de Faro, passam por baixo do sino do Arco da Vila sem que, na maioria das vezes, se dêem conta do património envolvente. Para que a cultura passe a integrar a oferta turística, a câmara investiu cerca de meio milhão de euros na reabilitação da zona histórica da cidade. A inauguração, nesta terça-feira, do Centro Interpretativo do Arco da Vila, no edifício onde funciona o posto de turismo, remodelado, pretende ser uma “montra” para dar a conhecer a zona velha da cidade.

O posto de turismo de Faro recebe cerca de 85 mil visitantes por ano – o que faz com que seja um dos mais procurados da região. O espaço, acanhado e degradado, não oferecia condições para receber os visitantes. A melhoria das instalações deveu-se à aprovação de uma candidatura a fundos comunitários, no valor de 196 mil euros, subscrita pela câmara e pela Região de Turismo do Algarve. Por enquanto, as entradas no espaço museológico são gratuitas, mas no futuro está previsto vir a custar três euros por pessoa. A receita, justifica a câmara, destina-se à recuperação de outros imóveis históricos.

O sino da torre do Arco da Vila ainda não toca, e não se sabe se alguma vez voltará a funcionar. “Estamos a avaliar se será possível”, diz o presidente da Câmara, Rogério Bacalhau, justificando com o estado de degradação do mecanismo que liga o relógio ao sino. Mas o trabalho de recuperação dos edifícios históricos, garante, é para continuar: “Há cerca de duas dezenas de anos que as muralhas não beneficiavam de obras”, diz, sublinhando a mudança da política cultural em relação aos seus antecessores. O objectivo, recentemente anunciado, de levar a cabo a candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura, em 2027, força as entidades públicas a olharem para as artes e cultura de uma forma, embora esse desígnio ainda não se traduza nas rubricas dos orçamentos autárquicos.

A destruição das muralhas da cidade, explica o director do museu municipal, Marco Lopes, não se deu apenas com o terramoto de 1755. “O saque [invasão dos ingleses no século XVI] e a ignorância sobre o valor patrimonial, também fez desparecer uma parte da identidade histórica”, diz. Uma candidatura ao Programa Operacional/Algarve permitiu beneficiar de subsídios no valor de 65% do investido. A recuperação do “Arco da Vila” é a obra emblemática, por ser o cartão de visita da capital algarvia. A Ria Formosa, ali mesmo ao lado, confere-lhe o enquadramento para as fotos tipo “postal ilustrado”, tão ao agrado dos turistas de passagem por uma cidade que ainda não possui um hotel de cinco estrelas.

Revisitar a história, através das lendas, é outro dos aspectos que podem ser apreciados neste espaço museológico, que mostra, também, uma narrativa das influências muçulmanas na cultura regional. Mas, por outro lado, coloca ainda em relevo o papel da Igreja, nomeadamente do antigo bispo Francisco Gomes de Avelar, na recuperação do património da cidade. A colocação da pesada imagem de São Tomás de Aquino no Arco da Vila, faz parte das muitas lendas que enriquecem o património imaterial. Depois de muitas tentativas frustradas para colocar o santo lá no alto, recorda Marco Lopes, os trabalhadores só conseguiram erguer a imagem “depois de Francisco Avelar se aproximar e segredar ao ouvido de São Tomás”. O que terá dito ou sugerido?

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