Farmácia islâmica enriquece um dos museus menos conhecidos do Porto

Situado em plena Zona Industrial, o Museu da Farmácia não está ainda no roteiro dos visitantes

Fotogaleria
Rita França
Fotogaleria
Rita França
Fotogaleria
Rita França
Fotogaleria
Rita França
Fotogaleria
Rita França
Fotogaleria
Rita França
Fotogaleria
Rita França

O taxista enganou-se no destino. Pediu ajuda ao GPS, e ele lá nos pôs em frente à delegação do Porto da Associação Nacional de Farmácias, na Rua Engenheiro Ferreira Dias, em plena zona industrial, sítio inesperado para um museu que esta sexta-feira fica concluído com a instalação, lá dentro, de uma farmácia do Império Otomano.

O Museu da Farmácia de Lisboa, inaugurado em 1996, na Marechal Saldanha, é bastante visitado. O do Porto é pouco conhecido, apesar de estar aberto ao público desde 2010. Mas isso tem cura e esta sexta-feira  os potenciais interessados em conhecer a história da farmacologia no mundo têm até um motivo extra para se deslocarem à zona industrial, já quase na fronteira com Matosinhos.

A farmácia islâmica é a última e especial atracção deste sítio (quase) secreto, que vale bem a pena descobrir. O estilo de decoração dela remete-nos para o século XIX – e para essa cultura que inspirou o mais famoso salão árabe da cidade, o do Palácio da Bolsa. Aqui há menos ouro, mas um trabalho de restauro intenso, demoradamente levado a cabo por vários mestres da Fundação Ricardo Espírito Santo, a merecer vénia do director do Museu da Farmácia, João Neto, um especialista em história da saúde durante as cruzadas.

Se essa época de batalhas entre a cristandade e os muçulmanos foi também oportunidade para partilha de conhecimentos entre diferentes culturas, como frisa o historiador, o museu que ANF montou com o esforço financeiro, e muitas peças, dos seus associados é, ele também, um espaço de cruzamento entre saberes de várias civilizações, como se percebe em todo o percurso expositivo. Que percorre, no fundo, toda a história da humanidade, que convive com as farmácias desde o momento em que descobriu que à sua volta havia forma de combater as doenças.

Em frente à farmácia de um palácio, do século XIX, que há décadas viajou de um antiquário de Damasco para Londres e agora brilha no Porto – onde está a salvo da destruição de património que vem acontecendo no Médio Oriente, assinala, gratificado, João Neto – está montada a antiga Farmácia Estácio. Excelente exemplo de uma época, com mobiliário da década de 20 do século passado, onde falta – pena – a balança falante, famosa em toda a região e que duz-se que confundiu Vasco Santana com um duo de pessoas a tentarem pesar-se em simultâneo.

Esse entre guerras era já um tempo em que as farmácias não vendiam apenas remédios, mas toda uma panóplia de produtos relacionados com o bem-estar para uma burguesia endinheirada. Mas um tempo em procurava ainda uma a salvação para a peste branca, a Tuberculose. A doença cujo combate, no século XIX, fez ressuscitar a palavra cruzada, nota o historiador. As grandes descobertas, e as respectivas marcas comerciais, estão lá todas, bem como a publicidade que tanto vendia umas pastilhas Valda como assinalava as capacidades curadoras do vinho quinado ou da água das pedras.

Para chegar a tudo isto, foi preciso uma longa (r)evolução no conhecimento, desde as primeiras comunidades humanas, no Neolítico, às grandes civilizações das quais recordamos nomes como Imhotep (Egipto), Hipócrates (Grécia), Galeno (Roma), todas elas representadas com objectos e muita informação nesta exposição que começa com um fóssil de mosquito – vector de várias doenças – preso a uma bola de âmbar e percorre as várias formas de utilização dos conhecimentos médicos, no Oriente e no Ocidente, onde antigamente eram partilhados nas boticas e depois nas pharmácias que perderam o p e se modernizaram, para serem o que hoje conhecemos.

Quem quiser viajar por esta história da farmácia vai ter de fixar a sua localização no mapa, mas deve estar também atento ao horário em que o Museu funciona. Ele está aberto nos dias úteis das 10h às 18h, e abre no último domingo de cada mês, apenas das 14h às 18 horas. Tem ainda um serviço educativo de apoio a visitas escolares por marcação, explicou a vice-directora, Paula Basso, esperando que a recém-instalada farmácia do Império Otomano ajude a atrair mais visitantes.

Conferência Farmácia e Cultura

A inauguração oficial da nova coqueluche do Museu da Farmácia no Porto coincide com as comemorações dos 40 anos da ANF, que organiza esta sexta-feira à tarde nas suas instalações na cidade, na Zona Industrial, a conferência “40 anos - Farmácia e Cultura”, com Paulo Cleto Duarte, presidente da ANF, Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Centro Nacional de Cultura, Sheik David Munir, Imã da Mesquita de Lisboa, D. António Francisco dos Santos, Bispo da Diocese do Porto e Paulo Macedo, Ministro da Saúde.

Pelas 19h a farmácia islâmica é inaugurada e, para além do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, participará na cerimónia Conceição Amaral, presidente da Fundação Ricardo Espírito Santo, que teve a seu cargo a demorada intervenção de restauro da farmácia que nos remete para um palácio do Império Otomano, no século XIX, e no qual não faltam inscrições apelando ao conhecimento para a saúde.

Sugerir correcção
Comentar