Falta de médicos e financiamento põe o Algarve em estado de alerta, principalmente no Verão

Falta de médicos especialistas em Faro continua a preocupar. “Os algarvios não são portugueses de segunda”, queixa-se o ex-bastonário da Ordem dos Médicos.

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Quase três mil médicos saíram do SNS em 2012 Enric Vives-Rubio

O Algarve enferma de um “crónico défice” de investimento no sector da saúde e a falta de médicos especialistas continua a ser um problema por resolver. A denúncia foi assumida, ontem, pelo presidente do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), Pedro Nunes, durante a cerimónia da assinatura de um protocolo de colaboração com Centro Hospitalar e Universitário (CHU) de Coimbra, para que os doentes do Algarve, no pós transplante renal – efectuado naquela unidade de saúde - possam beneficiar do assistência e medicamentos na sua área de residência.

“Os algarvios não são portugueses de segunda em relação ao resto do país e o facto de não existir um grande centro urbano não lhes retira direitos”, enfatizou o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, actualmente a liderar o projecto que juntou num único conselho de administração os hospitais de Portimão e Faro

O secretário de Estado da Saúde, Fernando Leal da Costa, médico de profissão, defendeu que, no que diz respeito à transplantação de órgãos, atendendo à procura e à oferta, “não seria recomendável ter mais centros de transplantação do que aqueles que existem”. Do ponto de vista técnico e prático, “não há nada que impeça que [os 47 doentes do Algarve que foram operados em Coimbra] sejam seguidos no Centro Hospitalar do Algarve”, disse o governante. 

O secretário de Estado reconheceu que a zona litoral do Algarve, principalmente durante a época balnear, “transforma-se numa imensa massa urbana que necessita de cuidados médicos de altíssima diferenciação”. Por outro lado, sublinhou, trata-se de uma região que “está exposta ao escrutínio internacional, como mais nenhuma outra zona do país está, o que nos obriga a todos a olhar como muita atenção para o Algarve”.

À margem da cerimónia, Pedro Nunes, reafirmou que luta por criar na região um “centro hospitalar da medicina do primeiro mundo”, capaz de responder de forma eficaz, no imediato, a todas as todas as situações de emergência. “Estamos a 3h30, e mesmo de helicóptero estamos a uma 1h30, do centro hospitalar mais próximo”, justificou. Além da falta de médicos especialistas, sublinhou, o financiamento não cobre as carências básicas. “Tenho procurado sensibilizar o senhor ministro da Saúde de que é necessário investimento no Algarve”. A construção do novo Hospital Central, no Parque das Cidades (junto ao estádio Algarve) continua a ser uma promessa adiada, e o Hospital de Faro não chega para responder à procura da população permanente e flutuante. “É preciso investimento, para que o Algarve seja equivalente ao resto do país”, disse.

A falta de recursos humanos, diz Pedro Nunes, é a grande dificuldade com que se debate o CHU. “Precisamos urgentemente de anestesistas, obstetras, bem como cardiologia, pneumologia – não é possível que o Hospital de Portimão não tenha um neurologista, um cardiologista, não faz sentido virem os doentes de Portimão a Faro, ou irem os médicos de Faro a Portimão”, exemplificou. O curso de Medicina da Universidade do Algarve forma cerca de 30 médicos por ano, um número que o gestor considera insuficiente para suprir as deficiências. “O mundo é global, e nós aspiramos a ter os melhores médicos”. Quais os incentivos para abandonar os grandes centros? “Penso que será inteligente, da parte do ministério da Saúde, que exista uma discriminação positiva para atrair profissionais para determinadas regiões”, disse.

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