Ex-secretário de Estado diz que o preço da água em Alqueva “é excessivo”

Comissão europeia obrigou Portugal a reduzir em 7,5% o consumo de água na agricultura, mas a EDIA necessita alargar a área de rega.

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Agricultores estão contra a gestão da rega do Alqueva pela EDIA Rui GaudÊncio

O auditório da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) ficou esta manhã completamente cheio de agricultores para ouvir falar do uso eficiente da água nas culturas regadas. Francisco Gomes da Silva, ex-secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, presente no debate, admite que nos próximos meses terá de ser discutido “o que é que deveria ser o preço da água em Alqueva”, que hoje, diz, é desajustado.

Para o ex-governante, trata-se de “avaliar o conjunto de mais-valias que este empreendimento tem para a sociedade”. Logo, a sociedade “deverá encontrar forma de remunerar” o preço da água em Alqueva cujo tarifário actual classificou de “excessivo”.

Tendo em conta o conjunto de componentes que não estão considerados na formação dos preços da água, Gomes da Silva fundamenta a redução do preço da água na “altimetria do empreendimento - cota a que se encontra a coluna de água em Alqueva e que obriga a elevados consumos energéticos -, os compromissos ambientais que a EDIA assumiu, as obras necessárias para o funcionamento do empreendimento, a respectiva manutenção, etc,”.

“É importante ter em conta os bens públicos que Alqueva consegue gerar para a economia nacional”, vincou.

Gomes da Silva recusa-se a ver nesta proposta uma forma de subsidiarização do tarifário da água e criticou de forma contundente a Comissão Europeia por impor ao Governo português uma redução de 7,5% no consumo de água.

O ex-governante, que participou nas negociações com Bruxelas, considerou a meta imposta “um obstáculo político colocado pela comissão” ao Governo português que “acedeu porque é importante que a medida exista”.   

Gomes da Silva tem uma explicação para a posição comunitária: “A Europa não sabe o que é regadio”, frisando que não há nenhum outro país, a não ser a Espanha, França e Itália mas de forma muito mitigada, que pratique agricultura de regadio. Portugal é o “único” país europeu que “tem know how não só conceptual, como aplicado em matéria de regadio eficiente”. Daí que deva ser considerada uma prática agrícola “especificamente portuguesa”, acentuou. Mesmo assim, a Comissão europeia exige um comprovativo de eficiência no uso da água. “Não é má vontade dos europeus. É ignorância. Eles acham que isto é uma fantasia dos povos do sul”, observou.

Leitura semelhante fez Alexandra Lopes Dias, autoridade gestora do Proder, ao confirmar que o ambiente europeu “é extremamente hostil” a tudo o que se relacione com regadio, lembrando que era, à partida, uma prática agrícola que estava excluída por não ser compreendida pelos governos do norte da Europa.

E numa chamada de atenção aos agricultores presentes no seminário, apelou: “Temos de demonstrar uma efectiva poupança de água”, pedindo-lhes que compreendam a posição da Autoridade Gestora do Proder, pois são acusados "de ser demasiado burocratas”.

Contudo, José Pedro Salema, presidente da EDIA, lembrou as áreas de regadio que podem ser potenciadas nas proximidades da rede primária de rega e dos sistemas de armazenagem de água. “Já temos neste condições cerca de 7 mil hectares mas temos capacidade para muito mais”, destacou. A redução no consumo de água impõe uma compensação num projecto que foi dimensionado prioritariamente para a rega. O recurso está no aumento das áreas a irrigar. A EDIA já apresentou anteriormente um estudo onde realça a possibilidade de pedidos de água para rega em mais 25 mil hectares.

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