Este calor endiabrado
Desde 15 de Outubro, o direito à praia deixou de pertencer aos extremamente temporários banhistas e regressou a quem de direito: os surfistas, os cães e os praieiros de ano inteiro.
Como se chama este calor, de praia e de moscas, mosquitos, libelinhas e formigas, que nos tem devolvido ao oceano Atlântico, do qual já nos tínhamos despedido?
Vem do Inferno, com certeza. Sabe-se pela parecença misteriosa com o Paraíso. As maiúsculas justificam-se, mesmo secularmente, pelas convenções ortográficas que governam os nomes dos santos, mesmo que não se acredite neles.
Este Outono endiabrado – só o diacho é capaz de congeminar estes calores – levou-nos à praia de Carcavelos. É a Caparica da linha de Cascais. É muito, muito mais pequena do que a Caparica mas, comparada com as outras praias de Cascais e Oeiras, é, de longe, a maior e a melhor.
O problema para os poucos banhistas que lá vão parar na última semana e meia de Outubro não são os surfistas – salva-vidas e conselheiros que não são pagos mas salvam e avisam muita gente ignorante – mas os principiantes que escolhem estupidamente o fim de Outubro para aprenderem a fazer surf.
Apesar da protecção inteligente e altruísta dos professores – boas almas, tão generosas como sábias – os principiantes teimam em praticar na parte do mar mais perto da praia, que pertence (apenas teoricamente) aos nadadores.
Na verdade, desde 15 de Outubro, o direito à praia deixou de pertencer aos extremamente temporários banhistas e regressou a quem de direito: os surfistas, os cães e os praieiros de ano inteiro.
Recomenda-se a humildade dos invasores. E pouco mais. Nada seria o ideal.