Estação Arqueológica de Pisões está abandonada desde Abril e foi assaltada

Câmara de Beja, em conjunto com a Universidade de Évora, vai apresentar uma candidatura a fundos europeus para obter verbas destinadas a recuperar a estação. Autarquia admite reabertura em Fevereiro.

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Denúncia foi feita pelos vereadores da CDU na Câmara de Beja António Carrapato

Uma das mais importantes villas romanas do Sul do país, a estação arqueológica de Pisões, a cerca de seis quilómetros da cidade de Beja, está sem vigilância desde Abril de 2012 e o seu centro de interpretação foi recentemente assaltado. As instalações ficaram sem janelas e portas e sem as respectivas aduelas - tudo em alumínio.

Uma das mais importantes villas romanas do Sul do país, a estação arqueológica de Pisões, a cerca de seis quilómetros da cidade de Beja, está sem vigilância desde Abril de 2012 e o seu centro de interpretação foi recentemente assaltado. As instalações ficaram sem janelas e portas e sem as respectivas aduelas – tudo em alumínio.

A denúncia desta situação foi feita pelos vereadores da CDU no executivo municipal de Beja, depois de terem visitado o local, na passada quarta-feira, para se inteirarem do estado em que se encontra o património arqueológico ali descoberto em 1967, durante a execução de trabalhos agrícolas. Um dos vereadores, Miguel Ramalho, referiu a existência de marcas de um rodado de viatura do exterior para o interior da zona classificada, cercada por uma rede metálica que se encontra cortada.

Tanto as instalações do centro interpretativo como os diversos elementos expostos da villa romana se encontram num "estado deplorável", salientou o autarca da CDU, frisando que, "aparentemente", a arqueóloga da Direcção Regional da Cultura do Alentejo que acompanhou a visita não deu conta de outros furtos no conjunto de estruturas arqueológicas que foram sendo escavadas desde 1967.

Os vestígios arqueológicos ali existentes pertencem à residência dos proprietários de um latifúndio romano. A casa tinha mais de 40 divisões ricamente decoradas e centradas num peristilo (galeria formada por colunas). Na decoração destacam-se os mosaicos, que, dada a sua continuada exposição às intempéries, acabaram por perder parte da beleza cromática que tinham na altura da sua descoberta.

Alguns dos muros do complexo ameaçam ruir se não forem efectuadas "intervenções urgentes", adiantam os autarcas da CDU, acusando a Câmara de Beja, a Universidade de Évora e a Direcção Regional de Cultura do Alentejo de se terem "demitido das suas responsabilidades". Segundo garantem, a estação arqueológica encontra-se agora "ao abandono e vandalizada".

No local, o PÚBLICO observou, entretanto, vacas a pastar no interior da estação arqueológica e cavalos junto à barragem construída durante o período romano.

Uma semana depois da visita dos vereadores da CDU à villa romana, o presidente da Câmara de Beja, Jorge Pulido Valente, divulgou um comunicado dizendo que se reuniu na quarta-feira com responsáveis da Universidade de Évora para "poder resolver com a maior brevidade possível" os problemas existentes em Pisões. O autarca esclarece que a Universidade de Évora é proprietária dos terrenos onde se encontra a villa e que esta entidade "vai assumir todo o trabalho científico" no local.

Para obter os financiamentos necessários às "intervenções indispensáveis e de médio prazo", acrescenta, vai ser apresentada uma candidatura conjunta ao QREN ou ao programa Proder.

Por outro lado, vai ser celebrado um protocolo com a Universidade e a Direcção-Geral de Cultura, esperando a câmara que até ao final desta semana possa estar seleccionado um casal para tomar conta da estação arqueológica. O autarca admite que Pisões possa abrir ao público já em Fevereiro, após a recuperação da casa que vai albergar o casal e a limpeza e manutenção do espaço.

Miguel Ramalho critica a opção que foi tomada para manter o sítio sob vigilância. "É uma solução voluntarista", que não tem em conta as exigências que o património arqueológico de Pisões requer, defende, acrescentando que há necessidade de ali colocar alguém com conhecimentos adequados para informar e esclarecer os visitantes do sítio.

A casa de um latifundiário

As primeiras escavações efectuadas por Fernando Nunes Ribeiro, logo que a villa romana de Pisões foi descoberta em 1967, revelaram a existência de importantes vestígios de uma grande exploração agrícola da época romana. Contudo, o que foi posto a descoberto corresponde à parte urbana. As áreas que poderão estar directamente relacionadas com a exploração agrícola encontram-se ainda por escavar.

Novas escavações, realizadas por Miguel Serra em 2007, permitiram entretanto localizar vestígios arqueológicos "a cerca de 100 metros do núcleo central da villa actualmente conhecida". Miguel Serra frisa que este facto pode significar uma "ocupação anterior" ou "muito possivelmente" a existência de "uma parte anexa da villa". A algumas dezenas de metros ainda é visível a barragem que alimentaria a parte urbana, bem como a actividade agrícola e pecuária. Teria uma albufeira com cerca de 340 metros de comprimento e armazenaria 28.000 metros cúbicos de água.
 
 

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