Está eleita a “selecção nacional” de pizzaiolos

Jardim dos Clérigos acolheu este segunda-feira a terceira edição do Campeonato Português de Pizza.

Fotogaleria
Adriano Miranda
Fotogaleria
Adriano Miranda
Fotogaleria
Adriano Miranda
Fotogaleria
Adriano Miranda
Fotogaleria
Adriano Miranda

Debaixo de um sol abrasador, a competição começou cedo no Jardim dos Clérigos. Trinta e três pizzaiolos (profissionais especializados na preparação de pizzas) a concurso vieram de todas as zonas do país para provar que a sua pizza merecia um lugar entre as melhores da Europa e do mundo, nas três categorias a concurso: a de Master Pizzaiolo, a de Beleza e a de Paladar

Um a um, começam por estender a massa, de forma artesanal, sem rolos e sem máquinas. Não falta o molho de tomate (a receita mais secreta) e os toppings, dos mais tradicionais como o queijo, bacon, presunto, frutos do mar, aos mais inusitados, como o bacalhau ou a lampreia. Depois de concluída a montagem da pizza, é hora de a levar ao forno, para ser depois servida aos jurados, entre os quais se destacam a tricampeã mundial, Grace, o chef Cordeiro, reconhecido com duas estrelas Michelin, e Paulino Queirós, campeão nacional no ano passado. 

Do Algarve, e pela segunda vez, vem Daniel que este ano trouxe à competição uma pizza serrana “para representar a serra algarvia”, diz. Apesar dos nervos, a prova correu “bem”. E que bem. Quando falou ao PÚBLICO, Daniel estava longe de imaginar que seria o Master Pizzaiolo da competição, uma categoria que pretende distinguir o profissional que demonstrou o melhor domínio das técnicas de confecção. Afinal, são já 11 anos dedicados à iguaria italiana para quem começou aos 16. O tio era pizzaiolo e quando viu que Daniel “tinha queda para a pizza arranjou-lhe um trabalho numa pizzaria. “Fui um autodidacta porque aprendi tudo sozinho e fui vendo as pessoas que sabiam mais do que eu. Apanhei-lhe o gosto e continuei”, conta o pizzaiolo algarvio da pizzaria MouraPão. Para o vencedor, a iniciativa permite desmistificar a ideia de que a “a pizza é só pôr no microondas”, dando às pessoas a possibilidade de ter contacto directo com o processo de feitura de uma pizza artesanal. 

O Jardim dos Clérigos foi uma pizzaria a céu aberto. Os aromas, as toalhas vermelhas e verdes aos quadrados e o grande forno no centro do jardim atraíam algumas dezenas de pessoas que aproveitavam para petiscar. É o caso do pai Paulo Diogo e do filho Francisco que estavam de passagem num passeio de férias e aproveitaram para provar algumas das pizzas que estavam “muito boas”, por sinal. “Vou muito ao restaurante do António Mezzero em Matosinhos”, conta Paulo Diogo. 

António Mezzero é o responsável pela organização do Campeonato Português de Pizza. O sotaque italiano não engana, mas o português quase perfeito denuncia os oito anos em que cá está. A paixão já é antiga. “Eu nasci num saco de farinha. O meu pai tinha seis pizzarias na Alemanha e comecei a trabalhar aos 11 anos”, conta. A paixão virou trabalho e os produtos “de qualidade” que Portugal tem dão “para fazer uma pizza muito boa, de nível mundial”.

A ideia de reunir os pizzaiolos do país começou como uma “brincadeira”, mas percebendo a paixão que os portugueses têm por comida, começou a ficar “uma coisa séria”. Prova disso é já a terceira edição da iniciativa que tem aumentado o número de participantes. Este ano são 33 mas o objectivo é “aumentar sempre, chegar a uns 50, 60 e ter cinco categorias”, refere António Mezzero.

Para além de Daniel, mais seis profissionais foram convocados para a selecção nacional de pizzaiolos que vai representar Portugal nos mundiais e nos europeus de pizzaNa categoria de pizza mais bonita, a escolha do júri recaiu em Alexandre Vieira, da pizzaria S. Martino Prestige, no Porto. O segundo classificado foi Fábio Silva, da pizzeria Gastrófilo, em Tondela, e o terceiro lugar foi para Casimiro Santos, da Pizzeria L’Artista, de Oliveira do Hospital.

No que respeita à pizza mais saborosa, Rute Mazza, da pizzeria Il Siciliano, em Cascais, foi a vencedora. Também Flávio Francisco Ribeiro, da pizzeria Al Forno, de Penafiel, foi distinguido. A pizza de Giuseppe Maria, do restaurante Itália, de Coimbra, ficou com o terceiro prémio.

O “despique” entre os pizzaiolos

É mais do que sabido que gostos não se discutem. Mas para o chef Cordeiro há uma “uniformidade”, a tradição italiana, que tem de ser comum a todas as pizzas. “A massa, a confecção, o tempero, os toppings é que podem variar”, explica. É a “ligação entre todos os ingredientes e a variação da massa” que estão a ser avaliados.  

A pizza que Paulino apresentou no ano passado cumpriu estes critérios e por isso foi o vencedor na categoria de Paladar com uma pizza de bacalhau. O pizzaiolo mais antigo de Viana do Castelo quis “casar o produto português com o produto italiano”. “Ser pizzaiolo requer muito tempo e muito sacrifício”, afirma Paulino. Mas em Portugal, “a pizza evoluiu muito e aparecem aqui pizzaiolos de grande qualidade”, remata. 

Desenvolver este tipo de concursos faz também com que os restaurantes entrem numa "guerra saudável". “Mesmo entre nós, profissionais, é importante estarmos aqui, trocamos impressões, falarmos sobre pizzas”, reconhece o chef Cordeiro. 

Despiques à parte, numa coisa todos os pizzaiolos concordam. O segredo para uma boa pizza são os produtos de boa qualidade, o amor e a paixão pela “arte”. As técnicas são coisas que se aprendem depois, conclui António Mezzero. 

O evento tem também uma vertente solidária. À semelhança das edições anteriores, 1000 euros do montante angariado com as inscrições vai ser encaminhado para a Casa do Caminho, em Matosinhos, que presta apoio a crianças em risco. 

Texto editado por Ana Fernandes

Sugerir correcção
Comentar