Esta é a receita da câmara para transformar a Segunda Circular numa via urbana

O município prepara-se para investir mais de dez milhões de euros na requalificação daquela que é a "rodovia de Lisboa com maior nível de sinistralidade" e "o maior gerador de poluição atmosférica da cidade".

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A câmara vai "instalar um sistema de controlo de velocidade média nos troços mais críticos em termos de segurança" Miriam Lago/Arquivo

A Câmara de Lisboa prevê investir mais de dez milhões de euros na requalificação da Segunda Circular, para que esta via deixe de ser “uma barreira que divide” Lisboa e se transforme num “grande eixo distribuidor de tráfego interno à cidade com carácter mais urbano”. A obra deverá prolongar-se por 300 dias.

A proposta que visa o lançamento de um concurso público para a concretização desta empreitada deverá ser apreciada na reunião camarária que se realiza esta quarta-feira. De acordo com o documento, assinado pelo vereador do Urbanismo, o município está disposto a pagar pela obra 9,750 milhões de euros, “com exclusão de IVA”, valor cujo pagamento deverá ser repartido pelos anos de 2016 a 2018.

Na proposta, Manuel Salgado explica que são três os objectivos a atingir com a requalificação da Segunda Circular: “mais segurança”, “mais fluidez e maior capacidade” e “maior sustentabilidade ambiental”.  

No que diz respeito à segurança, o autarca sublinha que a Segunda Circular “é a rodovia de Lisboa com maior nível de sinistralidade”, acrescentando que segundo vários estudos se verifica “uma concentração dos acidentes no troço entre o IC19 e a Av. Lusíada e no troço compreendido entre a Av. Padre Cruz e o nó de Calvanas”.

Quanto à fluidez do tráfego, Manuel Salgado salienta a existência de um “grande número de acessos (31 no somatório de entradas e saídas numa extensão de cerca de 10 km), a reduzida extensão dos entrecruzamentos, as frequentes mudanças de faixa de rodagem praticadas pelos condutores e as altas velocidades verificadas”. Estes aspectos, diz, “reduzem o débito de veículos que podem circular na 2.ª Circular e aumentam o risco de sinistralidade”.

O vereador do Urbanismo destaca ainda, no que diz respeito à sustentabilidade ambiental, que esta artéria de Lisboa “é o maior gerador de poluição atmosférica da cidade” e, “a par do Eixo N/S, o canal rodoviário mais gerador de ruído”. Para dar resposta a todos estes aspectos, a câmara delineou “uma intervenção a dois níveis”: “ao nível da infra-estrutura rodoviária” e “ao nível das soluções de traçado e perfil”.

A repavimentação “em toda a extensão” da Segunda Circular, “com a reabilitação da fundação nos locais mais degradados e reposição do pavimento com soluções altamente resistentes e muito redutoras das emissões de ruído”, é uma das acções a desenvolver. A câmara vai também avançar com a “reabilitação dos sistema de drenagem”, com a “substituição do sistema de iluminação pública para uma solução mais eficiente do ponto de vista da iluminância e do consumo energético” e com a “renovação do sistema de sinalização vertical e horizontal para a tornar mais visível e compreensível”.

Outra das acções previstas é, como se lê na proposta do vereador do Urbanismo, a “instalação de um sistema de controlo de velocidade média nos troços mais críticos em termos de segurança”. Nesta via foi instalado há quase uma década, tal como em outras artérias com grandes volumes de tráfego, um sistema de radares de controlo de velocidade, mas esta solução nunca obteve os resultados esperados, encontrando-se desactivada a maior parte dos equipamentos.

Em relação às soluções de traçado e perfil, propõe-se a “reformulação de alguns acessos à 2.ª Circular”, nomeadamente com o desaparecimento de “dois entrecruzamentos na zona do campo Grande, através da eliminação da ligação da Azinhaga das Galhardas à 2.ª Circular logo que seja restabelecida a ligação da Av. Lusíada ao Eixo N/S e com a ligação directa da 2.ª circular à Av. Padre Cruz”.

Além disso, o município promete intervir nos nós de ligação ao IC19 e à A1, por considerar que estes “para além de não facilitarem o encaminhamento do tráfego para a CRIL são também geradores de significativos atrasos para os movimentos de saída de Lisboa”. Nesse sentido, “de forma faseada e em articulação com a Infraestruturas de Portugal”, a autarquia propõe-se “reformular aqueles nós por forma a torná-los mais adaptados aos movimentos que nele circulam e facilitarem o encaminhamento do tráfego de atravessamento para a CRIL”.

A requalificação da Segunda Circular abrange ainda a “implantação de um separador central com 3,5 m de largura com árvores e arbustos” e a “redução da largura das vias para 3,25 m, conduzindo a uma redução da velocidade”. Também prevista está a “marcação da via de rodagem mais à direita como via de serviço dedicada para os movimentos de entrada e saída”.

Pensando nas habitações na proximidade desta artéria, a câmara quer ainda promover uma “plantação maciça de arvoredo”, para “reduzir o impacto visual do corredor rodoviário”, e “montar barreiras acústicas laterais”.

À empreitada que agora vai ser colocada em concurso a câmara atribuiu um prazo de execução de 300 dias. Uma das premissas da obra é que ela seja realizada de uma forma que evite “a eliminação de vias de circulação durante o dia”.

Segundo um Estudo de Tráfego desenvolvido pela TIS (Transportes, Inovação e Sistemas), em cada dia a 2.ª Circular é utilizada por 105 mil veículos, que circulam a uma velocidade média de 45,7 km/h. Para a consultora na área de mobilidade e transportes, esta é uma via “frequentemente congestionada, com funções desadequadas” e que apresenta um “mau estado de conservação”.  

No estudo desenvolvido para a câmara, a TIS defende que as intervenções agora propostas “deverão permitir eliminar ou atenuar alguns dos pontos críticos existentes actualmente nesta via estruturante, resultando numa circulação mais fluida e mais segura para todos os utilizadores”.

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