Espinho recria dia de praia à moda antiga este domingo

Banhistas de touca e roupa comprida invadem a Praia das Sereias, num evento que junta dezenas de figurantes.

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A iniciativa "Vir a Banhos" já se realiza, com muito sucesso, há 11 anos Paulo Ricca

A Praia das Sereias, em Espinho, acolhe no domingo a recriação "Vir a Banhos", em que dezenas de figurantes trajam fatos balneares do início do século XX para revelar hábitos de tempos com "mais saúde" e "maior pudor".

Essa recriação histórica é uma iniciativa da Câmara Municipal e na sua 11.ª edição conta com figurantes de quatro colectividades locais, que asseguraram a confecção dos seus próprios trajes e os adereços cénicos que ajudam a transformar uma área restrita do areal num cenário da época áurea de Espinho enquanto destino turístico e terapêutico.

Rosa Monteiro integra o Rancho Folclórico de Silvalde, mas, quando às 15h30 começar a desfilar pelas ruas da cidade em direcção à praia, usará assim "touca de pano no cabelo, uma camisa larga até ao joelho em riscas bordeaux e azuis, e ainda calções um bocadinho acima do tornozelo".

Carlos Alberto Oliveira, do Grupo Evida, ainda não sabe que indumentária irá usar, mas nota que, na época retratada, "os homens até podiam ir de fato, gravata e chapéu, limitando-se a puxar as calças um bocadinho para cima se quisessem molhar os pés".

Para Rosa, essas escolhas refletiam "tempos de mais pudor, em que só se ia à praia por razões de saúde, para apanhar os chamados ares do mar". Famílias de Viseu e Vila Real acomodavam-se em Espinho sobretudo para tratar problemas do foro respiratório e era frequente que os médicos prescrevessem-se aos seus doentes "sete banhos por dia", o que Carlos relaciona com a ideia de que haverá sete vagas para aproveitar em cada maré.

A quem bastasse respirar o aroma iodado da maresia estava reservada a sombra e na água aventuravam-se apenas os mais doentes ou mais corajosos. "É que naquele tempo quase ninguém sabia nadar e as pessoas tinham muito medo do mar", explica Rosa. "Alguns até contratavam banheiros profissionais com antecedência, para serem eles a levar à água as crianças e jovens", complementa o colega.

O excesso de vestuário não facilitaria os tratamentos marítimos, devido ao peso da roupa quando molhada, mas, em contrapartida, proporcionava maior proteção à pele. Sem a actual cultura do bronzeado, as senhoras queriam-se então de tez branca e, "quando muito, recorriam apenas ao truque de esfregar a pele na tolha com algum vigor, para ficarem mais rosadinhas".

Carlos realça, aliás, que por aí se nota uma das evoluções mais perniciosas entretanto operadas nos usos e costumes sociais: "Naquela altura a ideia geral era de que o sol fazia mal e toda a gente andava com o corpo tapado; agora que o perigo da exposição solar está mais do que provado e temos os problemas de saúde que se veem, usa-se cada vez menos roupa na praia".

Permanecendo assim mais tempo à sombra do que no mar, os veraneantes asseguravam o seu entretenimento com livros, teatro de robertos, compras a vendedores ambulantes, contorcionistas ou sessões de fotografia à la minute, como o "Vir a Banhos" procurará recriar no domingo.

Já fora do areal, essas famílias convergiam no emblemático Café Chinês, para conversar e assistir a concertos, ou optavam pelo visionamento de filmes, porque "Espinho foi um dos primeiros locais do país a ter cinema". Essa seria, afinal, mais uma das razões pelas quais a cidade era então conhecida como "a Cascais no Norte".

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