Espectáculo recria as epopeias de uma viagem ao bacalhau

Cidadãos transformam-se em actores e músicos, numa peça que é apresentada a bordo de um antigo navio bacalhoeiro. Projecto acontece no âmbito do Festival do Bacalhau, que irá decorrer em Ílhavo.

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Adriano Miranda
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“Adeus meu povo. Família e amigos em breve nos abraçaremos de novo. Que a alegria esteja sempre presente em vós”. A frase é proclamada por uma actriz, mas bem que podia ter sido dita por um qualquer pescador, momentos antes de o navio apitar e largar do cais, para rumar aos mares frios da Terra Nova e Gronelândia, em busca do “fiel amigo”. Uma declaração que retrata uma vivência que marcou, durante décadas, as comunidades piscatórias portuguesas e que o Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) fez questão de retratar num espectáculo – intitulado “Nem tudo o que vem à rede” – que estará em cena nos próximos dias 13, 14 e 15, num cenário muito especial: o navio-museu Santo André, antigo arrastão da pesca do bacalhau (que está atracado no Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré), e que foi ele próprio responsável por tantas partidas e chegadas.

Mas não é apenas pela envolvência e pelo palco que esta exibição teatral e musical gera expectativa. Os protagonistas do espectáculo são cidadãos comuns, com idades entre os 16 e os 74 anos, que decidiram responder ao desafio do MMI para ser tornarem actores e músicos durante três dias consecutivos, numa produção criada propositadamente para o Festival do Bacalhau 2015, que irá decorrer precisamente no espaço onde está atracado o navio-museu.

Durante a última semana, e até ao dia de estreia, têm ensaiado de segunda a sexta-feira, três horas diárias. Na certeza de que, em cada dia de trabalho, a participação de cada cidadão não se resume a decorar ou proclamar algumas frases. “Este espectáculo partiu do zero, sem nenhum texto previamente criado. Tudo tem sido feito com a participação dos actores, ou seja, dos cidadãos”, evidencia Graeme Pulleyn, encenador responsável pela produção, juntamente com a compositora Ana Bento. “Trouxemos aqui aos ensaios dois antigos pescadores e ouvimos as suas histórias e relatos. E a partir daqui temos estado a construir o texto”, acrescenta o encenador.

O espectáculo ainda não está totalmente fechado – segundo Graeme Pulleyn, pode haver acrescentos e contributos até à primeira apresentação –, mas é já garantido que a história gira à volta do Capitão Ulisses, “uma figura ficcionada, mas que parte da personagem criada por Homero e também das experiências que ouvimos da boca dos antigos pescadores de bacalhau de Ílhavo”, desvenda o encenador. “Serão apresentados e retratados vários episódios de uma viagem à pesca do bacalhau, sempre em locais diferentes do navio: desde o porão de salga, passando pela cozinha, pela ponte, pelo camarote do capitão, entre outros”, revela ainda o encenador. E fica também já uma certeza: o público irá mover-se ao longo do espectáculo, acompanhando os actores para os locais onde decorrem cada uma das cenas.

Um cenário quase real
O PÚBLICO acompanhou um dos últimos ensaios deste grupo de actores e músicos amadores. No convés do antigo arrastão, confirmam as suas respectivas posições e falas para a cena que abre o espectáculo: o momento da largada do navio. Pronunciam-se palavras de despedida – um marido que promete à mulher chegar antes do filho nascer, um filho que tenta descansar a mãe, dizendo-lhe que irá chegar bem – e de fé em Deus, até ao aceno final. Sujeitos a um vento e frio pouco próprios de uma tarde de final de Julho, os actores, ainda que amadores, não cedem às contrariedades e repetem a cena até chegar à perfeição. A sua única distracção vem das traineiras “Vera Marina” e “Três Sorrisos” que estão nesse preciso momento a largar para o mar – o navio-museu Santo André está atracado nas proximidades do porto de pesca costeira – e cujos tripulantes fazem questão de acenar, de forma entusiasta, para os actores que estão a vestir a pele de pescadores.

“Este espaço é inspirador. É incrível  trabalhar num sítio destes”, avalia a compositora Ana Bento. Ainda que, tal como Graeme Pulleyn, esteja habituada a desenvolver trabalhos com a comunidade, a compositora assume que está a sentir esta produção de uma forma muito especial. “Fascina-me esta temática do mar. Sou do interior, mais concretamente de Viseu, e o mar faz parte do meu imaginário”, confessa Ana Bento.

Descobrir o mundo dos antepassados
Ana Ermelinda tem 16 anos, é uma das actrizes mais novas que integra o espectáculo. Residente na Gafanha da Encarnação, concelho de Ílhavo, foi atraída pela “vontade de ganhar experiência no teatro”. “É isto que quero seguir, ao nível dos estudos, e achei que seria interessante participar”, relata. A esta vontade juntou-se, depois, o facto de, como a grande maioria dos cidadãos ilhavenses, ter tido vários homens da família a trabalhar na pesca do bacalhau. “Está a ser muito interessante descobrir o mundo do meu avô e dos meus tios”, acrescenta, sem deixar de notar que houve uma curiosidade, em particular, que a marcou: “a primeira vez que eles iam para a pesca do bacalhau, tinham de dar um beijinho ao primeiro peixe que apanhavam. Era uma espécie de praxe”.

Outra das participantes, Margarida Albuquerque, de 61 anos, confessa que foi impelida a participar pela “vontade de partilhar experiências com outras pessoas”. “E também pela oportunidade de trabalhar com o Graeme, pois já tinha ouvido falar que ele era fantástico”, acrescenta. Residente em Eixo, Aveiro, e sem qualquer tipo de ligações familiares ao mundo da pesca do bacalhau, Margarida Albuquerque assegura que “desde há muito” que se sente fascinada com a história e as tradições das grandes aventuras vividas pelos homens portugueses ao largo da Terra Nova e da Gronelândia. “Também por isso, decidi participar nesta peça e tentar descobrir um pouco mais”, remata.

Apresentações sempre à mesma hora
O espectáculo tem exibições marcadas para os três dias mais fortes do Festival do Bacalhau 2015 – que se estende entre os dias 12 e 16. Assim sendo, nos dias 13, 14 e 15, sempre às 19 horas, é possível assistir à apresentação protagonizada por 25 actores e músicos amadores e coordenada por Graeme Pulleyn e Ana Bento.

Segundo foi anunciado pelos responsáveis do MMI, para assistir às apresentações, o público apenas terá de adquirir o bilhete de entrada no navio, que por ocasião do Festival do Bacalhau tem um preço especial (um euro). 

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