Em Guimarães vai pagar-se apenas pelo lixo comum que é produzido

Tarifa de resíduos deixa de estar indexada à factura da água, num projecto-piloto que quer promover a reciclagem e vai mudar as regras de recolha no centro histórico da cidade

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A recolha dos materiais recicláveis será gratuita. A cobrança passa a ser feita em função do número de sacos de lixo comum depositados ENRIC VIVES RUBIO

Os habitantes do centro histórico de Guimarães vão passar a pagar apenas pelo lixo indiferenciado que produzem. No início do próximo ano, arranca um projecto-piloto que pretende estimular a reciclagem e que vai mudar a forma como é cobrada a tarifa de resíduos, actualmente indexada à factura da água. A recolha do lixo na área central da cidade, também passa a ser feita porta-a-porta.

O sistema que vai ser implementado chama-se Pay As You Throw (Paga o lixo que produz, na tradução usada pelo município). Actualmente, a tarifa de resíduos é cobrada juntamente com a factura da água e saneamento e está indexada ao respectivo consumo. A partir de agora, o custo será determinado em função do número de sacos de lixo depositados, garantindo que os habitantes e comerciantes pagam apenas pelos resíduos que produzem. “Rapidamente as pessoas vão perceber que isto é mais justo para elas”, defende a chefe de divisão de serviços urbanos da autarquia, Dalila Sepúlveda, que desenvolveu este projecto.

O Pay As You Throw (PAYT) pressupõe uma mudança radical na forma como é feita a recolha do lixo no centro da cidade. A autarquia vai distribuir gratuitamente nos próximos meses ecopontos domésticos para que todas as pessoas possam fazer a separação dos resíduos em casa. A recolha dos materiais recicláveis será sempre gratuita. A cobrança passa a ser feita em função do número de sacos de lixo comum que serão depositados. Os sacos vazios serão também distribuídos sem custos para os utilizadores.

Para permitir a operacionalização da ideia, todos os contentores de recolha vão ser retirados do centro histórico da cidade. O lixo deve, por isso, passar a ser depositados num veículo elétrico, que fará a recolha porta-a-porta, com passagens a cada duas horas pelas ruas da cidade. Para situações imprevistas, existe também um número verde para o qual os habitantes e comerciantes vimaranenses poderão ligar para pedir que seja feita a recolha dos resíduos fora dos horários determinados.

O projecto “só funciona se houver um diálogo permanente com os habitantes e os comerciantes do centro histórico”, reconhece o vice-presidente da Câmara, com o pelouro do Ambiente, Amadeu Portilha. Por isso, a primeira fase de implementação do PAYT, até ao final deste ano, servirá sobretudo para “fazer pedagogia” junto da população para todas as mudanças que vão ocorrer. Em Janeiro, arranca a nova forma de recolha e, a partir de Março, a cobrança em função do lixo efectivamente produzido. Como garantia para a fase de adaptação à nova realidade, a câmara assegura que, no primeiro ano de vida do projecto, ninguém vai pagar mais do que pagaria se se mantivesse o sistema antigo.

O PAYT vai ser testado, durante o próximo ano, na zona histórica de Guimarães, desde o Paço dos Duques, até à área classificada como Património Mundial pela Unesco. A intenção dos responsáveis vimaranenses é alargar o perímetro desta nova forma de recolha do lixo, de forma radial, ao longo de 2017, primeiro às principais artérias comerciais fora da zona amuralhada e depois para o antigo bairro industrial de Couros.

O projecto foi desenvolvido pela Chefe de Divisão de Serviços Urbanos da Câmara de Guimarães, Dalila Sepúlveda, no âmbito do seu projecto de mestrado, e tinha sido considerado, no início do ano, a melhor obra escrita dos Green Project Awards promovidos pela Sociedade Ponto Verde. O prémio acabou por “acelerar a implementação” de uma ideia para a qual a autora diz ter sentido, desde o início, o interesse da autarquia. A preparação da candidatura de Guimarães a Capital Verde Europeia de 2020 – cujo processo tem que ser desenvolvidos nos próximos dois anos – acabou por dar o “empurrão definitivo”, uma vez que a gestão de resíduos é um dos aspectos valorizados pelo júri deste galardão internacional.

Cigarros e pastilhas elásticas vão ser valorizados
Pontas de cigarro e pastilhas elásticas vão deixar de ser uma presença comum no chão de Guimarães, se a população aderir a um novo projecto lançado pela autarquia, em colaboração com o Centro para a Valorização de Resíduos (CVR) da Universidade do Minho. Duas novas peças de mobiliário urbano serão instaladas em diferentes pontos da cidade a partir dos próximos dias, possibilitando a recolha destes materiais e a sua transformação em novos produtos.

O Papa-Chicletes e o EcoPontas serão os locais indicados para colocar as pontas de cigarros e as pastilhas elásticas usadas. A iniciativa pretende não só reduzir a quantidade destes resíduos que são lançados para o chão, mas também proceder à sua valorização. Por exemplo, é possível transformar as pastilhas elásticas em novos plásticos e as pontas dos cigarros podem ser recicladas em papel. Os investigadores do CVR estão também a estudar soluções para a utilização deste produtos na produção de energia ou na transformação em compostos que podem ser usados na agricultura.

As duas estruturas serão colocados em nove pontos do centro da cidade, em locais muito procurados por visitantes como o Paço dos Duques de Bragança, o Largo do Toural ou a Plataforma das Artes, mas também em espaços frequentados sobretudo por jovens como o polo da Universidade do Minho ou as escolas secundárias.

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