Eles querem pôr a cidade a mexer na palma da nossa mão

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Os criadores do moveOporto estão já a desenvolver versões da aplicação para Ipad e outros dispositivos Foto: Fernando Veludo/NFactos

Algumas horas antes de o FC Porto marcar cinco golos ao Villarreal no Estádio do Dragão, Sérgio Oliveira apanhou o metro para Vila Nova de Gaia. Uns lugares à frente, um grupo de espanhóis recorria ao iPhone para descobrir onde acabar a noite. Mal sabiam eles que, a poucos metros, o criador da moveOporto, a aplicação que utilizavam, os observava atentamente.

"Claro que fiquei todo orgulhoso", confessa Sérgio, programador de 26 anos. Poucos dias depois, a app alcançava o primeiro lugar na categoria de Travel da App Store Portugal, terminando a semana de lançamento como a aplicação portuguesa com mais downloads.

Até agora, cerca de três mil pessoas descarregaram a moveOporto, uma aplicação, para já apenas disponível para iPhone e iPod Touch, que pretende dar a conhecer o lado alternativo do Porto. Neste guia móvel não há espaço para a Casa da Música ou o Café Majestic, locais já badalados do circuito turístico da cidade. O objectivo é divulgar todos os sítios que não estão à vista desarmada, numa altura em que o turismo na cidade tem vindo a aumentar. "Trabalho na Baixa e quase todos os dias dou indicações a turistas", realça Sérgio, o web developer cujo maior passatempo é programar.

Tudo começou numa viagem a Berlim em Agosto do ano passado. Sérgio bem que se socorreu dos mais variados guias, mas depressa os abandonou. É certo que andou metade da viagem colado ao ecrã do seu iPhone, mas só assim conseguiu conhecer todas as galerias de arte urbana e lojas alternativas que não aparecem nos roteiros convencionais. De regresso ao Porto, juntou três amigas e lançou-lhes uma "bomba": "Vamos fazer um guia digital de locais interessantes e diferentes do Porto." Elas só tiveram uma resposta. "Uau!", vocaliza, entre risos, Marlene Vinha, professora de Artes e companhia da viagem a Berlim, que logo se juntou ao projecto, tal como a irmã, Diana Isabel Vinha, consultora de imagem, e Rita Roque, estudante de mestrado em Estudos Artísticos.

Os quatro "sempre gostaram de se perder na cidade", diz Rita. "Sentimos uma necessidade muito forte de conhecer novos sítios e estarmos atentos." Eis os insiders da equipa da moveOporto, os batedores que calcorreiam a cidade por gosto para recolher spots. Até agora, a aplicação tem 114 locais listados e mais uma centena em espera. É um processo moroso, pois implica que "os espaços queiram contribuir", explica Marlene, seja no envio da informação, seja na receptividade da ideia. "Fazemos sempre um primeiro contacto com o sítio, por e-mail ou presencialmente, mas as pessoas tendem a ficar reticentes em preencher um simples formulário." A reacção é sempre a mesma: "Mas temos de pagar alguma coisa?" A gratuitidade cria desconfiança, mas a ideia é que sejam os próprios sítios a dar a informação. "Para ser mais credível!", afiança Marlene. "Às vezes quase imploramos para aderirem", desabafa Sérgio.

Sitios estão geolocalizados

O foco central da aplicação são os locais, os spots, o termo anglo-saxónico que preferem utilizar, não por obstinação, mas porque a moveOporto está disponível também em inglês (a escolha do nome, aliás, não foi aleatória, já que pode ser lido nas duas línguas). O utilizador pode navegar pelos locais através de categorias como Noite, Alojamento ou Café & Co. Na secção Buzz encontram-se eventos e notificações dos novos locais adicionados. Graças à função de geolocalização, pode-se ficar a saber onde e a que distância se encontram os sítios. Através de um curto registo, é igualmente possível guardar spots nos favoritos ou, à boa maneira do Facebook, adicionar um like. A opção de check-in regista a entrada num determinado sítio. Ao fim de um dado número de check-ins, o utilizador pode ser convidado para ser insider e assim guiar outras pessoas pelo Porto. Para além dos quatro da equipa central, seis criativos já colaboram no projecto como insiders convidados.

"É uma forma de divulgar o trabalho de pessoas que fazem algo pela cidade", explica Sérgio, que gostava de ver uma rede social de portuenses a formar-se naturalmente. Para um futuro - que se espera breve - mais funções vão ser implementadas. O programador quer promover a integração da aplicação com o Facebook, Twitter e Foursquare e explorar os códigos QR (espécie de código de barras que, ao ser lido por um dispositivo móvel, desbloqueia informação). A função de check-in, por exemplo, pode valer uma bebida. "Vamos fazer acordos com os locais para que uma pessoa que faça check-in várias vezes nesse espaço possa ganhar uma cerveja, por exemplo." A caminho vêm as versões para Android e iPad, que Sérgio prevê estarem prontas dentro de um mês e dois, respectivamente. Será também lançada uma versão para dispositivos móveis mais antigos.

Para já, todo o trabalho da equipa é voluntário. Também a aplicação é gratuita e assim vai continuar. Mesmo que seja angariada publicidade, o máximo que pode acontecer é ser lançada uma versão paga sem anúncios. "O objectivo é divulgar o Porto. Eu tenho uma paixão grande pela cidade e pelo comércio tradicional", admite Sérgio, que passou a infância na Boavista entre peixeiras, floristas e talhantes, sob o olhar atento do avô, comerciante no Mercado do Bom Sucesso há já 50 anos. Diana vai mais longe: "As pessoas não têm noção do privilégio que é morar no Porto. Acham que tudo o que está lá fora é melhor, quando cá até temos espaços de qualidade superior."

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