EDIA confirma mancha de jacinto-de-água a três quilómetros do Alqueva

Nos últimos três anos a planta aquática percorreu cerca de 60 quilómetros, rompeu barreiras colocadas à sua progressão, resistiu à recolha maciça e já se encontra em território português.

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Planta invasora prejudica a qualidade da água Paulo Ricca/Arquivo

O jacinto-de-água (Eichhornia crassipes), planta infestante oriunda da bacia amazónica, já “atingiu a fronteira entre Portugal e Espanha, coincidente com a confluência do rio Caia” confirmou ao PÚBLICO a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA). Há três anos o foco mais extenso da praga encontrava-se retido em Mérida, a cerca de 60 quilómetros da fronteira portuguesa.

A mancha de uma das mais perigosas e resistentes pragas aquáticas do mundo encontra-se, neste momento, a cerca de três quilómetros do início da albufeira do Alqueva (na zona da ponte da Ajuda), apesar de a Confederação Hidrográfica do Guadiana (CHG), entidade responsável pela gestão da bacia do rio ibérico em território espanhol, ter instalado recentemente mais uma barreira para impedir a sua progressão para território português.

Ao todo, as autoridades espanholas já colocaram sete quilómetros de barreiras no Guadiana para travar a progressão do jacinto-de-água. A EDIA instalou duas barreiras, uma delas junto à fronteira. A empresa que detém a concessão do domínio público hídrico do Alqueva diz que está fazer a recolha da planta “a jusante da fronteira com Espanha”, através de intervenções semanais “realizadas com meios técnicos e humanos da EDIA”. 

No final de 2012, a subida repentina do caudal do Guadiana em território espanhol provocou a ruptura nas barreiras de protecção (redes) colocadas na linha de água para impedir a proliferação de planta. Na ocasião, o director técnico da CHG, José Martínez, admitiu que alguns dos fragmentos “poderiam vir a colonizar Alqueva”, admitindo que se tal viesse a acontecer seria um desastre ambiental de “consequências graves”.

Os receios confirmaram-se e em meados de 2014 a EDIA iniciou a extracção não apenas de fragmentos, mas sim de plantas inteiras, concentradas numa mancha retida nas barreiras que colocou no Guadiana em território nacional. 

A presença do jacinto-de-água acaba também de ser registada, pela primeira vez, frente a Badajoz. A CHG informou os órgãos de comunicação locais que a mancha tem um hectare de extensão, e que está a enviar de Mérida meios humanos e mecânicos para retirar o tufo que está imobilizado no troço do Guadiana junto à cidade espanhola.

Em resposta ao PÚBLICO, a EDIA admite que a presença da infestante aquática junto à confluência com o rio Caia “é preocupante”, em especial por se tratar de uma espécie invasora “com elevada capacidade de dispersão e consequentemente com elevada capacidade de degradação da qualidade da água”. A empresa diz “estar consciente das implicações” associadas a eventos extremos, “nomeadamente cheias significativas no Outono", quando a planta “ainda apresenta vigor vegetativo e consequentemente capacidade de flutuabilidade e de colonização”, subsistindo o receio de que “tal possa vir a acontecer em relação ao Alqueva”. 

Quando as primeiras manchas de jacinto-de-água foram detectadas no troço do médio Guadiana, em Mérida, em 2005, uma equipa de investigadores da Universidade da Extremadura afirmou ser impossível que a planta invasora chegasse a Badajoz. Decorrida uma década, a planta chegou às portas do Alqueva.

Acresce ainda que numa massa de água de grandes dimensões, onde desaguam 37 ribeiras cujas bacias, no seu conjunto, preenchem uma área com 4200 quilómetros quadrados, as variações térmicas sazonais provocam inevitavelmente o afloramento de nutrientes e de matéria orgânica, o que prejudica a actividade biológica na albufeira e nos seus afluentes. A qualidade da água deteriora-se ao longo do período da Primavera-Verão, criando o habitat propício à proliferação das plantas invasoras.

As autoridades espanholas recolheram em dez anos quase 300 mil toneladas de jacinto-de-água e investiram cerca de 25 milhões de euros nas diversas intervenções efectuadas, sobretudo em 2009. Mesmo assim já admitiram ser impossível erradicar a infestante exótica.

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