Dragagens em época balnear contestadas na praia da Foz do Arelho

As dragagens em curso na lagoa de Óbidos aproximaram-se da zona de praia de bandeira azul contra a vontade do presidente da Junta da Foz do Arelho.

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Sara Matos

Por estes dias os banhistas da praia da Foz do Arelho têm um elemento recreativo na zona da lagoa. Não são insufláveis para dar saltos e mergulhos, mas sim um extenso tubo, com flutuadores de cor amarela, que atravessa a zona de praia voltada para a lagoa e pelo qual circulam os dragados, que são expelidos para o areal umas centenas de metros mais à frente.

Nadar até ao tubo colorido, sentar-se, circular por ele, ou saltar para a água constitui o novo atractivo da Foz do Arelho. Aparentemente não há grandes perigos, dado que o material de que é feito o tubo é plástico. O impacto visual deste equipamento em plena praia é que não é o mais agradável. Mas pior é uma pesada máquina que espalha os dragados e que trabalha na zona da “aberta” (canal de comunicação entre a lagoa e o mar) com um ruído que se sobrepõe ao barulho do mar.

As dragagens na lagoa de Óbidos começaram no início do Verão e, na altura, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) avisou que iriam “surgir alguns condicionamentos na utilização da praia” devido à “movimentação de embarcações em zona imersa e de máquinas na zona emersa”.

Trata-se de dragar 650 metros cúbicos de areia, abrindo e aprofundando canais ao longo de 5,3 quilómetros na zona da lagoa de que fica mais perto do mar. Segundo a APA, o objectivo é “contrariar o fenómeno de assoreamento e melhorar as condições hidrodinâmicas e de qualidade da água no interior deste sistema dunar”.

Durante as primeiras semanas a draga laborou a uma razoável distância da praia, tendo os dragados (sobretudo areais) sido depositados na suas margens (uma segunda draga trabalha na margem sul da lagoa de Óbidos sem quaisquer impactos negativos). Mas em meados de Agosto as operações mudaram radicalmente: a embarcação aproximou-se da zona balnear e foi colocado o tal tubo sobre a água para depositar os dragados mais próximo do mar. As autoridades cortaram ainda o acesso a uma zona de areal junto à “aberta”, para desespero de muitos pescadores e veraneantes que procuravam naquela área o sossego que nem sempre se tem junto às barracas e chapéus de sol. Sossego esse que ficou também afectado pelo trabalho de uma máquina de grande porte.

O presidente da Junta de Foz do Arelho, Fernando Sousa, protestou contra estes preparos numa praia que há décadas ostenta orgulhosa a bandeira azul e que é frequentada no pico de Verão por milhares de pessoas. O secretário de Estado do Ambiente, Paulo Lemos (que reside na zona), explicou que razões técnicas obrigaram a que os trabalhos de dragagem seguissem este método.

O autarca da Foz do Arelho diz que ficou esclarecido e que aceita as justificações. Mas contou ao PÚBLICO que foi “confrontado e enxovalhado” por muitos dos seus fregueses por a junta permitir as dragagens tão perto da praia e a deslocação de uma máquina de grande porte por um areal repleto de banhistas. Deslocação essa que continua a ser diária, porque o “caterpillar” desloca-se de manhã para a zona da “aberta” e recolhe à marginal a meio da tarde quando a praia ainda continua com muita gente.

A grande expectativa agora são a segunda fase das dragagens. Estas, sim, bastante afastadas da praia porque estão previstas para montante, nos braços da lagoa de Óbidos, onde esta se encontra mais assoreada. Autarcas e movimentos cívicos questionaram-se por que é que se começou a dragar a jusante e não a montante como seria mais lógico. E temem que a segunda fase deste projecto não prossiga, o que significaria deitar por terra o trabalho agora realizado.

O secretário de Estado do Ambiente, em declarações ao PÚBLICO, assegura que sim. “A APA vai apresentar uma candidatura aos fundos comunitários do POSEUR [Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos] até Setembro. Depois a candidatura é analisada e será lançado um concurso o mais tardar até ao primeiro trimestre de 2016 para que as obras se iniciem ainda nesse ano”.

Paulo Lemos diz que este é um processo que não deverá ser alterado pelo resultado das eleições legislativas. Mas nas Caldas da Rainha e em Óbidos (os dois concelhos confinantes com a lagoa) teme-se pela continuidade das dragagens.

“Eu tenho muito medo”, diz o presidente da Junta da Foz do Arelho. “Se não pensarem avançar com a segunda fase nos braços da lagoa, mais vale pararem já, porque então isto é dinheiro deitado à rua”.

Na semana passada, numa acção de pré-campanha, os candidatos da CDU do distrito de Leiria visitaram o local e mostraram a sua preocupação pela falta de intervenções continuadas e integradas na lagoa de Óbidos que, segundo eles, são um dos grandes problemas daquele ecossistema. Uma opinião que, de resto, é comum a todos os partidos e grupos de cidadãos que se preocupam com a lagoa.

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