Dono dos touros fugitivos está disponível para tentar evitar que o seu destino volte a ser o matadouro

Criador explica no entanto que "é um homem de palavra", e só livrará os animais da morte se o talhante a quem os prometeu vender recuar no negócio.

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Os touros resistiram às tentativas de os caçar com uma vaca, a Galega. Um continua em fuga Nuno Alexandre Mendes

Manuel Farinhoto, o proprietário dos dois touros de raça galega, com mais de 500 quilos, que a 6 de Maio fugiram do destino, o matadouro, reconhece que agora, depois de tudo o que se passou, até preferia que os animais pudessem viver em liberdade, como defende um movimento entretanto criado no Facebook.

O criador de gado de Perre, em Viana do Castelo, já foi contactado pelo movimento online que lançou uma campanha de angariação de 2500 euros para comprar os animais e devolvê-los à liberdade. No entanto, explicou ao PÚBLICO que essa solução depende da decisão do talho de Ponte de Lima a quem vendeu os touros. Um deles, o mais agressivo, já foi capturado o outro continua a monte.

O agricultor de 66 anos confirmou o contactado de Miguel Dinis, o publicitário de Lisboa que criou um movimento no Facebook que procura empresas detentoras de marcas que utilizem na sua promoção a imagem de animais. Manuel Farinhoto até ficou agradado com a ideia mas realça que é “um homem de palavra”.

“Primeiro tenho que falar com o dono do talho que mos comprou para ver se ele os quer ceder. A ideia não é má, para os bichos é melhor. Neste momento estou preso porque já tinha feito negócio com ele apesar dele me ter desprezado quando eles fugiram”, adiantou. O agricultor reconheceu que ainda não recebeu os 2.500 euros, o valor comercial dos dois animais, mas o negócio, frisa, estava combinado.

Passada quase uma semana desde o regresso ao estábulo, o touro mais agressivo ainda não está totalmente restabelecido. “Vai comendo mas, ainda come um bocado na ponta do dente. Lá come um bocado de ervas e ração mas ainda está um pouco traumatizado”, explicou Manuel Farinhoto. Criador de gado há mais de 50 anos Manuel Farinhoto estima que sejam ainda necessários ainda mais uns oito dias de recuperação.

Para o sucesso da captura do touro mais agressivo foi determinante a intervenção de elementos da Associação de Criadores de Garranos e Barrosã de Santa Luzia, apoiados por militares do Serviço Protecção da Natureza e do Ambiente (Sepna) da GNR. O animal foi capturado, domingo passado, apenas com recurso a cordas. O outro, que continua à solta, já voltou a ser avistado, na mesma zona onde foi capturado o mais violento, no lugar de Ramalhão, na freguesia vizinha de Outeiro, a cerca de quatro quilómetros da quinta de onde fugiu.

A história dos dois touros fugitivos sensibilizou Miguel Dinis. O autor da página “Touros em Fuga” criada no passado dia 10 nas redes sociais, publicou esta sexta-feira uma carta aberta ao proprietário com a proposta de compra dos touros tentando assim evitar que o destino dos animais volte a ser o matadouro. “Tenho recebido muitas ofertas de donativos de particulares mas acho que não têm que ser sempre os mesmos a serem solidários. O apelo é para as empresas que utilizam e exploram a imagem dos animais”, sustentou.

Licenciado em Marketing e Publicidade e actualmente desempregado, Miguel Dinis explicou ao PÚBLICO que ficou “muito tocado com a luta pela sobrevivência” protagonizada pelos animais. Ainda não tfoi contacto por nenhuma empresa disposta a associar-se à esta causa, mas continua com esperança.

“O que me choca em tudo isto é que as empresas tem preocupações com a obtenção do lucro. Utilizam os animais na promoção das suas marcas mas depois não têm preocupações ambientais nem de preservação das espécies” mas, também reconheceu ter ficado “apreensivo”pelo facto das organizações de defesa dos animais “não terem reagido no sentido de apontar outra solução que não o abate”.

O publicitário de 37 anos garantiu não ter quaisquer ligações a outros movimentos e, sublinhou, nem sequer pretende entrar na polémica das touradas. “Não contra ou a favor das touradas. Sou pelos animais. Não é isso que pretendemos. Queremos obter contributos para, pagando o preço justo que o criador pretende, adquirir os dois touros e encontrar uma herdade que os receba em liberdade", explicou.

Miguel Dinis está convencido que o movimento “Touros em Fuga” criado no passado dia 10 nas redes sociais, que já reúne mais de 500 pessoas, não se vai esgotar neste caso. “Desejamos que este caso possa servir de inspiração para práticas mais justas e equilibradas. O país não pode estar rodeado de mensagens negativas, também precisa de histórias positivas”, adiantou

De malas quase prontas para emigrar para a Alemanha para arranjar emprego. Miguel Dinis não quer deixar o país sem lançar uma mensagem de esperança. “ Tenho a certeza que este movimento não se vai esgotar com este caso. Desejamos que este caso possa servir de inspiração para práticas mais justas e equilibradas”, rematou.

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