Documentário para cinema vai seguir o rasto dos refugiados da II Guerra em Portugal

Caldas da Rainha, Estoril e Lisboa aparecem em Debaixo do Céu com imagens de arquivo dos anos 40 e na actualidade.

Foto
Adriano Miranda

Onde estão hoje os refugiados que passaram por Portugal fugidos do nazismo? Quais são as suas memórias de fuga e como chegaram ao porto de abrigo no extremo da Europa? Como viam os portugueses que os acolheram? Como partilham hoje esse legado?Eis as perguntas que “Debaixo do Céu” procura responder numa longa metragem que traz para o presente os dramas e aventuras dos refugiados judeus da II Grande Guerra. Realizado por Nicolas Oulman, um português de origem judaica, o filme dá a conhecer testemunhos contados na primeira pessoa e inúmeros documentos escritos, fotografias e imagens de arquivo dos anos quarenta do século passado.

Uma equipa da produtora Ukbar, esteve no início do mªes nas Caldas da Rainha onde recolheu imagens de alguns dos sítios mais emblemáticos que se cruzaram com os refugiados: a estação de caminhos-de-ferro, a Praça da Fruta, o Hospital Termal, o Parque, o antigo Hotel Lisbonense. Tudo locais frequentados pelos estrangeiros que afluíram aquela cidade durante a guerra.

A equipa filmou também o edifício do Museu do Ciclismo onde nos anos quarenta funcionava a delegação da PVDE (mais tarde PIDE) que controlava os refugiados, bem como a fábrica de Faianças de Bordalo Pinheiro que ainda permanece na memória de alguns dos então residentes.

Joaquim Nazaré, um caldense que andou na escola com crianças refugiadas, deu também o seu testemunho sobre o espanto que era, na época, o contacto com pessoas vindas de uma Europa já na altura bem mais moderna do que Portugal. As mulheres, de saias curtas, a jogar ténis no parque, que fumavam, que frequentavam cafés, escandalizavam e divertiam a sociedade caldense. A verdade é que a cidade termal acabaria por se emancipar ao nível dos costumes graças à influência dos estrangeiros.

Nos testemunhos recolhidos na Argentina e nos Estados Unidos, os refugiados de então recordam o bom acolhimento dos portugueses, apesar de acharem que Lisboa parecia uma aldeia ou que o país parecia parado no tempo. No entanto, dizem também que Portugal era um paraíso para quem vinha fugido da guerra. Havia luz eléctrica, pessoas nas ruas, comida e, sobretudo, paz.

Para os adultos, só a inquietação de obter vistos para rapidamente fugir para ainda mais longe (a esmagadora maioria cruzou o Atlântico) os impedia de desfrutar do clima e do acolhimento português. Mas para as então crianças – que constituem hoje a maioria dos entrevistados no documentário – Portugal era simplesmente um paraíso, um local de onde alguns partiram contrariados.

“Debaixo do Céu” deverá estar terminado no primeiro trimestre de 2016 e, após a obrigatória passagem pelos festivais internacionais de cinema, deverá chegar às salas de cinema.

 

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