Direcções regionais de cultura tentam relançar Inventário Nacional do Património Imaterial

Direcção de Cultura do Norte organiza seminário dirigido a entidades locais, para as alertar para a importância de salvaguardar manifestações tradicionais importantes

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A festa dos Bugios e Mouriscos de Sobrado, Valongo, quer chegar à lista de património imaterial da Unesco Paulo Pimenta
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A Capeia Arraiana, do sabugal, é uma tradição que movimenta gente dos dois lados da fronteira Bruno Simões Castanheira
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As Festas Nicolinas são, há muito, uma imagem de marca de Guimarães, atraindo gente de outros concelhos Luís Efigénio/NFactos
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O Cante Alentejano pode entrar este ano na lista de Património Mundial Imaterial Nuno Ferreira Santos

Uma capeia de touros ancestral, como a que se faz no Sabugal, parece ter pouco ou nada em comum com as técnicas de fabrico tradicional de sabão em Mogadouro, ou, saindo da raia, com as Festas Nicolinas de Guimarães. Mas o que une estas manifestações de lazer e trabalho é o facto de serem reconhecidas como património, imaterial, no caso, dos respectivos concelhos, e de estarem a ser feitos esforços para a sua preservação e valorização cultural e turística. No ano em que a Unesco volta a analisar uma candidatura portuguesa, a do Cante Alentejano, à sua lista mundial de Património Imaterial, na qual estão já o Fado e a Dieta Mediterrânica, as direcções regionais de cultura tentam dinamizar o Inventário Nacional deste tipo de manifestações.

A Capeia Arraiana, as Nicolinas, a arte dos santeiros de São Mamede do Coronado (Trofa), as Bugiadas de Sobrado, Valongo e outras manifestações culturais vão servir de mote para um seminário, agendado para 17 de Março, na Casa das Artes do Porto, que pretende chamar a atenção de técnicos das autarquias, dirigentes associativos e outros agentes, como os investigadores, para a importância do Inventário Nacional de Património Imaterial. Criado depois da transposição para a lei portuguesa, em 2009, dos preceitos da Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial, aprovada pela UNESCO em 2003, o inventário implica, num primeiro momento, a identificação das tradições que importa preservar. E esse, considera o actual director regional de Cultura do Norte, António Ponte, é um trabalho que depende muito de quem está próximo do terreno.

O seminário é organizado pela DRCN em colaboração com a Direcção Geral do Património Cultural e António Ponte espera que a partilha de experiências mais consolidadas, como as que ali vão ser apresentadas, ajude agentes dos vários concelhos do Norte a despertar para a importância deste tipo de património. Ainda que nem todo tenha o potencial de uma candidatura à lista da UNESCO, localmente, quer para a coesão das comunidades que se envolvem nestas tradições, quer para as estratégias de captação de turistas, mesmo que a uma escala municipal ou regional, elas têm grande importância, destaca, lembrando que hoje, mais do que nunca, a identidade das sociedades e territórios é um aspecto valorizado por quem viaja.

O evento da Casa das Artes servirá também para ajudar a uniformizar o próprio processo de inventariação, que, depois de uma pedido de inscrição, a preencher online pelos pretendentes em www.matrizpci.dgpc.pt, passa pelo crivo da Comissão para o Património Imaterial que decide, ou não, a sua entrada no Inventário. A DRCN pretende pôr os técnicos dos serviços de cultura regionais e locais a ajudar outras entidades menos experientes a realizar este processo, essencial para uma correcta avaliação da importância e originalidade das propostas. “Este trabalho é muito importante”, nota António Ponte, lembrando que, no caso de algumas tradições, é possível fazer candidaturas europeias, em conjunto com entidades de outros países com manifestações semelhantes.

No Alentejo, o Cante, por exemplo, tem paralelos óbvios com os coros masculinos do Canto Polifónico da Córsega, a paghjella, elevado a Património Mundial em 2009. Ana Paula Amendoeira, directora Regional de Cultura do Alentejo, que há uns anos juntou estas duas tradições musicais num mesmo festival, espera que lá mais para o fim do ano a UNESCO integre também o Cante na sua lista. E aproveitando o embalo desta candidatura a DRCA vai, no segundo semestre, realizar também iniciativas públicas de promoção da importância do património imaterial, que ganha outra importância numa região que sente, de forma mais aguda que o resto do país, o problema do envelhecimento da população. Por isso, a preocupação da dirigente da DRCA vai mais para as manifestações menos mediáticas que, carecendo de atenção, correm mais riscos de se perderem com o passar do tempo.

“É preciso fazer o registo videográfico, fonográfico, fotográfico ou outro destas manifestações. Este é um trabalho de base que tem de ser assegurado por uma missão pública”, assinala Amendoeira relevando, acima de tudo, a importância das tradições para as comunidades que as vivem, mais do que a sua valorização turística, cuja importância não nega.  Tal como o seu homólogo do Norte, a directora da DRCA considera que este processo de inventariação depende, e muito, do envolvimento das autarquias e outros agentes locais, que estão mais próximos das realidades a inventariar e a salvaguardar. O princípio, nota, é simples. “Só se preserva o que se conhece”.

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