Demolição vai dar lugar a projecto “inclusivo” no Bairro Municipal de Viseu

O Bairro Municipal de Viseu vai entrar numa nova etapa. Depois de um projecto de demolição preparado pelo anterior executivo, surge agora o anúncio feito pelo actual presidente da câmara de que este espaço vai ser afinal requalificado.

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O bairro foi construído em 1948 e tinha 104 casas. Hoje, apenas metade delas estão habitadas Nuno Alexandre Mendes

O Bairro Municipal de Viseu não vai ser demolido, uma garantia do presidente da câmara que anunciou estar a ser preparado um projecto para a sua requalificação. Em simultâneo está igualmente a ser elaborado um dossier para a classificação deste espaço como património municipal.

Também denominado de Bairro da Cadeia, o conjunto de casas construídas na década de 1940 estava para desaparecer. Era esse o projecto do anterior executivo camarário, que provocou a revolta e a luta dos moradores, da Associação Olho Vivo e de um movimento cívico criado em defesa do complexo.

O anterior projecto avançava com a demolição das cerca de 100 habitações do Bairro, mantendo apenas seis para memória futura, dadas as suas características arquitectónicas. Os moradores seria realojados em blocos de apartamentos, um dos quais já em construção mas cujos trabalhos foram interrompidos, por a empresa responsável se encontrar em processo de insolvência.

Agora, a demolição vai dar lugar a um projecto que se quer “participativo” e que pretende, ao manter a identidade deste espaço, criar novas possibilidades e novas vivências para os moradores e para a toda a cidade de Viseu.

1,5 milhões de euros
O presidente da Câmara, Almeida Henriques, anunciou que está a ser feito o esboço do projecto de requalificação que deverá ficar orçado em mais de 1,5 milhões de euros, sendo a segunda fase a sua candidatura a fundos comunitários. Para já, disse, as intervenções a fazer serão essencialmente de índole cultural e em “interacção com os moradores”.

Maria do Rosário foi das primeiras moradoras a habitar aqui. Hoje tem 80 anos e não quer mudar de casa. Gostava, isso sim, que as habitações fossem requalificadas e que lhe tirassem os ratos que se passeiam pelas casas abandonadas. Também Maria dos Prazeres, uma das moradoras que mais se opunha à demolição e ao realojamento, ficou feliz pelo anúncio e até já faz planos para no S. João. Quando fizer os 88 anos, quer ir bailar num dos jardins.

O autarca anunciou que pretende manter a originalidade das habitações, os jardins e os arruamentos, demolindo os pré-fabricados ilegais e criando melhores condições de vida para os moradores. “Queremos manter a pureza deste Bairro, mas ao mesmo tempo dar-lhe mais valências, além das características habitacionais”, esclareceu Almeida Henriques. Como exemplo admitiu entregar algumas das casas abandonadas a associações culturais e criar dentro do Bairro um espaço de acolhimento de jovens criadores.

Estas ideias vão ao encontro à filosofia do Movimento pelo Bairro Municipal que advoga que qualquer intervenção deve ser “pensada como um projecto integrado – nas suas dimensões arquitectónica/patrimonial, social e cultural . “Toda esta reflexão deve ter o cuidado de colocar as pessoas no centro do processo para discutir e pensar o futuro do Bairro”, salientou Luís Seixas.

O movimento tem já algumas ideias para iniciar o trabalho, nomeadamente a criação de um laboratório de arquitectura que intervenha no edificado, mas também no aspecto social, cultural e educativo. Quer criar um espaço onde se encontrem equipas multidisciplinares  para assegurar o maior número de ideias e metedologias.

Movimento quer espaço classificado
Outra ideia é, por exemplo, a criação de uma “escola de pedais”. Um espaço que inicie as crianças na utilização da bicicleta enquanto meio de transporte. A iniciativa é vista como uma forma de incluir várias gerações num bairro que tem um tecido social envelhecido.

Para o movimento, as intervenções não devem ser feitas de “forma isolada” e “muito menos com ideias pré-concebidas”. “Tudo tem de ser feito como num processo dinâmico e tendo em conta as necessidades reais dos moradores e da cidade”, frisou Luís Seixas. “Sabemos que é um processo difícil, mas é o desejável para chegar o mais possível a um pedaço da cidade e torná-lo mais inclusivo”, defende o Movimento que admite ser urgente a classificação deste espaço como património municipal.

O movimento tem desenvolvido já algumas iniciativas, nomeadamente através do projecto “É um Bairro Português com certeza” que além de levar a este espaço actividades culturais está a criar o acervo do Bairro, reunindo documentos, fotografias e testemunhos, pedaços de história que ficarão para “memória futura”, em vez das seis casas que o anterior executivo queria manter.

O bairro de social foi construído em 1948. Eram 104 casas geminadas, dispostas em banda, de piso térreo com um pequeno jardim à frente. Hoje, cerca de 50 estão habitadas. O anúncio de que a sua demolição ía ser travada foi recebido com satisfação pelos moradores, mas também pelo coordenador do BE e da Associação Olho Vivo que desde 2002 vinha a debater-se pela requalificação e classificação do bairro como conjunto arquitetónico de interesse municipal.

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