Cultura em Expansão alastra pela cidade até Dezembro

Programa da Câmara do Porto que leva diversas actividades culturais a bairros sociais e outros espaços pouco usuais da cidade, arranca no dia 25 de Abril

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José Afonso morreu em 1987, com 58 anos D.R.

Este sábado, a música de Zeca Afonso vai ser, de novo, reinventada. É provável que ela ande à solta nas ruas do Porto, a acompanhar a tradicional manifestação que celebra o 25 de Abril de 1974, mas ela vai estar também no 3.º piso do Gabinete do Munícipe, na Avenida dos Aliados, com uma sonoridade bem diferente da habitual. A partir das 15h, ela vai libertar-se dos tambores de metal originais de Trinidad e Tobago (steelpans) e da voz de Miguel Guedes. É o arranque da 2.ª edição do programa Cultura em Expansão, da Câmara do Porto, que desta vez se estende até Dezembro.

Não é por acaso que este projecto, que se propõe a levar a cultura a palcos inusitados da cidade, envolvendo populações mais desfavorecidas, arranca no 25 de Abril. O vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva assume, ao PÚBLICO, que a data foi escolhida porque o programa “tem uma certa dimensão revolucionária, quer mobilizar todas as pessoas e chegar às zonas mais desfavorecidas do Porto, promovendo cultura para todos e feita por todos”. O desocupado 3.º piso do Gabinete do Munícipe tem, assim, honras de abertura, com o espectáculo de entrada livre e pensado para 80 minutos, a ficar nas mãos de Miguel Guedes e dos Steel Drumming. Depois, há que esperar por Maio para assistir a novos eventos.

Este ano, o Cultura em Expansão vai intervir em novos espaços mas regressa também a palcos por onde já andou em 2014 – a Ilha da Bela Vista, onde será lançado um livro de poesia de uma das moradoras, a 12 de Setembro, e à Associação de Moradores do Bairro Social da Pasteleira, que depois de ter recebido um concerto no ano passado, terá agora direito a teatro, um recital de Mário Laginha e a um baile encenado. Paulo Cunha e Silva revela que este regresso “faz parte da lógica” do programa, uma vez que este não tem a intenção de “aparecer, fazer um número interessante, e ir embora”. Pasteleira e Bela Vista voltam por isso a ser palcos desta expansão cultural, a que se juntam o Bairro do Cerco, o Centro Paroquial de Aldoar, a Rua do Heroísmo, a Estação de Metro de Campanhã, à Associação de Moradores do Antigo Bairro da Pasteleira e à Associação de Moradores da Bouça.

O programa também conta com espectáculos organizados por entidades que já tinham participado na 1.ª edição, como o Ao Cabo Teatro e a Companhia Circolando, mas recebe novos autores, em que a rapper Capicua é o nome mais sonante.

Ela já anda pelo Bairro do Cerco, a desenvolver o projecto Oupa!, que irá contar com a participação de jovens moradores do bairro social de Campanhã. O projecto, do próprio pelouro da Cultura, é uma residência artística de quatro meses, que além de Capicua envolve os músicos D-One e Tiago Espírito Santo, e o vídeo de Andrté Tentúgal, Vasco Mendes e Pedro Cruz. As oficinas de rap, vídeo e performance que serão criadas no Cerco, ao longo de quatro meses, vão resultar num espectáculo com estreia marcada para o Teatro Municipal Rivoli, às 17h de 5 de Julho. Paulo Cunha e Silva explica que este projecto tem uma componente que é essencial aos objectivos da Cultura em Expansão. “Não pretendemos ir aos bairros e fazer lá qualquer coisa. O programa é também pendular, na relação que estabelece entre o o centro da cidade e a sua periferia cultural. O projecto Oupa!, da Capicua, faz isso. Fazemos uma residência num bairro, que escolhemos especificamente porque entendemos que merecia este tipo de intervenção, mas depois trazemos o espectáculo para o teatro da cidade, o Rivoli”, diz.

O Cultura em Expansão aposta ainda, este ano, num conjunto de concertos dos alunos da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE), globalmente designado por Música Para os Meus Ouvidos, e que nos dias 17 Maio, 14 de Junho, 25 de Julho, 27 de Setembro, 4 de Outubro e 22 de Novembro, sempre às 17h, vai levar ao auditório do Centro Paroquial de Aldoar peças de Schubert, Mozart, Ravel ou Bach, entre muitos outros. O teatro vai andar na Pasteleira com a peça “Título e Escritura”, da Mala Voadora (6 de Junho às 21h30) e as performances com envolvimento da população e partindo, em grande parte, da vivência das pessoas e dos lugares em que se irá apresentar, poderá ser vista com o “Espírito do Lugar”, da companhia Circolando, criado para e apresentado na Rua do Heroísmo, nos dias 17, 18, 19 e 20 de Setembro (18h30); no “Arquipélago – À margem da Alegria”, que a Ao Cabo Teatro leva à estação de metro de Campanhã (com horário ainda a definir, nos dias 25, 26 e 27 de Setembro e nos dias 2, 3, 4, 9, 10, 11 de Outubro, que incluirá passagens de modelos invulgares); e com “O Baile”, que Aldara Bizarro vai criar, a partir das 16h do dia 28 de Novembro, na Pasteleira.

Além do recital de Mário Laginha “Técnica, Vigor e Poesia” (22 de Outubro, 21h), a Cultura em Expansão encerra com “Nove e Meia”, do Cineclube Nómada, que sob orientação de Regina Guimarães ou Amarante Abramovici, vai levar sessões de cinema quinzenais, às zonas da Bouça, S. Victor e Pasteleira, entre Agosto e Dezembro.

Paulo Cunha e Silva realça que uma programação tão variada e prolongada foi possível graças à entrada de um mecenas nesta edição do Cultura em Expansão. A Fundação António da Mota junta-se assim a um programa que o vereador da Cultura da Câmara do Porto quer “sempre diverso” e capaz de “capturar a cidade”.

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