Criação de três mil lugares de estacionamento pago contestada em Vila Real de Stº António

Numa terra virada para o comércio e o turismo, a introdução de parquímetros é vista como mais uma machada na actividade económica. Pela terceira vez, o poder autárquico enfrenta esta terça-feira as críticas da população.

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Até agora não havia estacionamento pago na cidade Pedro Cunha/Arquivo

A polémica do estacionamento pago, em Vila Real de Stº António, volta esta terça~feira à discussão pública na reunião de câmara. Os parquímetros ainda não entraram em funcionamento, mas já foram alvo de actos de vandalismo.

À introdução do pagamento de portagens na Via do Infante, dizem os comerciantes, junta-se agora a cobrança do estacionamento, numa cidade virada para o comércio e turismo. “Querem matar-nos”, observa Manuel Gonçalinho, proprietário de um pequeno café, situado próximo da zona histórica da cidade. Na esplanada, apenas dois clientes. “Estamos em pleno Verão, e não há movimento”, lamenta.

Pela terceira vez consecutiva, o poder autárquico vai enfrentar a contestação da população, que não quer passar a pagar estacionamento em cerca de três mil lugares, dentro da cidade e nas zonas balneares de Monte Gordo e Vila Nova de Cacela.  

Os partidos da oposição local, CDU e PS, vão pedir à câmara que recue, colocando à votação duas propostas, em sentido contrário às pretensões do executivo. Os comunistas reclamam a revogação da decisão de cobrar o estacionamento, ao passo que os socialistas admitem que possa existir pagamento, mas apenas na zona histórica da cidade.

A polémica vem desde há cerca de uma semana, quando a questão passou a dominar as conversas de rua. Nessa altura, foi criado, via Internet, um Movimento Contra os Parquímetros, e a ideia do “não pagamos”  ganhou adeptos. Na drogaria Libi, Florinda Estevão, tem exposta em cima do balcão, um petição a exigir a retirada dos parquímetros. “Só eu, tenho aqui, à volta de umas 28 folhas” de assinaturas. O documento vai ser entregue ao executivo esta terça-feira. No supermercado Corvo, adianta, há outro ponto de recolha de assinaturas. “Se isto vai para a frente é o fim do comércio”, comenta.

De acordo com o município, a entrada em funcionamento do sistema de cobrança depende apenas da publicação, em Diário da República, da concessão feita à empresa ESSE - Estacionamento à Superfície e Subterrâneo, S.A.  “Não faz sentido pôr os visitantes a pagar para virem fazer compras”, acrescenta Celeste Viegas. “O presidente [da câmara] não se tem esquecido do comércio - até tem apoiado. Mas agora faz uma coisa destas…”, lamenta.

Os moradores terão direito a um lugar de estacionamento, grátis, na área de residência, e os comerciantes também, na zona do estabelecimento. “E os empregados têm de pagar para vir trabalhar?”, pergunta Célia Peres, empregada da cadeia de lojas Caravela. 

Manuel Gonçalinho serve um café a uma jovem empresária, Bruna Guedes, bebido ao balcão. “Vou à reunião de câmara protestar contra os parquímetros, e já fui às duas reuniões da Assembleia [Municipal] porque isto não faz qualquer sentido”.

Mal os equipamentos foram montados, durante a noite, houve logo alguns danificados. “Isto ainda vai dar caldeirada”, adverte um munícipe, prevendo que venha a haver distúrbios. “Não concordo com o vandalismo”, observa Celeste Viegas, empresária, recordando a máxima: “quem paga é o povo”. Na reunião da assembleia municipal, realizada a 25 de Junho, centenas de pessoas foram protestar contra os parquímetros.

A sala da biblioteca municipal, onde decorriam os trabalhos, foi pequena para acolher tantos munícipes, e os trabalhos foram adiados. O tema foi retomado, quatro dias depois, numa nova reunião da assembleia, agora no ginásio do quartel dos bombeiros. “Não fiquei convencida com os esclarecimentos dados por Luís Gomes”, diz  Bruna Guedes. O presidente da câmara, relata, disse que o pagamento do estacionamento "tinha sido concertado" com os empresários”. "Não é verdade, ninguém nos pediu opinião”, afirma. 

Num comunidade distribuído à população, a CDU critica  o executivo autárquico, de maioria PSD, dizendo que esta foi uma  maneira de “arrecadar dinheiro de qualquer forma”. De acordo com os comunistas, outras penalizações estão para vir: “Aumento de taxas, alienação de património e despedimentos de pessoal”. O objectivo, alegam, é fazer face ao “astronómico endividamento da câmara”.  

Nada disto é estranho aos olhos de José António, um alentejano de Mértola, reformado. “Quando vi tanta festa, disse logo que a factura vinha a seguir. Gastaram à farta, agora precisam de dinheiro”, comenta. O apartamento que possui na cidade tem garagem, mas assinou a petição. “É uma questão de solidariedade”, justifica. 

Manuel Gonçalinho puxa do mapa da cidade, onde estão marcados os lugares de estacionamento sujeitos a parquímetros. “Aqui, a uma distância de 500 metros existe um parque de estacionamento pago, mas encontra-se sempre vazio”. Por isso, recusa esta medida. O novo tarifário é de 80 cêntimos/hora, funcionando das 9h às 22h durante o Verão. No período de Inverno é pago das 9h às 19h. A câmara diz que o retorno financeiro da concessão é “absolutamente necessário à continuidade das políticas de acção social do município”. 

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