CP garante que redução de comboios em Cascais “nada tem a ver” com privatização

Presidente do Conselho de Administração demarca-se da tutela e diz que apenas está a tentar tornar viável a actividade da empresa.

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Manuel Queiró foi chamado ao Parlamento pelo PS para explicar a redução da oferta na Linha de Cascais Daniel Rocha

O presidente do Conselho de Administração da CP, Manuel Queiró, garantiu nesta quarta-feira que a supressão de 20% das ligações na Linha de Cascais fora das horas de ponta “nada tem a ver” com a eventual privatização daquela linha, mas sim com a necessidade de fazer a manutenção do material e de adequar a oferta à procura. Queiró disse mesmo que está a pensar repetir a dose noutras linhas da rede.

“A privatização ocorrerá ou não independentemente desta redução da oferta. Uma coisa é a lógica de gestão, outra é a lógica de estratégia. Uma nada tem a ver com a outra”, afirmou o administrador na reunião da Comissão de Economia e Obras Públicas, no Parlamento, em resposta a Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda.

“Era o que faltava, estarmos a fazer alterações à oferta para servir objectivos políticos”, sublinhou, perante a insistência dos deputados em saber a sua opinião sobre o processo de privatização. “Deixem a CP de fora das lutas políticas”, pediu, demarcando-se das opções da tutela e assumindo-se apenas como um gestor a "tentar criar condições para prosseguir [a actividade da empresa] com as limitações do material existente".

Na semana passada, e a propósito da privatização da CP Carga, o administrador admitiu, numa reunião de colaboradores, que não estava de acordo com essa decisão, mas que a cumpria porque eram ordens da tutela.

Queiró, chamado à comissão através de um requerimento do PS, explicou que a medida se insere numa “política virada para os resultados”. “A gestão dos comboios em Portugal está obrigada a um rigor e a esforços de optimização da sua operação, o que implica um controlo de custos severo”, argumentou.

A redução da oferta na Linha de Cascais, em vigor desde 18 deste mês, implicou a eliminação de grande parte dos comboios rápidos e dos "curtos" (que só fazem Cais do Sodré - Oeiras), fora das horas de ponta (entre as 10h e as 17h e após as 20h). Inicialmente a empresa decidiu reduzir em 51 o número de ligações diárias, passando para 200. Depois de uma reunião com o presidente da Câmara de Cascais, a empresa optou por "devolver" a partir de 1 de Fevereiro quatro comboios rápidos (dois para Cascais e dois para Oeiras, um em cada sentido para ambos os destinos).

Segundo Manuel Queiró, as 47 ligações suprimidas vão atrasar em sete minutos o tempo de circulação dos passageiros que façam o percurso Cais do Sodré - Oeiras, fora do período de maior fluxo. "Não há nenhum passageiro que fique sem serviço na sua deslocação habitual, nós alterámos os horários mas nas deslocações suprimidas o serviço é assumido pela outra família de comboios", ou seja, os que param em todas as estações e apeadeiros, explicou.

Queiró disse ainda que não estão previstas mais alterações da oferta nesta linha, mas ressalvou que "este compromisso não se estende a toda a rede". Sem adiantar pormenores, o administrador revelou que estão a ser estudadas alterações semelhantes na restante rede.

Apesar de o presidente da Câmara de Oeiras, Paulo Vistas, ter afirmado que apenas soube da medida pelos jornais, o presidente da CP garante que a decisão resultou de "um estudo" que foi dado a conhecer antecipadamente à tutela e à Autoridade Metropolitana dos Transportes de Lisboa, entidade na qual Oeiras está representada. O tal estudo revelou que algumas composições iam "quase desertas", com uma taxa de ocupação "mínima" fora das horas de ponta, não justificando a existência de comboios rápidos. Enquanto isso, estavam a registar-se quatro a cinco supressões por dia nas horas de maior movimento, devido à indisponibilidade de comboios para fazer face a avarias. "Aí sim é que a situação era grave", observa.

Na Linha de Cascais, os comboios têm em média 48 anos, ou seja, estão para além do limite aceitável, isto apesar de terem sido alvo de uma modernização nos anos 90. Devido ao seu envelhecimento, a frota desta linha é actualmente a mais dispendiosa de todo o parque da CP, em reparação e manutenção na EMEF, que já está "a dar o máximo", diz Queiró.

Em 2009, a então secretária de Estado dos Transportes do governo socialista, Ana Paula Vitorino, deu autorização para a renovação dos comboios da CP, prometendo para Cascais o investimento de 180 milhões de euros na aquisição de 36 unidades. No entanto, em 2011 o processo caiu. "Esse concurso podia ter resolvido o problema, mas não sei por que não avançou", afirmou Manuel Queiró, atribuindo a responsabilidade pelo desinvestimento na linha de Cascais a "todas as tutelas", independentemente da cor política.

Ouvido durante cerca de três horas, o administrador recusou revelar se transmitiu ao secretário de Estado dos Transportes a necessidade de adquirir novo material circulante, apesar da insistência dos deputados. Queiró afirmou apenas que “não é nada aconselhável proceder a outra modernização [da frota], é necessário uma renovação”, ou seja, compra de novo material.

Os deputados da oposição quiseram também saber se o presidente da CP recebeu orientações sobre as reformas da chamada "fiscalidade verde", considerando que a redução da oferta iria levar a uma quebra no número de passageiros na Linha de Cascais. Queiró contrapôs que este número está a subir de forma consolidada desde Setembro de 2013.

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