Consultor em julgamento de explosão em Setúbal estranha que não cheirasse a gás

Fuga de gás prolongada - durante 55 horas - terá provocado a explosão no prédio n. 13 da Praceta Afonso Paiva, em 2007.

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Prédio ficou destruído e 48 famílias foram afectadas

O consultor técnico do Tribunal de Setúbal no julgamento de três suspeitos de negligência na explosão de um prédio, em 2007, considerou, na sessão desta segunda-feira, "estranho" que ninguém tivesse detectado o cheiro de uma fuga de gás durante 55 horas.

"Parece-me muito tempo sem que se tivesse notado o cheiro a gás", disse Vítor Cabral, engenheiro mecânico da Direcção Geral de Energia, confrontado com o facto de ter havido uma fuga de gás tão prolongada no interior de uma fracção desabitada, no prédio n.º 13 da Praceta Afonso Paiva, em Setúbal.

A explosão terá tido origem numa fuga de gás no interior da fracção desabitada do 11.º C, alegadamente devido à abertura do redutor de gás, após a realização de um teste de estanquicidade para avaliar a existência de condições para a conversão do sistema de distribuição de gás propano para gás natural.

Durante a audiência, Vítor Cabral disse que não existe um manual com todos os procedimentos necessários para a realização de um teste de estanquicidade como aquele que foi realizado no prédio da Praceta Afonso Paiva, mas reconheceu que há um conjunto de boas práticas que devem ser do conhecimento de qualquer técnico de gás.

Segundo o engenheiro, uma dessas regras de segurança é não reabrir nenhum redutor (equivalente a uma torneira de segurança) no exterior de cada fracção sem informar previamente o proprietário da mesma, princípio que não terá sido observado neste caso.

Questionado pelo advogado Paulo Trindade, que defende dois dos três arguidos, Vítor Cabral disse que os redutores, mesmo abertos, dispõem de um mecanismo de segurança que deveria cortar o abastecimento de gás no caso de uma "fuga franca" (fuga de grande quantidade de gás), mas depois admitiu também que esse mecanismo poderá não ser accionado se a reabertura do redutor for efectuada muito lentamente.

Ao mesmo tempo que questionava o consultor técnico do tribunal, o advogado Paulo Trindade salientava o facto de os redutores no exterior de cada fracção estarem acessíveis a qualquer pessoa, deixando transparecer a ideia de que a ligação, indevida, do redutor do 11.º C poderia ter sido feita por qualquer pessoa e não necessariamente pelos técnicos que estão a ser julgados.

Os pedidos de indemnização no processo cível, que também serão apreciados no julgamento a decorrer no Auditório Charlot, em Setúbal, ascendem a cerca de quatro milhões de euros.

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