Comunidade aveirense une-se para voltar a dar “voz” a rádio local

Cidadãos anónimos, figuras do panorama nacional da rádio e investigadores da área da comunicação estão empenhados em ajudar a reerguer a antena da Rádio Terra Nova, que não resistiu ao temporal do dia 14.

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Na manhã do passado dia 15, a Rádio Terra Nova, que emite a partir do concelho de Ílhavo para toda a região de Aveiro (105 FM), já não pôde apresentar, através das ondas hertezianas, toda a informação relativa ao balanço do mau tempo que tinha fustigado fortemente o distrito. É que ela própria acabara de ser vítima da força do vento e da chuva que assolaram o país – e muito em especial a região aveirense. A antena de emissão partiu-se e caiu, num golpe duro junto dos directores e funcionários da estação que está prestes a completar 30 anos, sem nunca deixar de ser fiel aos seus princípios de rádio regional – ao contrário do que aconteceu a muitas outras, pelos país fora.

“A nossa primeira reacção foi: e agora?”, confessa Vasco Lagarto, director da Terra Nova. Nessa fase, e mesmo ainda sem saber quanto custaria adquirir uma nova antena, toda a equipa da emissora teve noção de que a despesa seria demasiado elevada e que o projecto podia estar em causa. Mas o desânimo não tardou muito a dar lugar a sentimentos de esperança, por força de uma onda de solidariedade que nasceu da própria comunidade. “Mal se divulgaram as primeiras fotos, surgiram pessoas a mobilizarem-se para desencadearem movimentos e iniciativas”, testemunha Carlos Teixeira, jornalista na Rádio Terra Nova há 28 anos.

Poucas horas depois do choque, estava lançada, nas redes sociais, uma campanha de angariação de fundos que, rapidamente, ultrapassou as fronteiras da região. À página “Vamos dar voz à Rádio Terra Nova” (disponível no endereço https://www.facebook.com/SOSTerranova/?ref=hl) começaram a chegar inúmeras mensagens de apoio e comprovativos de donativos. “Não nos deram tempo de fazer lutos ou carpir mágoas. A comunidade empurrou-nos para a recuperação”, declara ainda Carlos Teixeira.

As palavras de apoio – assim como os necessários donativos – têm sido transmitidos por cidadãos anónimos, empresas, colectividades, mas também por parte de figuras conhecidas no meio da comunicação social nacional. Foi o caso do radialista Álvaro Costa, de Francisco Amaral, autor do programa Íntima Fracção, além de Ana Isabel Reis, investigadora da Universidade do Porto, antiga jornalista das Rádio Renascença, Rádio Nova e do extinto Rádio Clube Português.

Outro dos profissionais que surgiu, e logo desde a primeira hora, em defesa da emissora sediada em Ílhavo – mais concretamente na Gafanha da Nazaré -, foi Luís Miguel Loureiro, jornalista da RTP e investigador da área da comunicação social. “Foi na Rádio Terra Nova onde tudo começou para mim”, argumenta o jornalista. Tinha 17 anos e entrou para aquela emissora “uma semana depois de ela ter começado as emissões”, em plena época das rádios piratas – a legalização só chegou em 1989. “Tenho lá muitos amigos e, assim que vi o apelo, pensei logo: eles vão precisar de ajuda”, relata ainda Luís Miguel Loureiro, a propósito do seu envolvimento na campanha. “A Rádio Terra Nova é uma rádio especial. Nunca foi vendida, nunca teve outro proprietário e manteve-se fiel a esse propósito de dar voz às pessoas da região”, faz ainda questão de sublinhar o jornalista e investigador.

Ainda faltam mais de 15 mil euros
Nesta altura, já foram angariados cerca de 5000 euros em donativos (entre particulares e empresas), sendo certo que ainda há um longo caminho para trilhar – a nova antena custa 22.000 euros. “Também há outras acções que estão em curso e que ainda não se traduziram em dinheiro imediato”, aponta Vasco Lagarto, a propósito de iniciativas, já divulgadas na página da campanha, e que estão a ser desenvolvidas por colectividades ou instituições da região. Perante tudo isto, e acreditando que as transferências vão continuar a chegar à conta bancária da campanha (IBAN PT50003300000000499746821), a equipa da emissora já não tem dúvidas de que esta história vai ter um final feliz. Pelo menos, já conheceu um episódio muito positivo: “gerou-se uma onda que não é só de solidariedade. A rádio reforçou o seu sentido comunitário”, sublinha Carlos Teixeira. “As pessoas dizem-nos que precisam de nós para as informarmos sobre o que está a acontecer na região e não deixam margem para sequer equacionarmos não lutar pela recuperação da antena”, reforça o jornalista da rádio que também nesta hora não esquece aqueles que serviram de inspiração para o seu nome – Ílhavo sempre esteve ligado à pesca do bacalhau, com muitos dos seus homens a viajarem regularmente para a ilha da Terra Nova. “Eram homens que enfrentavam ventos ciclónicos e tempestades. Nós não nos vamos deixar derrubar por esta rajada”, destaca o jornalista.

Nova antena dentro de pouco mais de um mês
Não obstante ter ficado silenciada nas ondas hertezianas, a Rádio Terra Nova manteve, ao longo de toda esta semana, a sua emissão na Internet e, já neste sábado e domingo, passou a contar com uma antena provisória, que permitirá voltar a dar voz à rádio na sua frequência habitual. Tudo porque, além de representar um investimento significativo, a nova antena ainda levará algum tempo a ser instalada. “A instalação da antena definitiva poderá demorar mais de um mês”, antevê o director, Vasco Lagarto. “Mas estamos a fazer todos os possíveis para que fique tudo pronto o quanto antes”, acrescenta. 

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