Dois sentidos na marginal da Foz suscitam queixas de comerciantes no Porto

Rua do Coronel Raul Peres, na Foz do Douro, vai voltar a ter dois sentidos, mas mantém a ciclovia. Câmara diz que só o estacionamento criado na via desaparece

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Nelson Garrido
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Poucos dias antes do início das obras na Rua do Coronel Raul Peres, na Foz do Douro, em Outubro, chegou ao restaurante Varanda do Sol uma comunicação da Câmara do Porto, explicando que iriam realizar-se trabalhos de “beneficiação do pavimento na faixa de rodagem”. O sacrifício de ver a rua encerrada foi aceite como natural pelos responsáveis deste e outros negócios da artéria, mas o mesmo não aconteceu quando, poucas semanas depois, os trabalhos de beneficiação se transformaram numa obra diferente, que permitiria a reposição dos dois sentidos de circulação na via. Há queixas de falta de informação e o receio de que a vida se torne ali mais difícil. A Câmara do Porto justifica a decisão com “um bem maior”.

Steffen Wollmann escolheu o sítio para instalar a sua loja de bicicletas, Dourobike, em 2009. Atraiu-o o espaço em frente ao mar, a rua apenas com um sentido, ciclovia, passeio largo e estacionamento ali ao lado. Além de um espaço amplo em frente à loja onde os seus clientes podiam parar a bicicleta, ou ele mesmo colocar alguns dos modelos que tinha para venda. “Foram as facilidades do local que me fizeram escolher este local. Agora, somos prejudicados por um facto consumado sem nos explicarem porquê”, diz.

O empresário lamenta a “quebra de vendas significativa”, provocada pelo encerramento temporário da rua. Mas o que o preocupa mais é a nova versão da Coronel Raul Peres com que terá que conviver. O estacionamento que podia servir alguns clientes e onde paravam os fornecedores, funcionando como local de cargas e descargas, desapareceu. E o mesmo aconteceu à área ampla de passeio em frente à loja. E diz que não está mesmo a ver como se vão cruzar, por exemplo, autocarros turísticos na curva ali à frente. Diz que, assim que se apercebeu da mudança de obras na rua, enviou uma carta à empresa municipal GOP – Gestão de Obras Públicas, pedindo esclarecimentos sobre o que se estava a passar. A carta seguiu a 28 de Outubro e a resposta só chegou um mês depois, a 30 de Novembro, com a GOP a confirmar que o município pretendia “melhorar as condições de mobilidade (…) repondo dois sentidos (…) sem condicionar a permanência do passeio público e ciclovia”. Uma nova missiva, pedindo mais esclarecimentos e enviada seis dias depois, ficou, garante, “sem resposta”.

Sem resposta ficaram também os e-mails enviados por Daniel Fernandes, da Varanda do Sol, pedindo reuniões à GOP para ser esclarecido sobre as obras que decorriam na via, conta. O empresário até admite que a reposição dos dois sentidos não irá prejudicar o restaurante, mas admite que o desaparecimento dos lugares de estacionamento na via pública “também afecta” o negócio, apesar de este ter um pequeno parque de estacionamento que, diz, “está sempre ocupado por moradores da zona”. Do que Daniel Fernandes mais se queixa é mesmo da “falta de informação” por parte da autarquia, sobre o que diz ser uma “descoordenação da obra”.

Queixas que se ouvem repetidas a Rui Leça, do bar da Praia dos Ingleses, que garante nunca ter recebido qualquer comunicação da autarquia sobre as obras em curso. “Nunca fomos informados de nada e vamos ser bastante prejudicados com esta mudança. Desapareceu o estacionamento que aqui havia e temo que a nova solução torne a rua muito menos segura, mais rápida, como antigamente”, afirma.

Daniel Leça está ali instalado há tempo suficiente para se recordar de haver “muitos acidentes e atropelamentos”, argumento repetido por Celeste Rocha, de uma loja de brinquedos na Avenida do Brasil, e por Jerónimo Duarte, de 79 anos, que vive há 40 anos na Rua do Coronel Raul Peres. “Anteriormente, com dois sentidos, quase todas as semanas havia acidentes. De madrugada, então, com o excesso de velocidade, havia sempre confusão. Quando se pôs só um sentido e a ciclovia nem queríamos acreditar que estava a acontecer! Nunca mais houve acidentes, era uma maravilha”, diz.

Contactada pelo PÚBLICO, a Câmara do Porto admite que pode ter havido “algum défice de informação”, mas garante que não há razão para as outras queixas e receios manifestados. “A colocação de apenas um sentido naquela rua criou problemas quer de sinistralidade quer de trânsito noutros locais, nomeadamente na Rua da Senhora da Luz. A intenção de voltar a colocar os dois sentidos na Raul Peres é para retirar o trânsito da malha urbana”, diz fonte da assessoria de imprensa da autarquia, assumindo: “Há que fazer opções. A decisão da câmara foi de não acabar com o passeio e a ciclovia e acabar com o pouco estacionamento que tinha sido criado. Alguma coisa tem que ser prejudicada, por um bem maior.” Além disso, garante: "Está provado que a duplicação de sentido diminui a sinistralidade. A velocidade aumenta quando há só uma via."

A mesma fonte diz que a mudança na obra, de que se queixam os comerciantes, foi noticiada pela autarquia e resultou de um estudo que esta estava a desenvolver, cujas conclusões surgiram na altura em que a primeira obra, de beneficiação do pavimento, estava já a decorrer. “O que aconteceu foi a inserção de uma obra noutra que estava já em curso”, garante.

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