Coimbra investe meio milhão para recuperar Terreiro da Erva

Oposição critica falta de transparência na informação sobre ruínas no subsolo, numa zona onde estão localizados vestígios arqueológicos.

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Sérgio Azenha

Uma das várias zonas degradadas da Baixa de Coimbra vai ser requalificada, mas o projecto arranca sob críticas da oposição que receia atrasos na obra uma vez que esta é uma zona onde existem vestígios arqueológicos. A Câmara Municipal (CMC) anunciou nesta segunda-feira o arranque das obras no Terreiro da Erva, localizado numa área de protecção da zona classificada como Património da Humanidade, numa reabilitação que está avaliada em 520 mil euros. O prazo dado para a execução foi de 240 dias, mas a sensibilidade da área levou o autarca de Coimbra, Manuel Machado, a introduzir uma ressalva para o caso de a requalificação não estar concluída ao fim dos oito meses previstos.

Do Terreiro da Erva, espaço que actualmente serve sobretudo como estacionamento, vão desaparecer os automóveis e o alcatrão, dando lugar a outro tipo de piso, a mobiliário urbano e a árvores. Sobre a intervenção em que está também prevista a remodelação da iluminação pública, Manuel Machado diz que “é desejável que os prazos sejam cumpridos”, prevendo desde já os “trabalhos imprevistos” que vão surgir “de certeza absoluta”.

“Apesar de todos os estudos, só no terreno é que se consegue verificar exactamente o que é preciso fazer”, disse o presidente do executivo camarário, numa alusão aos vestígios arqueológicos que se pode encontrar no subsolo em várias zonas de Coimbra. O Terreiro da Erva é uma delas. É no centro daquela praça que se pode encontrar partes das ruínas da igreja de Santa Justa-a-Velha, uma construção cujo primeiro registo data do século X e que foi sendo soterrada à medida que as cheias do Mondego foram adicionando estratos ao solo. Um arco do altar pode ainda ser encontrado no interior de uma loja de electrodomésticos que já encerrou num edifício privado situado no centro do Terreiro. Apenas a intervenção poderá revelar o que ainda resta da antiga igreja.

Por isso, a forma como estão previstas as obras tem vindo a ser contestada pelo movimento Cidadãos por Coimbra (CpC), que nas últimas legislativas elegeu um vereador. De uma sessão pública promovida pelo movimento em Novembro de 2014, resultou a defesa da realização de uma escavação arqueológica prévia que permitisse “dar mais qualidade à intervenção e fazê-la de uma forma diferenciada”, recorda ao PÚBLICO o vereador José Ferreira da Silva.

Na apresentação da empreitada, nesta segunda-feira, o autarca socialista referiu-se a estas críticas como “um incidente marginal e absolutamente ignorante” sobre a matéria, garantindo que a obra está a decorrer de acordo com os “procedimentos obrigatórios que têm de ser desenvolvidos”.

“Para garantir que a intervenção decorra de forma correcta” foram feitas “inspecções arqueológicas complementares”, explica Manuel Machado, assegurando que foram seguidas as regras estabelecidas pelas “entidades que intervêm no âmbito da conservação do património”.

 Ainda sobre o prazo de execução, o presidente da autarquia diz estar consciente que, “se na operação se encontrar um achado arqueológico relevante ou com valor patrimonial relevante, por direito, o prazo de execução da empreitada é interrompido”.

José Ferreira da Silva lamenta a “falta de transparência” da informação sobre os vestígios arqueológicos e garante que o movimento “estará atento e exigirá responsabilidades”.

Para além da recuperação do Terreiro da Erva, onde nascerá uma praça “com esplanadas vocacionada para o lazer e fruição dos cidadãos”, a CMC espera que estas obras levem à reabilitação dos imóveis que a rodeiam.

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