Cineclube do Porto decide este sábado o destino do seu acervo

Direcção convocou uma assembleia-geral extraordinária para a Casa das Artes, aberta a toda a cidade.

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Uma pequena filmoteca, mas que inclui alguns títulos históricos da Sétima Arte, como O Gabinete do Dr. Caligari (1920), do alemão Robert Wiene, Pamplinas, Maquinista (1926), do americano Buster Keaton, Outubro (1927), do russo Sergei Eisenstein, vários filmes de Charlot, ou o documentário português de realização colectiva O Auto da Floripes (1963); uma vasta colecção de cartazes, de cinema português e mundial; uma biblioteca com perto de quatro mil títulos; e ainda uma colecção de matrizes de gravuras assinadas por artistas como Ângelo de Sousa ou José Rodrigues...

É este o acervo que o Cineclube do Porto (CCP) reuniu ao longo dos seus quase 70 anos de história, e que este sábado vai conhecer o seu destino numa assembleia-geral extraordinária convocada para o efeito.

A reunião vai ter lugar, às 21h, na Casa das Artes, tendo como ponto único deliberar sobre “as entidades parceiras que acolherão o acervo” do CCP, “com vista à sua conservação, recuperação e tratamento, para posterior divulgação, promoção e acessibilidade ao público”.

A direcção do CCP não quis avançar os nomes das entidades disponíveis para acolher o acervo, remetendo para a assembleia a sua revelação junto dos sócios. Mas o vice-presidente da direcção, Manuel Pinto Barros, disse à Lusa que “serão essencialmente duas, três grandes instituições da cidade do Porto, que passam desde museus a arquivos até com colaboração do município”. 

Entre estas deverão estar o Museu Nacional Soares dos Reis, que actualmente guarda os arquivos e a colecção do cineclube, e também o arquivo municipal da Casa do Infante. Refira-se que, desde a década passada, o CCP deixou de utilizar as instalações da sua sede histórica na Rua do Rosário, devido ao seu mau estado de conservação.

Ainda que a decisão sobre o destino do acervo caiba exclusivamente aos sócios daquele que é o mais antigo cineclube português ainda em actividade, a direcção decidiu “abrir a reunião a toda a cidade”, apelando à participação e à salvaguarda de um património que é colectivo.

O presidente da assembleia-geral do CCP, o arquitecto Alexandre Alves Costa, não quis manifestar o sua opinião sobre o que defende para a colecção, mas expressou também à Lusa a convicção de que a decisão de um destino irá permitir enriquecer o próprio acervo. Adiantou que, entre novas doacções de antigos sócios e de cinéfilos, ele poderá ver-se acrescentado com o espólio do seu pai, o crítico, historiador de cinema e um dos primeiros dirigentes do CCP, Henrique Alves Costa (1910-1988), que actualmente está em depósito na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. 

Alexandre Alves Costa referiu que a escolha da Cinemateca, aquando da morte do pai, deu-se num sentido de “ficar lá à espera” de um espaço no Porto que pudesse acolher esse arquivo, que inclui “muita correspondência, documentação, coisas escritas e também filmes”. 

“O meu pai gostaria de as ter era no Porto. Estive sempre à espera de um momento de o poder fazer e estou convencido de que vamos encontrar mais pessoas que têm material e enriquecer o acervo”, acrescentou o arquitecto e professor. 


O Cineclube do Porto foi criado em 1945 por um grupo de estudantes do Liceu Alexandre Herculano encabeçado por Hipólito Duarte (1927-2002). A sua fundação foi formalizada no ano seguinte, com 165 sócios e sede provisória no Clube Fenianos. A primeira sessão ocorreu no dia 23 de Março de 1946, na sala do Grupo dos Modestos, com a exibição de um clássico do cinema expressionista alemão, Fausto (1926), de Friedrich W. Murnau.

Entre os momentos mais marcantes da sua história está a realização, em 1967, sob a direcção de Henrique Alves Costa, de uma Semana do Novo Cinema Português que daria um impulso determinante à cinematografia nacional com a posterior decisão da Fundação Gulbenkian de apoiar a produção.

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