Chineses querem fazer empreendimento de luxo em Alfeizerão

Carlos Pereira, um alfeizerense emigrado na Alemanha, casou-se com Chiyu Lyu, cujo irmão, empresário, veio à boda a Portugal e encantou-se com o potencial da região.

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Processo de terrenos está a gerar controvérsia DR

Câmara de Alcobaça pediu a desanexação de sete hectares pertencentes à Reserva Agrícola Nacional com o objectivo de viabiliza um investimento imobiliário de 32 milhões de euros em Alfeizerão.

O projecto prevê a construção de 57 moradias (que rondarão os 500 mil euros cada), um hotel, piscinas, campo de ténis e uma escola de mandarim (esta última financiada pelo Ministério da Educação chinês). Trata-se de um investimento que – a concretizar-se – rondará os 32 milhões de euros e, segundo o presidente da Câmara de Alcobaça, deverá ser executado por empresas da região Oeste pois foi essa uma das condições impostas aos empresários chineses.

De momento, segundo um porta-voz da autarquia disse ao PÚBLICO, tudo está nas mãos do Ministério da Agricultura, a quem compete autorizar a desanexação dos terrenos que estão classificados como Reserva Agrícola Nacional (RAN). Estes, com uma área de sete hectares, situam-se entre Alfeizerão e Vale de Maceira, com bons acessos pela A8 e perto da praia de S. Martinho do Porto.

As casas, do tipo T4 e T5, terão um jardim privado e serão construídas em redor de um lago artificial. A sua disposição deverá respeitar a filosofia oriental do Feng Shui que dispõe a porta de entrada e as divisões do interior das casas numa determinada harmonia.

Leonel Ribeiro, presidente da Junta de Freguesia de Alfeizerão, disse ao jornal Gazeta das Caldas em Abril que este projecto é útil “devido ao elevado investimento que irá movimentar visto que a construção atravessa momentos de grande dificuldade”.

O objectivo dos promotores é naturalmente captar concidadãos chineses interessados nos vistos gold. Um mês antes, em 7/3/2015, também na Gazeta das Caldas, o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), dizia que a região Oeste era uma alternativa a Lisboa e ao Algarve para os investidores no âmbito do programa dos vistos gold porque nestes locais a oferta começa a escassear.

No caso de Alfeizerão, porém, terá sido um acaso que levou um empresário chinês a interessar-se pela zona. Carlos Pereira, um alfeizerense emigrado na Alemanha, casou-se com a chinesa Chiyu Lyu, cujo irmão, empresário, veio à boda a Portugal. Encantado com o potencial da zona decidiu, com mais três sócios e o próprio cunhado apostar num empreendimento de luxo.

Os promotores já reuniram por duas vezes com a Câmara de Alcobaça e esperam agora que os terrenos deixem de ser RAN para poder avançar com o projecto.

Quem levantou dúvidas sobre a facilidade em afectar terrenos agrícolas à construção foi João Gomes, um cidadão de Leiria, que na Assembleia Municipal de Alcobaça questionou a autarquia sobre essa facilidade, tendo em conta que há outros empreendimentos imobiliários na região, devidamente infraestrurados, e também construídos em zona RAN, que hoje estão abandonados.

Numa carta dirigida ao PÚBLICO, este empresário diz que se limitou a pedir para ser elucidado pela autarquia. No entanto, garante foi "ofendido, enxovalhado e apelidado de fundamentalista e ignorante pelo senhor presidente da Câmara de Alcobaça”.

Outra voz que se insurge contra este projecto é a de Carlos Sena, que reside em Vale de Maceira (Alfeizerão) e que, em conjunto com a mulher e a cunhada, foi co-proprietário dos terrenos agora desejados para o projecto imobiliário. “Para nós construirmos houve sempre impedimento e agora para os chineses que vêm para cá já estão a facilitar tudo”, disse ao PÚBLICO.

Carlos Sena queixa-se de que tentou urbanizar os 67 mil m2 daquele terreno, mas que o PDM de Alcobaça não o permitia. Por isso vendeu-o em 1997 por 50 mil contos (250 mil euros) tendo em conta que era um terreno rústico. Agora que o mesmo deverá passar a urbano, exige ser ressarcido. “Foi-nos coartada a hipótese de vender por urbano e por isso temos o direito a uma parte da mais-valia que esta nova venda aos chineses venha a gerar”, disse.

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