Câmara do Porto tenta encontrar solução para vendas ilegais da Feira da Vandoma

Moradores falam de vandalismo, insegurança, insalubridade e obstrução da via pública. União de Freguesias do Centro Histórico apresenta “projecto experimental” para a feira.

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Fernando Veludo/Arquivo

Há muito que a feira da Vandoma, no Porto, extrapolou o seu perímetro legal da Alameda das Fontainhas. Vendedores sem licença ocupam todos os sábados várias ruas e calçadas envolventes para vender de tudo um pouco. A situação tomou dimensões preocupantes e a União de Freguesias do Centro Histórico decidiu intervir e propor à Câmara do Porto uma solução temporária para a feira.

Voltar a demarcar o perímetro legal, alterar o horário e reforçar o policiamento, só permitindo a presença de vendedores licenciados, é o “projecto experimental de um mês” que o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico quer fazer avançar. António Fonseca esteve reunido com cerca de 50 moradores da zona esta quinta-feira à noite, num debate onde se ficou a saber os transtornos que a realização da feira está a causar a quem ali vive.

Os moradores queixam-se do barulho durante a noite que começa na quinta-feira, dia em que os primeiros vendedores ilegais vão demarcar os seus locais, recorrendo, muitas vezes, a paralelos que têm arrancado da rua. A partir da madrugada de sábado começam as primeiras vendas e “durante o fim de semana é impossível aceder à garagem”, sublinhou Paulo Almeida, administrador do condomínio de um prédio na Rua do Sol.

O bloqueio das ruas é uma das maiores preocupações dos moradores por impedir a passagem de ambulâncias ou bombeiros. Todos os sábados, cerca de mil vendedores ocupam várias ruas das Fontainhas, mas apenas 200 estão licenciados pela câmara, adiantou António Fonseca. O crescimento das vendas ilegais na feira trouxe também mais roubos e actos de vandalismo no espaço público: lixo acumulado e recantos que se transformaram em verdadeiras casas de banho a céu aberto.

“É mesmo uma situação desagradável e insuportável”, declarou o morador Francisco Oliveira. Já Maria Odete Pinto, que vive na Calçada das Carquejeiras, diz que sente “vergonha de morar ali”. “Isto que está a acontecer aqui já não é a feira da Vandoma, é venda ilegal de produtos”, disse, por sua vez, outro morador.

Para tentar devolver a qualidade de vida a estes cidadãos, a União de Freguesias do Centro Histórico quer passar a controlar o licenciamento da feira, actualmente sob a alçada da Câmara. Com estas receitas, vai garantir o policiamento pago durante às 12h e às 18h, alterando o horário da feira e apostando na fiscalização dos vendedores ilegais e dos produtos vendidos que deverão estar dentro do regulamento (apenas artigos usados).

Se este plano não resultar, “caberá à Câmara a decisão de retirar” a feira da Vandoma daquele local, afirmou António Fonseca, adiantando que caso a feira dali saia “não deve continuar no centro histórico”. Com a concretização deste cenário, a União de Freguesias compromete-se a ajudar na dinamização do espaço, que tem “muito potencial turístico”.

Para já, António Fonseca garantiu um reforço policial durante a feira deste sábado. O PÚBLICO tentou saber a posição da Câmara do Porto sobre a situação, mas não obteve resposta até agora.

Uma feira com história
Os problemas causados por vendas ilegais na feira da Vandoma não são novos. Em Dezembro de 2013, os moradores entregaram um abaixo-assinado à autarquia, referindo os transtornos e a violação de certos direitos. A Vandoma está na Alameda das Fontainhas desde a década de 1980, altura em que saiu da Sé. A feira surgiu nos anos 70 do século passado, através da iniciativa espontânea de estudantes que criaram um ponto de venda de livros, roupas e objectos usados.

 

 

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