Câmara do Porto não vai manter feira de artesanato do Natal na Praça D. João I

Artesãos contestam decisão e estão divididos quanto à possível realização do evento noutra praça, com menos participantes.

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Desde 2007, a feira, que antes se realizava no Mercado Ferreira Borges, passou a acontecer na Praça D. João I DR

A feira Artesanatus, que todos os anos junta 60 a 80 profissionais numa tenda na Praça D. João I, a partir do final de Novembro, vai ter de mudar de sítio, este Natal. A empresa municipal Porto Lazer já anunciou que pretende instalar ali uma pista de gelo, o que está a revoltar a Associação de Artesãos da Região Norte (AARN), que não se conforma com as localizações alternativas, as praças dos Poveiros ou da Batalha. Ali, avisam, cabem metade dos participantes habituais.

Apesar de ter enviado cartas em meados de Outubro, quando soube, pela imprensa, que uma pista de gelo vai ocupar a praça no Natal, a direcção da AARN ainda não conseguiu uma audiência com o presidente da câmara ou com o vereador da Cultura. Estes estiveram na segunda-feira à noite na Assembleia Municipal, mas saíram antes do período destinado ao público e não ouviram os artesãos colocar o problema aos deputados. No entanto, a questão voltou a ser levantada já esta terça-feira de manhã, na reunião de câmara, pelo vereador comunista Pedro Carvalho, e aí Rui Moreira deixou claro que não há volta a dar.

“Se está a pensar mudar o local da feira, pedia que reconsiderasse. É uma feira que dinamiza a cidade, já faz parte da marca do Porto”, defendeu Pedro Carvalho. Rui Moreira não se sensibilizou com os argumentos do comunista, garantindo que a feira não está em risco, apenas mudará de lugar. “A nossa intenção é organizarmos a feira de artesanato, mas pretendemos avaliar a exploração de novos territórios. Este é um evento que traz pessoas ao Porto e precisamos de tentar espalhar estes eventos-âncora pela cidade. Vamos dar todo o apoio, no sentido de fazer a promoção para que os públicos se espalhem, não podemos ter uma visão imobilista”, disse.

Esta posição foi corroborada pelo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, que afiançou: “queremos sair sistematicamente do eixo Aliados/Serralves. Toda a cidade é um palco e é para esta ideia que queremos trabalhar. Não queremos ficar confinados aos locais mais previsíveis.” Perante a pergunta do vereador do PSD Ricardo Almeida, sobre qual será a nova localização da feira, Rui Moreira garantiu que o município está a “a tratar” da questão. Ao PÚBLICO Hélder Coutinho, da AARN, adiantou que a Porto Lazer colocou como hipótese as praças dos Poveiros e da Batalha, mas, tanto numa como na outra, garante que ser-lhes-á impossível instalar a tenda que habitualmente usam, uma espécie de iglo transparente onde cabem quarenta artesãos.  

A feira costuma ter 60 a 80 profissionais certificados, que se desdobram em dois períodos. A vontade de participar é grande, tendo em conta a localização e o período do ano. Hélder Coutinho explica que há artesãos que ganham numas semanas no Porto o suficiente para aguentar os primeiros meses do ano seguinte, antes do reinício do circuito das feiras que se organizam por todo o país, na Primavera e Verão. “Diminuir a capacidade deste evento retira-lhe dimensão, importância. E prejudica muita gente”, argumenta, admitindo que os associados estão divididos sobre qual a atitude a tomar: realizar a Artesanaus, nos novos moldes, ou não a fazer, em protesto pela sua “desvalorização”.

A associação lembra que tem tido uma colaboração estreita com a cidade, e que ainda no ano passado prolongou o período de instalação da tenda na praça entre o Natal e o Ano Novo, custeando boa parte das despesas, como a do aluguer da mesma, para que ali se realizasse uma festa de fim-de-ano, organizada pela Porto Lazer e produzida por outra empresa. A estrutura chegou a ser danificada por pessoas que queriam entrar na festa, conta Hélder Coutinho, e “nem isso a empresa municipal pagou”. A associação esperava por isso outra atitude do município para com uma iniciativa que vêm realizando desde 1988.

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