Câmara de Lisboa garante recuperação do quiosque da Estrela na medida do possível

Presidente da Junta da Lapa continua "preocupado" com futuro do quiosque centenário, que tem servido de lixeira.

Foto
Quiosque tem servido de lixeira e de refúgio a um sem-abrigo Miguel Manso

O concurso para a reabilitação do quiosque da Estrela, no Jardim 5 de Outubro, em Lisboa, ainda não foi lançado mas a autarquia garante que o futuro concessionário terá de “recuperar o maior número de elementos possível”. A garantia não convence o presidente da Junta de Freguesia da Lapa, que se diz “preocupado” com o futuro do quiosque centenário.

O quiosque era propriedade privada e estava há cerca de 20 anos preso num processo de partilhas. Desde então, transformou-se num local imundo, usado como lixeira, onde um sem-abrigo procurava refúgio. Em Novembro do ano passado, a Câmara de Lisboa tomou posse administrativa do imóvel e prometeu lançar um concurso para a sua exploração. Até agora, porém, nada foi feito.

O presidente da Junta de Freguesia da Lapa, Nuno Ferro, foi recentemente informado pelo gabinete do vereador do Espaço Público, José Sá Fernandes, de que a câmara iria proceder “em breve à retirada temporária do quiosque”, com vista à “preservação dos elementos arquitectónicos de maior interesse”.

“Eles dizem que vão tentar recuperar o que for possível. Mas não dizem que o que não for possível recuperar, quem ganhar [o concurso] terá de colocar tal e qual como está”, critica Nuno Ferro.

Contactado pelo PÚBLICO, o assessor de imprensa do vereador confirmou que a câmara vai retirar o quiosque do local “por questões de segurança”. Apesar de ainda não ter sido definido o caderno de encargos para a reabilitação e exploração do imóvel, a autarquia garante que o objectivo “é manter a traça original” e que “será recuperado tudo o que for possível, para depois voltar a ser colocado no mesmo local”, à semelhança do que aconteceu com os quiosques do Largo de Camões, da Praça das Flores e do Príncipe Real. Não diz o que acontecerá com o que não for recuperável.

“É prematuro avançar com uma previsão” sobre quando poderá avançar esta intervenção, mas “vai decorrer o quanto antes”, afirma o assessor de José Sá Fernandes.

Nuno Ferro não se contenta com esta garantia verbal. “Sem um compromisso escrito de que vão repor o quiosque tal e qual como ele era, independentemente de ser com peças reconstruídas ou reparadas de novo, nunca mais voltará a ser como dantes”, considera.

Com 104 anos, o quiosque da Estrela é um exemplar único de Arte Nova na capital, construído em ferro forjado, com uma cobertura de zinco em forma de escamas, e elementos rendilhados. Está situado numa zona nobre da cidade: pode ser observado do emblemático eléctrico 28, que todos os anos transporta milhares de turistas, e fica ao lado da Basílica da Estrela, perto do Jardim da Estrela.

O primeiro alerta da Junta de Freguesia à Câmara data de Novembro de 2007. Nuno Ferro propunha a reabilitação do quiosque centenário ou a colocação de um novo, onde poderia ser vendida, por exemplo, a tradicional ginginha.

A Câmara não adianta pormenores sobre os moldes em que será explorado o quiosque. Diz apenas que estará em sintonia com a “estratégia” que o gabinete de Sá Fernandes tem seguido para recuperar e revitalizar os quiosques da cidade.

“Não percebo qual é a dificuldade em dizer o que vai acontecer com o quiosque. Se vai ser reposto na íntegra, se é a 5% ou a 50%, mas pelo menos a Câmara que diga”, remata Nuno Ferro.

Sugerir correcção
Comentar