Cais do Ginjal em Almada vedado após capotamento de um carro

Chão do paredão desabou e um veículo quase caiu ao rio, com um casal e um bebé no interior. Autoridades dizem que o perigo estava sinalizado.

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Carro ia a passar no paredão estreito quando o chão desabou Miguel Dantas/Arquivo
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Zona está degradada há várias décadas Miguel Dantas/Arquivo

O paredão do cais do Ginjal, em Cacilhas, Almada, foi vedado ao trânsito e aos peões depois de, no sábado, o chão ter desabado e um carro ter caído na margem do rio, com um casal e um bebé no interior.

A informação foi dada à Lusa pela Polícia Marítima, que esteve no local após o acidente, juntamente com a Capitania do Porto de Lisboa, a Administração do Porto de Lisboa e a Protecção Civil do Município de Almada.

"Vedámos totalmente o trajecto para impedir a passagem a viaturas e peões", disse à Lusa o Comandante Cruz Gomes, da Polícia Marítima, referindo-se ao paredão (um caminho estreito, onde só passa um carro de cada vez) que fica junto ao cais do Ginjal.

Ao início da tarde de sábado, um carro atravessava o paredão, quando o chão desabou. O veículo caiu e capotou, ficando pendurado junto à margem do rio, onde ainda se encontrava ao início da tarde de domingo por ter sido impossível retirá-lo. A iminente queda do carro dentro do rio pode constituir também um perigo para a navegação, o que levou as autoridades a "tomar medidas para que tal não aconteça", disse o comandante Cruz Gomes. A zona foi sinalizada e o carro foi preso com um cabo e uma bóia, para que fique à superfície e seguro, caso caia totalmente, acrescentou.

O condutor do carro acidentado, Nuno Caetano, contou à Lusa que tinha ido passear com a mulher e a filha a Cacilhas, zona que não conheciam, e procuravam um restaurante. "Estavam várias pessoas e carros na estrada junto ao paredão e, de repente, o chão desabou, o carro caiu e capotou. Os segundos que passaram, desde a queda do veículo até eu conseguir libertar o cinto de segurança e tirar a minha filha da cadeira, foram, sem dúvida, o pior momento da minha vida. Por um milagre, felizmente conseguimos sair do carro apenas com pequenos arranhões", contou.

Nuno Caetano diz que nenhuma das entidades presentes no local conseguiu retirar o carro: por terra, a Protecção Civil não autorizava que um reboque com grua se aproximasse, com receio de que pudesse desabar mais terreno, e por mar o Porto de Lisboa enviou um barco grua mas não conseguiu aproximar-se da costa, por o mar ser pouco profundo naquela zona e o chão ser de pedra.

O relato é confirmado pelo comandante Cruz Gomes, que adianta que só depois de o carro cair à água é que poderá ser puxado por um barco.

Nuno Caetano disse ter sido informado pela Protecção Civil da existência de um sinal de trânsito proibido no início da rua - uma informação confirmada ao PÚBLICO por uma fonte municipal -, mas garante que a única sinalética existente no local informava da proibição de estacionar e de que se tratava de uma rua sem saída. 

O homem reconhece que havia um gradeamento a vedar a passagem de carros naquele local mas garante que as grades apenas vedavam uma parte do paredão, "permitindo a passagem de veículos sem nenhuma sinalética, havendo inclusivamente um carro estacionado no final desta estrada", disse. Segundo a Polícia Marítima, a zona tinha de facto uma vedação a proibir a passagem de viaturas, mas que terá sido ignorada por este condutor.

Quanto à alegada inexistência de sinal a proibir o trânsito, o comandante Cruz Gomes explicou tratar-se de uma "zona onde passa muita gente e que está muito vandalizada", pelo que a sinalética que é lá colocada é sistematicamente retirada ou derrubada.

Além do perigo de desabamento de mais terreno, visto que existem mais buracos no paredão, há também indicação de perigo de derrocada dos edifícios e muros contíguos, pertencentes a uma antiga fábrica de conserva de peixe, a antiga Companhia Portuguesa de Pesca, que se encontra completamente abandonada e degradada.

Em 2011, a Câmara de Almada apresentou o estudo prévio do plano de pormenor para aquela zona, que prevê a requalificação do espaço público, bem como a construção de complexos habitacionais e de um mercado. No entanto, o terreno e as construções existentes são propriedade privada e a concretização do plano de pormenor depende da iniciativa deste privado, que será um empresário madeirense.

Ao todo, a área a intervencionar tem 84.430 metros quadrados. O Cais do Ginjal é uma zona com vista privilegiada para Lisboa, mas enfrenta o fantasma da degradação há décadas.

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