BE diz que Câmara de Lisboa olha equipamentos desportivos como “cifrões”

A concessão a privados das piscinas municipais e de vários espaços em Monsanto foi criticada pelo deputado Ricardo Robles. O executivo camarário respondeu que de outra forma não conseguiria fazer os investimentos necessários.

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O caderno de encargos diz que os campos de básquete do Moinho do Pendo darão lugar a uma tenda João Silva

A Câmara de Lisboa “desistiu” dos seus equipamentos desportivos, encarando-os meramente como “cifrões”. A acusação é do Bloco de Esquerda, que critica a “visão facilitista” revelada pelo município ao entregar a privados as piscinas dos Olivais, Areeiro e Campo Pequeno, mas também três campos de basquetebol no Moinho do Penedo, em Monsanto.

Lembrando “o processo longo, conturbado, turbulento” daquelas três piscinas, o deputado municipal Ricardo Robles disse lamentar a “política de desistência” que em seu entender tem sido seguida pelo actual executivo municipal. “A câmara vê cifrões em equipamentos que podem ser usufruídos pelos lisboetas”, afirmou, acrescentando ao rol de espaços que o município devia gerir de outra forma as piscinas da Penha de França e Baptista Pereira.

O deputado bloquista, que falava numa sessão da Assembleia Municipal de Lisboa, estendeu depois as suas críticas à concessão pela câmara de vários espaços e edifícios no Parque Florestal de Monsanto, para a instalação por um privado de equipamentos hoteleiros e de restauração. Uma situação que foi noticiada esta terça-feira pelo PÚBLICO, e que tanto quanto é possível perceber implicará a inutilização de três campos de basquetebol diariamente procurados por numerosos praticantes da modalidade.

Ricardo Robles manifestou-se contra aquilo que considerou ser “um apetite voraz” por Monsanto, que “ciclicamente é retalhado” e defendeu que está em causa “um negócio que não protege os interesses da cidade nem dos lisboetas”. Com ele, afirmou o deputado do BE, “a câmara volta a desistir do seu património, equipamentos e espaços”, promovendo “uma concessão a privados com condições inaceitáveis”.

Com vista à obtenção de esclarecimentos pela câmara sobre esse “péssimo negócio”, nomeadamente pelos valores “manifestamente residuais” que a empresa MCO II terá que pagar a título de renda mensal, Ricardo Robles entregou esta terça-feira um requerimento. Nele, o autarca solicita que lhe sejam entregues o caderno de encargos e todas as peças do concurso, a minuta do contrato de concessão e o calendário previsto para a sua concretização.

Em defesa desta concessão saiu o vereador da Estrutura Verde, que considerou que este “é um bom negócio para a câmara” e “uma mais-valia para Monsanto”. José Sá Fernandes destacou que esta operação vai permitir “a recuperação integral da Quinta da Pimenteira, que tem um edifício que está em ruínas há anos, incluindo do viveiro, que continua na posse da câmara”, bem como a recuperação da Casa do Presidente e do moinho projectado por Keil do Amaral.

“É um investimento que dificilmente conseguiríamos fazer”, referiu o vereador, sublinhando que ao fim de 25 anos “o património pode regressar à câmara”. O caderno de encargos do concurso diz, no entanto, que esse prazo é prorrogável por períodos de cinco anos até ao máximo de trinta. Sá Fernandes defendeu ainda que com esta concessão, Monsanto passará a ter, “finalmente”, “eco-turismo”.

Também no caso das piscinas dos Olivais, Areeiro e Campo Pequeno, o vereador do Desporto argumentou que o investimento em causa, na ordem dos 21,5 milhões de euros, dificilmente poderia ser concretizado pela autarquia. Jorge Máximo defendeu ainda que com os projectos que estão em vias de concretização se está “a criar uma oferta que vai ao encontro das expectativas das pessoas”.

Como prova disso mesmo, o autarca referiu que as inscrições já realizadas na antiga piscina dos Olivais, cuja inauguração oficial acontece no sábado, representam “70% da capacidade máxima” desse equipamento, agora transformado num centro desportivo. “Os preços praticados são muito competitivos”, acrescentou Jorge Máximo, que nada disse sobre o estado das obras na antiga piscina do Campo Pequeno.

Nesta sessão da assembleia municipal ficou a saber-se que sábado será também o dia de inauguração da ponte ciclopedonal sobre a Segunda Circular, entre Telheiras e as Torres de Lisboa, que abriu ao público há menos de duas semanas. “As inaugurações são para os políticos, a gente tem é de fazer obra”, afirmou na altura Sá Fernandes. Mas esta terça-feira, o autarca adoptou uma postura diferente: “eu que não sou muito dado a inaugurações faço questão de estar presente nesta”, disse, sustentando que a ponte paga pela Galp e pela autarquia “é uma obra de extrema importância”.

 Sá Fernandes até encontrou uma explicação para o facto de a inauguração da ponte ter sido marcada para o dia dos namorados: esta obra, afirmou, “é um namoro que se concretiza entre as duas margens” da Segunda Circular. 

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