Autarcas fazem atendimento de doentes à porta do serviço de Urgências de Loulé

A falta de médicos levou, mais uma vez, ao encerramento do Serviço de Urgência Básica. A Administração Regional de Saúde (ARS) garante que nesta quinta-feira já haverá clínicos, mas não é uma solução definitiva.

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Filipe Farinha

Uma secretária e uma sombrinha de esplanada à porta do Serviço de Urgência Básica (SUB) de Loulé. Sentados lado a lado, os presidentes das câmaras de Loulé e São Brás de Alportel, Vítor Aleixo e Vítor Guerreiro, assinavam despachos, via internet, e ouviam reclamações dos utentes do Serviço Nacional de Saúde. Os dois autarcas, ambos do PS, decidiram criar o “gabinete” presidencial na rua dando eco às reclamações dos cidadãos em protesto conta a falta de médicos, enfermeiros e material naquela unidade de saúde que serve os dois concelhos. “Para situações extremas, respostas equivalentes e à altura”, disse Aleixo, justificando o inédita iniciativa.

Desde há alguns meses, o Serviço de Urgências encerra de quando em vez por falta de clínicos. O Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, em comunicado emitido nesta quarta-feira, veio colocar-se ao lado das populações dos dois concelhos, considerando “absurdas” as medidas tomadas pelo Ministério da Saúde em relação à contratação de profissionais. A estrutura representativa dos clínicos alertou para o risco iminente da situação se vir a agravar em Loulé já que alguns médicos estrangeiros que ali prestam serviço têm oferta de melhores condições em Espanha.

Nesta quarta-feira, como já se tornou habitual, a Urgência encerrou por falta de médicos. A meio da manhã, o buraco da escala de serviço foi preenchido, abrindo outra brecha no sistema de saúde: Os dois médicos do Centro de Saúde, que funciona no mesmo edifício, cancelaram a marcação das consultas agendadas para puderem ir socorrer os doentes das Urgências.  

Licéria Silva chegou ao SUB de Loulé cerca das 9h30. “Não há médico”, foi a resposta que obteve, acompanhada da sugestão de que o melhor seria dirigir-se ao Hosital de Faro (HF). Ora, sabendo o estado em que se encontra o HF, não arriscou. Deu meia volta e tentou consulta no Centro de Saúde. Ao fim de algum tempo de espera, informaram: “Pode ir às Urgências, porque o médico que aqui está vai para lá”. Não queria acreditar neste ping-pong. “Andam a brincar com as pessoas”, comentou.

O presidente da câmara de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, não poupa críticas: “É inadmissível o que se está a passar com a  saúde, no Algarve”. E não é só a falta de médicos e enfermeiros. “Hoje [ontem] não existe um único auxiliar no Serviço de Urgência Básica (SUB) de Albufeira, o que coloca em causa a saúde dos próprios profissionais – não há higienização dos materiais”, denunciou.

São Brás de Alportel é um concelho com um alto índice de população idosa, a receber reformas de valor insignifcante. “Não é aceitável que as pessoas paguem táxi para vir a Loulé - chegam aqui, deparam-se com uma situação de falta de médico e são obrigadas e pagar, de novo, táxi para se deslocarem ao Hospital de Faro”.

O facto de se aproximar a época de Verão agrava os problemas que se fazem sentir ao longo do ano. Os dois clínicos que estavam de escala nas Urgência de Loulé não compareceram, o que acontece pela terceira vez nos últimos anos. Ao receber a informação, Vítor Aleixo não se conteve. Em vez de ficar no gabinete da câmara, decidiu ir tomar conhecimento directo do que se passava e ouvir as pessoas. Meia hora depois, chegou o colega de São Brás de Alportel, Vitor Guerreiro, seguindo o mesmo exemplo. Na rua, os utentes que se saíam das Urgências, indignados pela falta de atendimento, encontravam ali, junto do poder local, o eco de revolta.

Amarílio Marcos, diabético a necessitar de acompanhamento médico regular, lamenta a sua sorte. Dirigiu-se ao Centro de Saúde para marcar uma consulta, que deveria ter tido lugar em Março ou Abril. “O médico cubano, que me assistia foi-se embora. Agora, a consulta que estava marcada para Julho foi desmarcada, porque o novo médico vai de férias”, contou.

O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Moura Reis, em declarações ao PÚBLICO, garantiu que a partir desta quinta-feira estará resolvido o problema. “Mudámos de empresa [de contratação de médicos] e foi assegurado o serviço”, disse. Porém, este responsável reconhece que a situação, em definitivo, só estará ultrapassada “com a contratação de mais médicos”. O Ministério de Saúde abriu concurso público para o preenchimento de 200 vagas de climicos de medicina geral e familiar, das quais 82 são no Algarve. Não é plausível que sejam todas preenchidas. O Hospital de Faro, nos sucessivos concursos que lançou para atrair médicos especialistas, ficou com a maioria dos lugares vazios.  

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