Assembleia Municipal repudia violência no Marquês mas recusa crítica à PSP

Helena Roseta acusou o BE de pretender dar a sentença antes do julgamento.

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Celebrações do Benfica no Marquês de Pombal, no domingo passado, acabaram mal Miguel Manso

A Assembleia Municipal de Lisboa (AML) decidiu, por unanimidade, “repudiar todos os actos de violência e vandalismo” ocorridos durante a celebração da conquista do bicampeonato pelo Benfica. O Bloco de Esquerda (BE) propôs que se repudiasse também “a actuação violenta e despropositada das polícias envolvidas neste acontecimento”, mas a maioria dos deputados recusou fazê-lo.

Tinha cinco pontos o “voto de repúdio contra a violência policial” apresentado esta terça-feira pelo BE, mas só aquele que propunha que se repudiassem “todos os actos de violência e vandalismo” foi aprovado. Os restantes foram chumbados, com críticas do PS, dos independentes dos Cidadãos por Lisboa e do CDS, tanto ao conteúdo do voto como ao momento em que foi apresentado.

Nele sugeria-se que os deputados municipais declarassem a sua solidariedade para com “os cidadãos e cidadãs” que “foram alvo de violência e atropelo de direitos” nas celebrações do Benfica que decorreram no Marquês de Pombal, em Lisboa, no passado dia 17 de Maio. E também que se exigisse “o cabal apuramento de responsabilidades políticas do comando e da tutela, bem como criminal dos agentes individualmente envolvidos em violência gratuita contra cidadãos e cidadãs indefesos”. 

“Este voto dá, pelo modo como está redigido, a sentença antes do julgamento”, reagiu a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, que interveio na qualidade de deputada. Para ilustrar a situação, Helena Roseta evocou a personagem da Rainha de Copas, da obra Alice no País das Maravilhas, que defende que primeiro se corte a cabeça de Alice e só depois se faça o seu julgamento.

A esta comparação, o bloquista Ricardo Robles respondeu defendendo que a AML não pode comportar-se como Humpty Dumpty, outra personagem do livro de Lewis Carroll, que “tem sempre medo de tomar uma posição. “Podemos sentar-nos em cima do muro e fazer de ovo ou podemos tomar uma posição sobre o que se passou”, afirmou, negando que o seu partido quisesse “aplicar uma sentença antes de haver um apuramento de responsabilidades”.

Para sublinhar a necessidade dessa tomada de posição, Ricardo Robles lembrou que no Marquês de Pombal houve, por parte de alguns elementos da PSP, “atitudes racistas, obscenas, de violência gratuita” e até agentes “a atirar garrafas aos adeptos”. “Alguns polícias comportaram-se como energúmenos, com farda e algum equipamento”, disse, usando a mesma palavra para referir-se aos adeptos que também praticaram actos de violência.

Para o CDS, o voto do BE não só é “prematuro”, como é “demagógico, hipócrita e pouco democrático” Ferreira de Lemos classificou os incidentes ocorridos como “muito tristes e lamentáveis”, mas acrescentou que “nada justifica julgamentos na praça pública”. 

“Confundir a árvore com a floresta é um erro grave”, afirmou por sua vez o socialista Miguel Coelho, lembrando que “a PSP é um pilar do Estado de direito democrático” e que “em todas as instituições há comportamentos incorrectos”. Pelo PSD, Victor Gonçalves lamentou que aquela que era para ter sido “uma festa linda” se tenha transformado “numa vergonha”, sublinhando que isto “não pode voltar a acontecer”.

Por unanimidade, a AML aprovou uma recomendação relativa às Comissões de Protecção de Crianças e Jovens do concelho. Nela defende-se a realização pela Câmara de Lisboa de uma análise ao modelo de funcionamento dessas quatro entidades, bem como a verificação da qualidade, adequação e segurança das instalações a elas atribuídas, “de forma a garantir a equidade e igualdade das condições de tratamento” entre todas.

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