Artesão mirandês preserva arte da construção de palhetas para gaita-de-foles

Começou como um passatempo e acabou por se tornar na sua profissão.

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Nelson Garrido

Um artesão mirandês é o único construtor de palhetas e "palhões" no país destinadas em "exclusivo" às gaitas-de-foles de origem peninsular e pretende preservar este legado ancestral que considera a "alma do instrumento".

Henrique Fernandes disse à agência Lusa que no início a construção de palhetas para gaita-de-foles era um passatempo. Mas depressa se transformou num desafio, acrecentou.
 
"Actualmente, dedico-me com mais afinco ao estudo e fabrico destes artefactos musicais e, para o efeito, recorro ao conhecimento de velhos gaiteiros do Planalto Mirandês, Minho, Estremadura e, claro, da vizinha Espanha, já que a procura é constante por parte dos músicos", explicou o também gaiteiro.
 
Longe vão os tempos em que os gaiteiros tradicionais utilizavam cana cortada junto aos cursos de água da região e procuravam pequenos tubos de metal para construirem as suas próprias palhetas e "palhões". "Agora, o processo requer estudo e novos materiais elaborados com rigor", frisou.
 
O também gaiteiro quer mostrar todo o processo de construção das peças únicas, que são fabricadas numa pequena oficina situada em Sendim, no concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança.
 
"Uma boa palheta é fundamental para se conseguir um som mais genuíno. Por esse motivo, é preciso escolher os materiais e aplicar técnicas que permitam respeitar a tradição e integridade do instrumento", destacou.
 
Por semana, o artesão chega a construir algumas dezenas de palhetas. Porém, a sua procura é crescente e o "stock" depressa se esgota, tudo porque os instrumentistas aparecem um pouco de todo o país e da vizinha Espanha.
 
"A palheta vai-se degradando com o tempo e, por isso, cada tocador tem obrigatoriamente de ter as suas reservas", observou o artesão e instrumentista.No entanto, com o processo de padronização da gaita de fole na região da "Terra de Miranda" e o consequente número crescente de tocadores levam a uma maior procura de materiais nobres para o fabrico dos instrumentos.
 
Neste sentido, Henrique Fernandes apresenta, no sábado, no discurso do Festival Intercéltico de Sendim, o primeiro livro dedicado ao processo de fabrico destas peculiares peças sob o título "A Alma da Gaita-de-Foles Mirandesa - Palhetas e Palhões".
 
"A alma da gaita-de-foles mirandesa é o deixar presente e registado todo o processo para construção, manutenção e informação da palheta e do "palhão", "artefactos nobres" e os quais dão vida e beleza à gaita-de-foles", enfatizou o autor.
 
O instrumentista e artesão, concluiu afirmando, que a gaita-de-foles existe há muitos anos e está para durar e ficar, acrescentando que o livro será um contributo para "a memória do presente e para serventia do futuro".
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