Arqueólogos acusam EDP de comprometer registo dos achados paleolíticos em Sever do Vouga

Associação dos Arqueólogos Portugueses critica demora no reforço das equipas responsáveis pela escavação dos vestígios encontrados durante a construção da barragem de Ribeiradio/Ermida.

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Sérgio Azenha
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A Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP) acusa a EDP de usar “manobras dilatórias” para atrasar as escavações dos achados paleolíticos encontrados durante as obras da barragem de Ribeiradio/Ermida, em Sever do Vouga. A associação critica a empresa pela demora no reforço das equipas de arqueólogos no local, o que poderá comprometer o registo dos vestígios antes da submersão, que está para breve.

“Inquieta-nos o facto de a EDP e a Direcção-geral do Património Cultural [DGPC] já terem sido alertados para esta situação em fins de Junho através de um parecer de João Zilhão [ex-presidente do Instituto Português de Arqueologia], e até agora nada tenham feito”, afirma o presidente da AAP, José Morais Arnaud.

Em causa estão vestígios “excepcionais” - como fundos de cabana e artefactos de pedra - encontrados em duas jazidas (cada uma com 3.000 a 5.000 metros quadrados), no Rôdo e no Vau, situadas nas margens dos rios Vouga e Teixeira. Num parecer emitido em Junho por João Zilhão e por Thierry Jean Aubry, do Parque Arqueológico do Vale do Côa, estes dois especialistas em pré-história recomendavam a escavação integral das jazidas para permitir a conservação pelo registo, mesmo que para isso fosse necessário adiar o enchimento da barragem durante “algumas semanas ou meses”.

O projecto prevê a submersão integral do sítio do Rôdo até meados de Setembro e do sítio do Vau a partir de meados de Outubro. Em resposta ao PÚBLICO no início de Agosto, a EDP pôs de lado a hipótese de suspender as obras. “Os achados encontram-se a montante da barragem, pelo que é humanamente impossível evitar o seu alagamento quando os caudais do rio [Vouga] atingirem os níveis que se conheceram nos últimos invernos”, afirmou fonte oficial da empresa.

No entanto, a dona da obra garantiu estar a “colaborar na obtenção do máximo de informação e recolha de vestígios, no limite dos prazos possíveis”, e comprometeu-se a reforçar as equipas de arqueólogos no terreno. Mas pelo menos até à semana passada isso não aconteceu, o que levou a própria DGPC a manifestar a sua preocupação pelo atraso.

Nesta segunda-feira, a EDP assegurou, em resposta escrita ao PÚBLICO, que está "a fazer todos os esforços para garantir que os estudos adicionais serão realizados antes do enchimento da albufeira". Sublinhando que "reduziu de meses para apenas duas semanas" o tempo necessário para avançar com o reforço de equipas, a empresa diz que "acabou de ser concluído" o processo que permite a extensão de contratos com as duas empresas de arqueologia "já a trabalhar no terreno".

A duração da escavação depende de vários factores, como a dimensão da equipa ou as condições atmosféricas. “Seja como for, será sempre um trabalho para durar vários meses”, diz José Morais Arnaud. “O que nos preocupa é que já se perderam dois preciosos meses sem que tenha havido reforço das equipas no terreno”, acrescenta.

“Estas manobras dilatórias são lamentáveis”, continua o presidente da AAP. Arnaud enviou na semana passada ofícios às várias instituições ligadas ao processo, como a DGPC, a Agência Portuguesa do Ambiente e a EDP, “alertando para a necessidade de cumprir a Declaração de Impacto Ambiental, o que parece não estar a acontecer”.

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