Arguido dos vistos dourados está ligado à multinacional em que Sócrates trabalha

Um sócio de Marques Mendes envolvido no caso dos vistos dourados tem numerosas laços com a Octapharma e também é sócio de um genro de Almeida Santos.

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Prédio da Rua da Graça 14 onde têm sede várais empresas ligadas à Octapharma DR

Um dos arguidos no processo dos vistos dourados que esta semana abalou o país tem estreitas ligações à empresa farmacêutica para a qual José Sócrates trabalha desde o ano passado.

Jaime Couto Alves integrou há alguns anos os quadros da Octapharma Brasil, uma filial da multinacional suiça de que o ex-primeiro ministro é agora consultor. Além disso é administrador de um empresa farmacêutica que faz parte de um grupo controlado por Joaquim Paulo Lalanda e Castro, que dirige a Octapharma em Portugal.

O empresário, que é conhecido apenas como Paulo Castro e é o responsável pela área de marketing na empresa mãe do grupo Octapharma — a Octapharma AG com sede na Suiça —, chegou a ser apontado como um dos três detidos no âmbito do processo que levou Sócrates à prisão, mas a sua detenção não se confirmou. Para lá das várias empresas farmacêuticas a que está ligado, Paulo Castro é o administrador único da imobiliária Convida. 

Esta sociedade anónima, detida a 100% pela Ruby Capital Corporation, uma offshore baseada nas Ilhas Virgens Britânicas cujos proprietários não são conhecidos, tem sede num edifício anexo a um condomínio privado situado na Rua da Graça 14, em Lisboa, e é proprietária, há vários anos, de um apartamento no edifício Heron Castilho, no qual José Sócrates e a mãe também compraram casa em 1998. 

O apartamento da Convida está arrendado desde 2004 a Luís Cunha Ribeiro, presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, uma entidade, como outras pelas quais o médico passou, que se encontra entre os grandes clientes da Octapharma, sobretudo nas suas vendas de plasma e outros produtos derivados do sangue. 

A contratação de Sócrates, por indicação de Paulo Castro, como presidente do Conselho Consultivo desta multinacional para a América Latina, surgiu numa altura em que a sua filial brasileira estava a ser investigada por alegadas fraudes no âmbito do chamado processo dos “Vampiros do Sangue”.

Entre os envolvidos neste caso, que tem a ver com a venda de derivados de sangue aos serviços de saúde brasileiros, encontra-se precisamente Paulo Castro, em nome do qual o juiz da 13ª Vara Federal Criminal, de Brasília, mandou passar, em Junho do ano passado, uma carta rogatória para o mesmo ser ouvido em Portugal.

Paulo Castro é também gerente da Xcellentis, uma empresa de publicidade igualmente sediada na Rua da Graça 14, cujo capital pertence em 99,8% à Pars - uma sociedade anónima que comercializa produtos farmacêuticos e tem Jaime Couto Alves como administrador único. Os restantes 0,2% são detidos pelo médico Luis Barros Figueiredo, que é sócio de Jaime Couto Alves numa outra empresa.

A Xcellentis, por sua vez, é dona, em sociedade com o médico Nelson Sousa Pereira, que detém uma pequena quota, da Intelligente Life Solutions, uma outra firma especializada na comercialização de material da área da saúde e sedeada no Porto. Esta empresa tem como gerentes Paulo Castro e Nelson Sousa Pereira e as suas vendas atingiram no ano passado o montante de 3,3 milhões de euros.

Na Rua da Graça 14 funciona igualmente a Dynamicaspharma, uma farmacêutica de que é administrador único Paulo Castro e que é propriedade da Ruby Capital Corporation, a dona da imobiliária Convida.

Além das suas ligações à Octapahrma e à Pars, Jaime Couto Alves é sócio de Ana Luisa Figueiredo e de Luis Marques Mendes na consultora JMF, da qual o ex-ministro Miguel Macedo também foi sócio até entrar para o Governo. Ana Luisa Figueredo é filha de António Figueiredo, o ex-director do Instituto de Registos e Notariado e principal suspeito no caso dos vistos dourados. Tal como Jaime Couto Alves, foi detida na semana passada e é arguida nesse processo.

Jaime Couto Alves, que foi também sócio de Luis Marques Mendes na Gironnapp, uma firma de Fafe que comercializa fraldas descartáveis, partilha com João Miguel Silveira Botelho, antigo dirigente nacional do PSD e administrador da Fundação Champallimaud, e com o médico Manuel Dias de Magalhães, as quotas da Ecosíntese - uma prestadora de serviços da área da saúde actualmente sem actividade. 

O mesmo empresário é ainda sócio de Manuel Dias de Magalhães na consultora MPM, que contrata médicos para trabalharem no Serviço Nacional de Saúde. Manuel Dias de Magalhães é um conhecido cardiologista que é director clínico do Hospital da Cruz Vermelha e é genro de Almeida Santos, antigo presidente do Partido Socialista.

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