Área Metropolitana quer um Douro que não seja apenas para os turistas

Estratégia metropolitana de valorização do rio tem seis projectos-bandeira para melhorar a relação dos cidadãos com o Douro.

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O grupo de trabalho para o Douro propõe a aposta nas ligações fluviais entre margens e ao longo de vários concelhos Fernando Veludo/Nfactos

A primeira fase de actividade do grupo de trabalho criado pela Área Metropolitana do Porto para definir um programa intermunicipal de Valorização do Douro permitiu sinalizar seis projectos-bandeira, considerados essenciais para uma mudança da relação dos habitantes da região com o rio. Este tem tido uma utilização cada vez mais turística, mas o grupo coordenado pelo geógrafo Rio Fernandes, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, defende por exemplo o incremento das ligações fluviais regulares para (re)aproveitamento de um canal de circulação que já foi uma via de comunicação importante entre os municípios ribeirinhos.

O Programa Intermunicipal de Valorização do Douro é mais um sinal de um ambiente de cooperação intermunicipal que tem permitido, na Área Metropolitana do Porto, a articulação de projectos entre parceiros que, no passado, pouco cooperavam. Isso mesmo foi elogiado pelos autarcas de Gondomar, Santa Maria da Feira, Gaia e Porto, e pelo presidente da AMP, Hermínio Loureiro, na apresentação das conclusões dos primeiros meses de trabalho deste grupo. Rui Moreira lembrou o caso da Estrada da Circunvalação, em que uma metodologia semelhante levou à definição de um projecto concertado entre aos municípios que a via atravessa, e Loureiro acrescentou-lhe o projecto das Serras da AMP, que envolve Valongo, Gondomar e Paredes, como exemplo de um tempo novo no organismo que dirige.

Foi neste mesmo clima que representantes das autarquias – técnicos e políticos – de empresas e outras organizações ligadas ao rio fizeram, ao longo de meses, uma reflexão sobre o Douro que têm, o Douro que desejariam, e o que pode ser feito para lá chegar. Percebeu-se, explicou Rio Fernandes, que apesar de grandes investimentos em zonas ribeirinhas, a insatisfação com as dificuldades de fruição do espelho de água e das margens é grande (seja pela insegurança, o ruído, a acessibilidade ou a qualidade da água). Percebeu-se também que há uma grande apetência por iniciativas que resolvam estas questões e que articulem as ofertas de equipamentos e serviços existentes nos vários concelhos. E percebeu-se, finalmente, que há projectos na calha que podem ajudar a atingir estes cenários.

Olhando para as dezenas de investimentos referenciados pelos próprios municípios abrangidos – que elencaram também iniciativas privadas – o grupo chegou a um sexteto de bandeiras que têm, acreditam, o efeito de mudar a percepção dos cidadãos sobre um rio hoje muito entregue aos turistas e a quem os serve. Uma dessas bandeiras é o aumento das travessias fluviais (há apenas duas regulares, por agora), que aproveitem o rio como via de comunicação que já foi, e pode ainda ser. Neste sentido, está para arrancar uma nova ligação entre as ribeiras do Porto e Gaia e está também a ser estuda a viabilidade de um “autocarro” fluvial, conectando vários pontos do território, aproveitando, ou reabilitando, as estruturas de atracagem existentes.

A Câmara de Gondomar está apostada em ampliar a capacidade do cais da Lixa/Covelo, na margem direita do rio Douro, já na albufei­ra de Crestuma-Lever, para permitir a acostagem de embarcações marítimo-turísticas e de recreio. Elogiado por Rui Moreira e pelo vice-presidente da Câmara de Gaia, Patrocínio de Azevedo, este projecto é importante para o concelho onde se realizará o investimento, que pode ganhar algum fluxo de turistas e outros rendimentos provenientes da logística desta actividade, mas pode ter um efeito benéfico na paisagem das zonas históricas de Gaia e Porto, retirando-lhes a “muralha” de barcos-hotéis “estacionados”, principalmente na época baixa dos cruzeiros. E, por isso, este cais é também sinalizado como prioridade neste programa para o Douro.  

O Douro é um rio de pontes e outras das bandeiras deste trabalho é a concretização das obras de alargamento do tabuleiro inferior da Ponte Luís I, que o Porto e Gaia têm já acordadas com a empresa Infra-estruturas de Portugal, e que são essenciais para resolver um problema recente, o congestionamento na circulação pedonal entre margens. A montante, os mesmos municípios insistem no projecto de transformação de devoluta Ponte Maria Pia em via ciclável e pedonal, articulável com os projectos de intervenção nas encostas em curso em Gaia e projectados para o Porto.   

Nestas seis bandeiras foram incluídos dois equipamentos mais ligados à museologia ou à interpretação do território. Um deles passa pela valorização do Laboratório Eng.º Ed­gar Cardoso, em Quebrantões (Vila Nova de Gaia), como Museu das Pontes. Segundo a equipa, “Decorrem neste momento iniciativas tendentes à definição de um programa para o equipamento, envol­vendo a FEUP. Em Gondomar está a ser estudada uma possível localização para uma Casa da Memória do Rio Douro, que fixe a história das múltiplas vivências associadas a este curso de água que, nas últimas décadas, foi sendo alterado pela construção de várias barragens e pela explosão, mais recente das viagens turísticas, que ocuparam o lugar do tráfego de mercadorias.

O trabalho desenvolvido permitiu identificar projectos em curso ou planeados a nível municipal – Gaia, por exemplo, pretende investir 15 milhões ao longo das encostas e margens do Douro – evitando redundâncias e, permitindo, por outro lado, uma melhorar articulação, essencial no caso dos projectos de mobilidade, por exemplo. Rio Fernandes acredita que este esforço de estudo e concertação deveria dar origem ao primeiro Programa Inter-Municipal de Ordenamento do Território (PIMOT) do país, abrangendo estes municípios ribeirinhos. E pediu a Hermínio Loureiro o apoio da Área Metropolitana para esse objectivo.

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